Em duas aldeias de Góis, tem de se ir à janela para falar ao telefone

Mais de um ano depois dos incêndios, as linhas de cobre dos telefones fixos não foram repostas e populações queixam-se da qualidade do serviço.

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“É o isolamento”, resume Carlos Alberto Almeida, morador de 79 anos de Ádela, no concelho de Góis, em Coimbra, com um sorriso amargo. Depois dos incêndios de Outubro de 2017, a situação piorou. Na pequena povoação onde restam cerca de 10 habitantes e chegaram a arder casas, o corte nas telecomunicações prolongou-se por meses. O mesmo aconteceu com a vizinha aldeia do Açôr. A rede móvel regressou em Setembro. Até hoje, os cabos da rede fixa não chegaram a ser repostos. “Isto nunca foi bom, mesmo antes dos incêndios”, recorda Amílcar Almeida, residente no Açôr. A Altice, a operadora com clientes da rede fixa nas duas aldeias, ofereceu duas alternativas: telefones por satélite ou um telefone que, mantendo o número fixo, funciona com cartão, tal como os telemóveis.

Mas as soluções apresentadas não satisfazem a população maioritariamente idosa das duas povoações. Lisete de Matos, de 73 anos, chegou a ter telefone por satélite depois dos incêndios. O equipamento avariou e só em Setembro voltaria a ter número fixo, através de um telefone com cartão, com a reposição da rede móvel. “Neste momento temos fornecimento de rede móvel que permite uma utilização para desenrascar, mas que não nos reúne o mínimo de qualidade. Eu só tenho acesso ao que a Meo chama telefone fixo mas também ao telemóvel com os telefones à janela. Se me afastar 15 centímetros da vidraça, perde-se a comunicação”. E prossegue: “Isto não são condições para uma pessoa da minha idade. Se eu estou na cozinha, não oiço os telefones tocarem à janela. Muito frequentemente perco as chamadas”.

Amélia Domingues, vive em Ádela, e ainda mantém a caixa cinzenta que auxilia a comunicação por satélite. “Deve ser da Segunda Guerra Mundial, Está ultrapassado. Não se ouve muito bem e já avariou duas vezes”, afirma. “Se há quebras de electricidade, o telefone não funciona”, acrescenta. Carlos Alberto Almeida diz que o telefone por satélite “é um remedeio muito rasca”. “Em vez de estarmos a ouvir a pessoa, estamos a ouvir um eco”, descreve. Procurou perceber junto da operadora, a Meo, que não informou durante quanto tempo iria ficar assim.

A alternativa não existe. “Não há concorrência, não temos alternativa”, lamenta Lisete. “Ou usamos a Meo, que, apesar de tudo é a que oferece as melhores condições, ou as outras ainda funcionam pior. A Nos porque não fornece Internet, o sinal não é suficiente, a Vodafone porque não tem cobertura”.

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“É o isolamento”, resume Carlos Alberto Almeida, morador de 79 anos de Ádela, no concelho de Góis, em Coimbra, com um sorriso amargo. Depois dos incêndios de Outubro de 2017, a situação piorou. Na pequena povoação onde restam cerca de 10 habitantes e chegaram a arder casas, o corte nas telecomunicações prolongou-se por meses. O mesmo aconteceu com a vizinha aldeia do Açôr. A rede móvel regressou em Setembro. Até hoje, os cabos da rede fixa não chegaram a ser repostos. “Isto nunca foi bom, mesmo antes dos incêndios”, recorda Amílcar Almeida, residente no Açôr. A Altice, a operadora com clientes da rede fixa nas duas aldeias, ofereceu duas alternativas: telefones por satélite ou um telefone que, mantendo o número fixo, funciona com cartão, tal como os telemóveis.

Mas as soluções apresentadas não satisfazem a população maioritariamente idosa das duas povoações. Lisete de Matos, de 73 anos, chegou a ter telefone por satélite depois dos incêndios. O equipamento avariou e só em Setembro voltaria a ter número fixo, através de um telefone com cartão, com a reposição da rede móvel. “Neste momento temos fornecimento de rede móvel que permite uma utilização para desenrascar, mas que não nos reúne o mínimo de qualidade. Eu só tenho acesso ao que a Meo chama telefone fixo mas também ao telemóvel com os telefones à janela. Se me afastar 15 centímetros da vidraça, perde-se a comunicação”. E prossegue: “Isto não são condições para uma pessoa da minha idade. Se eu estou na cozinha, não oiço os telefones tocarem à janela. Muito frequentemente perco as chamadas”.

