Tapar o sol com a peneira do socialismo
Sem receios, a família socialista europeia afirmará, nos próximos dias, aquelas que são as suas principais matrizes e princípios orientadores.
No início desta semana, o chefe de delegação do PSD no Parlamento Europeu, o deputado Paulo Rangel, aproveitou o Congresso do Partido Socialista Europeu, que se realiza este fim de semana em Lisboa, para atirar à esquerda e à família socialista. A tática, mesmo errada, já é antiga: apontar para o dedo, para que não se veja a lua.
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No início desta semana, o chefe de delegação do PSD no Parlamento Europeu, o deputado Paulo Rangel, aproveitou o Congresso do Partido Socialista Europeu, que se realiza este fim de semana em Lisboa, para atirar à esquerda e à família socialista. A tática, mesmo errada, já é antiga: apontar para o dedo, para que não se veja a lua.
Mais do que uma resposta ao deputado do PSD, importa realçar o que está em causa neste Congresso de Lisboa. Isso, só por si, é prova que baste da falácia que jaz por detrás dos argumentos que são apresentados por Rangel e que servem apenas como um desviar de atenções dos problemas que reinam na casa dos populares europeus.
O contexto das próximas eleições europeias, de forma transversal em toda a Europa, será marcado pela ascensão da extrema direita e de movimentos racistas, xenófobos e de tendência autocrática. São já vários os países ou regiões em que estes movimentos políticos se encontram no poder: na Áustria, em Itália, na Hungria, na Polónia e, mais recentemente, a possibilidade de entrada do recém-formado partido de extrema direita espanhol no governo da Andaluzia.
Olhando para o candidato à Comissão Europeia que o Partido Popular Europeu aprofundada e democraticamente escolheu, parafraseando Rangel – sendo que o candidato derrotado não atingiu os 20% –, Manfred Weber é a demonstração máxima da viragem que os populares europeus fizeram à extrema direita, incorporando nas suas propostas várias das ideias destes partidos. Mas, mais que isso, Weber foi o presidente do PPE que mais contribuiu para que a UE não tivesse uma atuação decisiva em relação à Hungria e que mais fortemente se fez ouvir contra o rumo traçado pelo atual governo português ao ter exigido à Comissão Europeia que aplicasse sanções ao nosso país em 2016, quando nos encontrávamos em plena trajetória de recuperação socioeconómica.
Este é o sol que Rangel procura tapar ao invocar os socialistas: é que Rangel e o PSD apoiaram, de forma inequívoca, Manfred Weber, um candidato que tão fortemente se insurgiu contra o caminho de melhoria que se vivia em Portugal. E esta Europa, onde hoje floresce a extrema direita, é o resultado de uma hegemonia dos populares europeus, que teve nos dez anos de Durão Barroso e nos cinco de Juncker à frente da Comissão Europeia o consagrar de uma visão neoliberal que agravou as desigualdades entre os Estados e entre a população europeia e que provocou um desencanto ainda maior com o projeto europeu, com o "Brexit" como seu expoente máximo.
Rangel atira sobre Timmermans porque sabe o valor do candidato socialista e porque sabe o dano potencial que este pode trazer na próxima contenda europeia. Atira sobre os socialistas porque sabe que as propostas que defendemos ameaçam os interesses instalados e colocam em causa os princípios que provocam a desigualdade entre a população europeia. Porque sabe que as propostas que os socialistas apresentam este fim de semana em Lisboa têm como inspiração o sucesso da "geringonça" e a alternativa que o governo de António Costa provou existir e ser possível implementar. Atirou sobre os socialistas porque receia uma inversão da política económica da UE, impulsionada pela liderança de Centeno no Eurogrupo e pela concretização prática de um pilar dos direitos sociais da União Europeia – mais uma vitória socialista deste último mandato.
Sem receios, a família socialista europeia afirmará, nos próximos dias, aquelas que são as suas principais matrizes e princípios orientadores, apresentando as suas propostas para a transformação da União Europeia em favor de todos aqueles que dela mais necessitam.
Na antecâmara do Congresso, a organização dos Jovens Socialistas Europeus apresentou ontem o seu manifesto eleitoral, dando o primeiro pontapé de saída para as Eleições de 2019.
São seis ideias chave que assentam na defesa da visão que queremos para a União Europeia e que defenderemos afincadamente: (i) defender e proteger o nosso planeta; (ii) trabalho e educação: o direito de escolher; (iii) uma economia que seja nossa; (vi) igualdade e inclusão para ti. E para todxs; (v) contextos diferentes, os mesmos direitos – Refugiados são bem-vindos; (vi) o futuro da Europa é o teu futuro.
Neste programa defendemos cidades mais sustentáveis, com mais transportes públicos e mais acessíveis; a redução e sucessiva eliminação do plástico; a eliminação do trabalho não pago, incluindo os estágios, e a introdução de um salário mínimo europeu; o acesso a educação e a formação ao longo de toda a vida; defendemos a implementação e a proteção de direitos sociais mínimos iguais em toda a União; a igualdade de direitos entre homens e mulheres, entre pessoas do mesmo sexo ou trans*, a proteção e a inclusão de pessoas portadoras de deficiência, de pessoas de etnias diferentes; a afirmação de valores humanitários e em que se acabem as mortes no Mediterrâneo; uma Europa com processos de participação política mais democráticos e mais transparentes, e que sejam mais acessíveis a todos os eleitores.
Esta é a União Europeia que, enquanto socialistas, queremos construir. Afirmar a convicção europeísta aprofundando a própria União – e melhorando-a. É, como diz o lema que definimos para esta campanha, uma “União Europeia que funciona para ti”.
O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico