Incêndios: Presidente de estrutura de missão compara mortes na Califórnia com Pedrógão Grande

Segundo Tiago Oliveira, a forma de evitar tantos incêndios é alterar a paisagem, passar a ser um país florestal e perceber que "não temos viabilidade rural".

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Tiago Oliveira é presidente da estrutura de missão para a instalação do Sistema de Gestão Integrado de Fogos Rurais LUSA/MIGUEL A. LOPES

O presidente da estrutura de missão para a instalação do Sistema de Gestão Integrado de Fogos Rurais comparou nesta terça-feira as causas das mortes nos incêndios da Califórnia com a situação verificada em Pedrógão Grande em Junho de 2017.

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O presidente da estrutura de missão para a instalação do Sistema de Gestão Integrado de Fogos Rurais comparou nesta terça-feira as causas das mortes nos incêndios da Califórnia com a situação verificada em Pedrógão Grande em Junho de 2017.

"O que se está a passar na Califórnia foi o que se passou em Pedrógão Grande porque as pessoas foram apanhadas num incêndio e não conseguiram fugir", disse Tiago Oliveira, no final de um almoço AAA (Animados Almoços Ânimo) na Associação 25 de Abril, em Lisboa.

No entanto, adiantou que, no caso da Califórnia, "era um incêndio previsível", uma vez que se sabia qual a direcção e onde terminaria o fogo.

Tiago Oliveira afirmou que morreram "tantas pessoas porque o fogo veio com tanta violência e rapidez que não houve tempo" para que toda a população fosse evacuada, uma vez que o fluxo nas estradas da cidade "não permitiu que os 26 mil habitantes saíssem" e "encalharam todos na saída".

Mas, sublinhou, as pessoas na Califórnia "estão preparadas", apesar de existir o problema de casas de madeira que foram construídas no interface com a floresta.

Os incêndios que lavram na Califórnia, já considerado o mais mortífero da história dos Estados Unidos, causaram a morte a 44 pessoas, enquanto os fogos que deflagraram em Junho de 2017 em Pedrógão Grande provocaram 66 mortes.

Mudar mentalidades

O presidente da estrutura de missão, que vai estar até ao final do ano no cargo, chamou também a atenção para a necessidade de mudança de mentalidades no país, sublinhando que, o problema dos fogos rurais só se consegue resolver caso se consiga encontrar uma "forma moderna de gerir a vegetação".

"Não há outra forma de dar volta a isto. Isto só se resolve com muitos herbívoros ou com fogo controlado ou com capacidade de gerir a vegetação com escala. Não há volta a dar. Se não formos capazes de gerir a floresta, isto vai arder pior e com mais força", sustentou.

Segundo o especialista, a forma de evitar tantos incêndios é alterar a paisagem, passar a ser um país florestal e perceber que "não temos viabilidade rural".

"O que nós temos de fazer nos próximos anos é um trabalho profundo de alterar a forma como valorizamos a floresta, como gerimos o território, a forma como temos de mudar os comportamentos de uma sociedade relativamente à floresta e às ignições e gerir o sentimento do risco porque o dinheiro não dá para tudo. Tem de ter melhores resultados com tanto dinheiro que está em cima da mesa", disse.

Tiago Oliveira alertou ainda para a forma errada como actualmente se fazem as queimadas, considerando que "são práticas antigas que faziam sentido na ruralidade dos anos 60 e que hoje em dia já não fazem sentido".

Como exemplo, referiu que 53% dos incêndios ocorridos este ano tiveram origem nas queimadas e queimas e que 12 pessoas com mais de 65 anos morreram este ano a fazer essas queimadas.

Tiago Oliveira tem estado ao longo deste último ano a preparar a Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), criada pelo Governo na sequência dos incêndios de 2017 e que vai entrar em funcionamento em Janeiro de 2019.