Marcelo recusa Forças Armadas “ao serviço de jogos de poder”

O Presidente da República homenageou este domingo de manhã os combatentes na I Guerra Mundial. Cavaco Silva foi o ausente mais notado.

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O Presidente da República foi à Avenida da Liberdade juntar duas preocupações em uma, no seu discurso de cinco minutos. A ligação era impossível de deixar de fora. Quando o Exército português atravessa um momento de fragilidade na sua reputação, a reboque do caso de Tancos, e numa altura em que os discursos políticos de Marcelo Rebelo de Sousa se concentram no combate aos extremismos, o Presidente foi lembrar aos militares que é preciso manter “hoje mais do que nunca” o “prestígio”, o “respeito” e a “admiração” pelas Forças Armadas, para que os valores que nos constituem como nação se mantenham.

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O Presidente da República foi à Avenida da Liberdade juntar duas preocupações em uma, no seu discurso de cinco minutos. A ligação era impossível de deixar de fora. Quando o Exército português atravessa um momento de fragilidade na sua reputação, a reboque do caso de Tancos, e numa altura em que os discursos políticos de Marcelo Rebelo de Sousa se concentram no combate aos extremismos, o Presidente foi lembrar aos militares que é preciso manter “hoje mais do que nunca” o “prestígio”, o “respeito” e a “admiração” pelas Forças Armadas, para que os valores que nos constituem como nação se mantenham.

O mote era a celebração do fim da I Guerra Mundial, mesmo que uma semana antes da data, e as lições que daí se retiraram. A avenida encheu-se de 4.500 militares para aquele que foi o maior desfile militar em democracia – a que se juntaram alguns elementos das forças de segurança da Polícia de Segurança Pública – e de milhares de pessoas que foram assistir à cerimónia do centenário do Armistício. Perante a audiência, Marcelo fez um discurso curto, contudo suficiente para tocar nos pontos que o preocupam neste momento: o crescente discurso que põe em causa os valores que defende e o prestígio ferido das Forças Armadas.

“Hoje, mais do que nunca, queremos afirmar os valores que nos identificam como nação", começou por dizer, lembrando que o primeiro dos grandes valores a ser defendido é "a dignidade da pessoa humana". Se este é o bem que tem de se defender, são as Forças Armadas que têm de estar lá para o fazer. "Hoje mais do que nunca queremos celebrar as nossas Forças Armadas. Sem vós, sem o vosso prestígio, sem o respeito e admiração pela vossa missão insubstituível, não há liberdade, nem segurança, nem democracia nem paz que possam vingar”, disse.

Numa altura em que Marcelo ainda não se viu livre do tema Tancos, o espectro pairava em cada palavra como um recado para dentro e para fora. "Não toleraremos perder-se a paz, ganha com tantas mortes às mãos de aventureiros, criadores de novas guerras. Não toleraremos que se repita o uso das forças armadas, ao serviço de interesses pessoais ou de grupo, de jogos de poder”, afirmou.

4500 militares e polícias desceram a avenida, mas João não ficou convencido

Não é a primeira vez que o Presidente se foca nestes temas. Há um mês, na Universidade Católica, pedia uma acção de defesa e combate pela dignidade da pessoa humana, lembrando que o que aconteceu há cem anos nos dizia que era preciso, mais do que defender, combater por estes valores, contra o "egocentristmo" e a "salvação a sós". Neste discurso perante militares, voltou à ideia deixada na Universidade Católica, contudo aqui tinha o mote da homenagem aos heróis da guerra o que lhe permitia tocar nos valores e emblemas dos militares. "Estes heróis lutaram pela compreensão contra o ódio, pela liberdade contra a opressão, pela justiça conta a iniquidade, pela Europa aberta contra a Europa fechada, o mundo solidário contra o mundo dos egoísmos, das xenofobias e exclusões. (...) Esses heróis nos convocam a aprender a lição de há cem anos: não toleraremos que se repita a sagrenta divisão da Europa", afirmou.

Nas palavras do Presidente percebe-se que, por cá, quer ser o garante que a lição da guerra foi aprendida. “Quem isto não entender, não entendeu nada do passado, do presente nem do futuro de Portugal”, terminou.

Antes do Presidente da República, chegaram à Avenida os antigos Presidentes Jorge Sampaio e Ramalho Eanes, lado a lado. Faltava Cavaco Silva, o único Presidente da República vivo a faltar à cerimónia. Ao PÚBLICO, a assessoria de imprensa de Cavaco Silva explicou que o antigo Presidente declinou previamente o convite e não foi às cerimónias porque deixou de ir a desfiles militares quando deixou o cargo, o que inclui, por exemplo, os desfiles do 10 de Junho, onde não tem comparecido.