Cavaco diz que tratou de Costa "de forma bastante simpática" no seu livro
Acusado de "falta de sentido de Estado" por tecer considerações sobre líderes políticos passados e actuais nas suas memórias, o ex-Presidente da República reiterou o que escreveu sobre António Costa e explicou porque não referiu o caso BES.
O antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, reiterou esta sexta-feira, em entrevista à SIC, as considerações feitas sobre antigos e actuais líderes políticos na segunda parte do seu livro de memórias, argumentando que referiu o actual primeiro-ministro, António Costa, "de forma bastante simpática".
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O antigo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, reiterou esta sexta-feira, em entrevista à SIC, as considerações feitas sobre antigos e actuais líderes políticos na segunda parte do seu livro de memórias, argumentando que referiu o actual primeiro-ministro, António Costa, "de forma bastante simpática".
No II volume de Quintas-feiras e outros dias, Cavaco Silva aborda a formação da "geringonça" e os primeiros meses do Governo de Costa, que descreve como "um mestre a gerir a conjuntura política, em capitalizar a aparência de 'paz social' e em empurrar para a frente os problemas de fundo da economia portuguesa".
Os excertos tinham motivado uma reacção dura por parte do Partido Socialista, acusando-o de "delação" e falta de "sentido de Estado".
Sobre essas observações, Cavaco defende que são “tratamentos simpáticos”. “Trato o Dr. António Costa de forma bastante simpática no meu livro”, afirmou na SIC. “Fiquei com ideia de que era um homem simpático e de sorriso fácil, que não gostava de dizer não aos pedidos que lhe formulavam, que encarava de forma descontraída as dificuldades com que era confrontado.”
Sobre a palavra "geringonça", utilizada no livro, Cavaco Silva diz que a considera “um termo simpático”, justificando que “os próprios membros que formam essa coligação utilizam esse termo”. E sobre essa coligação, disse ter ficado surpreendido pela forma como o “PCP e o BE se curvaram e abandonaram a ideologia”.
Na entrevista, Cavaco Silva voltou a eleger como o momento mais difícil da sua presidência a gestão da “crise do irrevogável”, protagonizada pelo anúncio de demissão de Paulo Portas, então ministro dos Negócios Estrangeiros. O antigo Presidente considerou o gesto de Portas “um absurdo total” que criou uma crise política desnecessária.
Sobre António José Seguro, o ex-Presidente da República diz que o então líder socialista perdeu a oportunidade de ser primeiro-ministro por não ter sabido enfrentar o partido numa altura “de negociação sobre matéria de interesse nacional”.
E sobre a sua imagem enquanto Presidente da República, e após ter deixado Belém, Cavaco diz ter “uma gratidão profunda pelos portugueses”, não só enquanto Presidente, mas também “pela oportunidade de servir o país enquanto primeiro-ministro durante dez anos”. E citou Emmanuel Macon que, numa entrevista à revista alemã Der Speigel, afirmou que “o que interessa é servir o país, não ser mais ou menos amado pelo povo”.
“Foi sempre isso que me movimento. Respeitando o superior interesse nacional”, acrescentou.
Instado a comentar o contraste entre a sua imagem e a de Marcelo Rebelo de Sousa, o “Presidente dos afectos”, recusou fazê-lo por uma questão de “princípio”.
“Cada Presidente faz a presidência que acredita que melhor serve os interesses do país. Foi o que eu fiz.”
Já quando questionado sobre o caso BES — que não é referido no livro de memórias — Cavaco Silva explica que não escreveu nem fala agora sobre o colapso do banco privado uma vez que o Presidente da República “não exerce funções executivas nem desempenha qualquer função no domínio financeiro”.