União Africana espera que resultados eleitorais "correspondam à verdade dos votos"
Observadores regionais dizem que as eleições na República Democrática do Congo correram "relativamente bem", mas congressista dos EUA considera que a votação “não foi nem livre mem democrática”.
Organizadas com dois anos de atraso, as eleições de domingo na República Democrática do Congo (RDC) permitiram “que a maioria da população congolesa exercitasse o seu direito de voto”, considera a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) num comunicado. Para esta organização, “os desafios eram tantos” que “as eleições foram relativamente bem geridas”.
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Organizadas com dois anos de atraso, as eleições de domingo na República Democrática do Congo (RDC) permitiram “que a maioria da população congolesa exercitasse o seu direito de voto”, considera a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) num comunicado. Para esta organização, “os desafios eram tantos” que “as eleições foram relativamente bem geridas”.
Os observadores não comentam a falta de acesso à Internet nas principais cidades da República Democrática do Congo (RDC) desde segunda-feira – o Governo justifica este bloqueio com a necessidade de evitar que se espalhem resultados não oficiais, até que sejam divulgados os resultados finais, na data prevista, 6 de Janeiro.
A campanha do opositor Martin Fayuku, no entanto, acusa as autoridades de quererem esconder a sua “vitória esmagadora” nas eleições. Não é a primeira vez que o Presidente Joseph Kabila corta o acesso à Internet, em momentos de tensão e protestos.
Os responsáveis pelas missões diplomáticas em Kinshasa da União Europeia, dos Estados Unidos, do Canadá e da Suíça emitiram uma declaração conjunta apelando ao restabelecimento da Internet, noticia a BBC. A enviada da Rádio France International foi entretanto proibida de trabalhar na RDC, porque as autoridades congolesas a acusaram de estar a divulgar resultados parciais das eleições.
As autoridades da RDC não permitiram à União Europeia enviar observadores nem acreditaram os enviados do Centro Carter, dos Estados Unidos – ambos consideraram que houve irregularidades generalizadas nas eleições de 2011.
Tanto essas como as anteriores, em 2006, viram os resultados contestados pela oposição ao Governo de Joseph Kabila e desencadearam protestos violentos: teme-se que uma nova disputa de resultados possa desestabilizar as voláteis fronteiras do país com o Ruanda, o Uganda e o Burundi, onde há dezenas de milícias activas.
Por agora, não há resultados e a contagem só deverá acabar no dia 6. Sabe-se apenas que, nas contas da SADC, 59% dos centros de votos abriram a tempo, que o policiamento das urnas foi profissional e que a contagem está a decorrer de forma transparente no maior país da África Subsariana, com 80 milhões de habitantes (último censo oficial é de 1984).
Uma primeira vitória
Já para a União Africana, o dia da votação foi pacífico ainda que perturbado por uma série de problemas logísticos, diz outro comunicado,
“A realização destas eleições constitui, em si mesmo, uma primeira grande vitória para os congoleses”, diz a UA. “A missão deseja fortemente que os resultados que sejam declarados correspondam à verdade dos votos do povo congolês.”
Os Estados Unidos manifestaram ao longo dos últimos meses a sua preocupação com as máquinas de voto electrónico usadas nestas eleições, que Washington considerou representarem “um risco colossal”.
De acordo com o presidente do Comité dos Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes, o republicano Ed Royce, um milhão de eleitores viu-se impedido de votar em “bastiões da oposição”, sem mencionar as cidades de Butembo e Beni, na província de Bukavu, onde a eleição foi anulada. Conflitos entre facções, problemas logísticos e o surto de ébola explicam grande parte das dificuldades que muitos tiveram para votar.
Royce garante que as máquinas não funcionaram bem e que houve gente a passar horas em filas sem que estivesse disponível material de voto suficiente. Independentemente do que aconteceu no domingo, o congressista recorda que as forças de segurança passaram os dois últimos anos a reprimir jornalistas e activistas democráticos, matando dezenas e prendendo centenas. Para Royce, o escrutínio não é “nem livre nem democrático”.
Estas eleições eram esperadas como a primeira transferência democrática de poder em 59 anos de independência no país. Kabila deveria ter deixado o poder em 2016, quando chegou ao fim o seu mandato oficial. Agora, deverá ceder a presidência ao vencedor no dia 18 de Janeiro. Mas deverá continuar a exercer influência no poder.
Entre 21 candidatos, sondagens pré-eleitorais mostravam o favorito de Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, ex-ministro do Interior, atrás dos dois principais opositores: Felix Tshisekedi, presidente do maior partido da oposição, a União para a Democracia e o Progresso Social, e Fayulu, empresário que já foi administrador na Exxon Mobil.