Amélia Domingues, vive em Ádela, e ainda mantém a caixa cinzenta que auxilia a comunicação por satélite. “Deve ser da Segunda Guerra Mundial, Está ultrapassado. Não se ouve muito bem e já avariou duas vezes”, afirma. “Se há quebras de electricidade, o telefone não funciona”, acrescenta. Carlos Alberto Almeida diz que o telefone por satélite “é um remedeio muito rasca”. “Em vez de estarmos a ouvir a pessoa, estamos a ouvir um eco”, descreve. Procurou perceber junto da operadora, a Meo, que não informou durante quanto tempo iria ficar assim.

A alternativa não existe. “Não há concorrência, não temos alternativa”, lamenta Lisete. “Ou usamos a Meo, que, apesar de tudo é a que oferece as melhores condições, ou as outras ainda funcionam pior. A Nos porque não fornece Internet, o sinal não é suficiente, a Vodafone porque não tem cobertura”.

Altice rejeita responsabilidades

O caminho até à vila faz-se de curva e contracurva. Se o município já é periférico dentro do distrito de Coimbra, as aldeias de Ádela e Açôr são ainda mais. A população não passa muito da dezena em cada uma, mas “no Verão, isto enche de gente”, ilustra Jorge Almeida, que, aos 45 anos, tem idade bem abaixo da média no Açôr. Há também quem viva em Lisboa e tenha por hábito ir ali passar o fim-de-semana. As dificuldades de comunicação acabam por ser um factor dissuasor, avalia Lisete de Matos.

Ao PÚBLICO, a presidente da Câmara Municipal de Góis, Lurdes Castanheira, assegura que foi garantido “inclusivamente por escrito”, que a empresa iria repor as comunicações “tal como estavam em 2017”, antes dos incêndios. O investimento seria concretizado até ao final do ano, refere a autarca.

“Onde há poucas pessoas, as empresas entendem que não se justifica o investimento. E é por isso é que o interior está como está”, afirma, comentando a situação da rede fixa. Assinala também que a rede móvel, quando foi reposta, melhorou em relação ao período anterior aos incêndios.

Jorge Almeida, também refere que o serviço está melhor, quando o termo de comparação é o período anterior aos incêndios. Diz que consegue fazer vídeo-chamadas em casa, o que significa que a Internet já lhe chega com alguma velocidade. Depois da reposição “a rede móvel está substancialmente melhor”. A linha de telefone fixo é que deixou de existir, afirma.

Em resposta ao pedido de esclarecimento do PÚBLICO, a Altice rejeita responsabilidades e sublinha que “a responsabilidade de assegurar e fornecer o serviço de telefone fixo é da Nos, operador que detém o Serviço Universal de Comunicações Fixas e que, aparentemente, não está a cumprir”. Já em Março de 2018, numa balanço sobre os serviços de telecomunicações nas zonas afectadas pelos incêndios, a Anacom recordou que a Nos é, desde 2014, “a prestadora do serviço universal na componente de serviço fixo de telefone, na sequência de contrato celebrado com o Estado” e que nos termos desse contrato, a empresa “é obrigada a instalar telefone fixo a quem o solicite nos prazos e com os preços definidos”.

Nessa altura, o presidente da NOS, Miguel Almeida, respondeu que a empresa é a prestadora do serviço universal de voz - "não da rede fixa". E, citado pelo Jornal de Negócios, salientou que o serviço da NOS “nunca foi interrompido nas zonas mais remotas, não sofreu nenhuma quebra porque é prestado por satélite”.

Sobre as soluções apresentadas aos seus clientes nas duas aldeias de Góis a seguir aos incêndios de Outubro de 2017, a Altice refere que a oferta foi a “tecnicamente viável face à destruição total” da rede de cobre que chegava às localidades. “Nos casos muitíssimo residuais em que se verificou uma cobertura mais reduzida, a Altice Portugal procedeu à amplificação de sinal indoor”, acrescenta a informação enviada por email.

Reconhecendo que, desde Setembro, a rede móvel da Meo “é melhor do que era antes dos incêndios”, Lisete de Matos aponta que paga à operadora “como se tivesse óptimas condições”. A Internet “não chega à velocidade que o contrato diz” e só consegue telefonar à janela. “Pago exactamente o mesmo que o cidadão que está na vila de Góis”, recorda. Amílcar, que também vai tendo dificuldades em ter rede dentro de casa, afirma que, antes da reposição da rede móvel tinha de se deslocar meio quilómetro para fazer chamadas e, mesmo assim, com dificuldade.