Chefe de gabinete diz ter informado Azeredo Lopes de memorando de Tancos

General Martins Pereira colocou o seu telemóvel à disposição dos investigadores para perícia, para que seja comprovado aquilo que alega.

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As armas roubadas em Tancos no Verão do ano passado foram recuperadas a 18 de Outubro de 2017 Rui Gaudêncio

O ex-chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa disse ontem, no interrogatório a que foi submetido, ter informado Azeredo Lopes do memorando sobre Tancos que lhe foi entregue, há menos de um ano, pelo então director da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira.

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O ex-chefe de gabinete do ex-ministro da Defesa disse ontem, no interrogatório a que foi submetido, ter informado Azeredo Lopes do memorando sobre Tancos que lhe foi entregue, há menos de um ano, pelo então director da Polícia Judiciária Militar (PJM), o coronel Luís Vieira.

O tenente-general Martins Pereira foi inquirido pelo Ministério Público na qualidade de testemunha, não tendo sido constituído arguido. Na sua versão dos factos, assim que recebeu o memorando sobre a operação encenada passou imediatamente a informação ao governante, a quem ligou pela rede WhatsApp, cujos telefonemas e mensagens são encriptados. Colocou agora o seu telemóvel à disposição dos investigadores para perícia, por forma a que seja comprovado aquilo que alega.

Na primeira declaração pública que fez (um comunicado enviado à agência Lusa), o tenente-general apenas confirmara ter recebido o major Vasco Brazão, da PJM, e Luís Vieira, no ministério, quando era chefe de gabinete. Na segunda vez que falou, disse ter recebido o memorando nessa ocasião. Certo é que esse documento não deixou rasto no arquivo do Ministério da Defesa. O ministério já garantiu que não se encontra registado nenhum memorando entregue por aqueles responsáveis.

Quando foi interrogado, Luís Vieira, que está preso preventivamente, terá apenas confirmado a realização de uma reunião com o ex-chefe de gabinete do ministro para a entrega de um relatório formal de ocorrências, em papel timbrado e assinado. Essa reunião ter-se-á realizado, segundo Vasco Brazão, assim que a Judiciária Militar percebeu que estava a ser investigada pela Polícia Judiciária civil.

O PÚBLICO tentou contactar Azeredo Lopes e o advogado de Martins Pereira, mas em nenhum dos casos teve sucesso. O governante demitiu-se por causa do caso de Tancos no passado dia 12 de Outubro para, segundo declarou, evitar o desgaste causado às Forças Armadas pelo escândalo. Mas sempre negou ter tido conhecimento quer da encenação da descoberta das armas na Chamusca, a 18 de Outubro de 2017, quer da protecção que a PJ Militar deu ao ex-fuzileiro suspeito do roubo (agora em prisão preventiva), para que este pudesse devolver o material sem ser punido. Na antevéspera desta demissão o advogado de Martins Pereira entregou o memorando em causa no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, que está a conduzir o inquérito a Tancos.

Depois das declarações do ex-chefe de gabinete será difícil que Azeredo Lopes não seja chamado pelos investigadores da chamada Operação Húbris a explicar o que se passou. E a revelar se transmitiu ao primeiro-ministro, António Costa, as informações que supostamente recebeu — desde logo, no telefonema que recebeu do seu chefe de gabinete feito na presença dos dois militares da PJM.

Outra pessoa que poderá vir a ter de prestar esclarecimentos sobre o caso é a procuradora encarregada da investigação das mortes nos Comandos, Cândida Vilar. A PJM foi o órgão de polícia criminal a que recorreu para a ajudar, e Vasco Brazão era o seu elo de ligação com esta instituição. Como o major estava sob escuta por causa do aparecimento das armas de Tancos, a magistrada foi apanhada a falar ao telefone com ele.

Na altura das conversas, em Fevereiro passado, a Judiciária civil insistia em obter os registos da PJM e da GNR sobre a utilização de viaturas e telemóveis pessoais e de serviço. Sendo de opinião que a lei não permite às polícias andarem a espiar-se umas às outras, como de facto estava a suceder, Cândida Vilar aconselhou Brazão a não fornecer aqueles dados. Tratando-se de uma procuradora colocada num tribunal de primeira instância, manda a lei que a magistrada só possa ser inquirida pelos colegas da Relação de Lisboa, e não pelos do Departamento Central de Investigação e Acção Penal. Com Ana Dias Cordeiro