Hammond compara reacção de Bruxelas a “Chequers” aos cépticos da lâmpada em 1878
Segundo dia do congresso tory marcado por intervenções de apoio à primeira-ministra e contra Bruxelas. Cenário de “no deal” assumido sem rodeios.
No arranque do congresso anual do Partido Conservador, no domingo, e com as principais figuras da ala eurocéptica tory a marcarem muito cedo posição contra a estratégia do Governo para o “Brexit”, Theresa May apelara à união dos militantes em volta do seu “plano Chequers”. Com a lição bem estudada, foi essa a principal mensagem apregoada nesta segunda-feira no palco do Symphony Hall de Birmingham, por ministros e apoiantes da líder do executivo, no segundo dia de trabalhos.
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No arranque do congresso anual do Partido Conservador, no domingo, e com as principais figuras da ala eurocéptica tory a marcarem muito cedo posição contra a estratégia do Governo para o “Brexit”, Theresa May apelara à união dos militantes em volta do seu “plano Chequers”. Com a lição bem estudada, foi essa a principal mensagem apregoada nesta segunda-feira no palco do Symphony Hall de Birmingham, por ministros e apoiantes da líder do executivo, no segundo dia de trabalhos.
Dominic Raab (ministro para o “Brexit”), Philip Hammond (ministro das Finanças) e Ruth Davidson (líder do Partido Conservador Escocês) destacaram-se entre os que tomaram a palavra nas sessões, dando a cara pela proposta da primeira-ministra para a futura relação do Reino Unido com a União Europeia e procurando abafar eventos paralelos na cidade que juntaram “hard-brexiteers” como David Davis (ex-ministro para o “Brexit”), Jacob Rees-Mogg (líder da ERG, a facção anti-UE do partido) ou Priti Patel (ex-ministra do Comércio).
Determinado em não deixar dúvidas de que o partido “é e continuará a ser o partido dos negócios”, Hammond descreveu a proposta chumbada em Salzburgo pelos líderes europeus como “um plano que respeita a decisão da população britânica, evita um ‘hard border’ na Irlanda, preserva a integridade do Reino Unido e salvaguarda os empregos e negócios dos britânicos”.
A sugestão de May para a criação de uma zona de comércio livre com a UE, apenas para a transacção de bens industriais e produtos agrícolas, não agradou aos chefes de governo dos restantes 27 Estados-membros, que argumentam que põe em risco o mercado único.
A primeira-ministra discorda desta consequência, exigiu contrapropostas e criticou a posição assumida pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que resumiu o “plano Chequers” a um ruidoso “não funciona”. Na mesma linha, o responsável pela pasta das Finanças do executivo defendeu que é missão do Governo britânico “provar que está enganado” e comparou o cepticismo europeu a um momento revolucionário da História: “O sr. Tusk diz que [o ‘plano Chequers’] não funciona, mas isso foi o que as pessoas disseram sobre a lâmpada em 1878.”
Com os prazos para fechar um compromisso com Bruxelas a expirarem – o abandono britânico está agendado para o final de Março de 2019 – o cenário de saída sem acordo é cada vez mais plausível. E, à semelhança de May, Hammond assumiu-o sem rodeios, negando, no entanto, que o impacto económico seja tão catastrófico como se prevê. “Tenho poder de fogo fiscal suficiente para apoiar a nossa economia, se isso acontecer”, afiançou.
Dominic Raab afinou pelo mesmo diapasão. O sucessor de Davis no Governo – que com Boris Johnson abandonou May em choque com “Chequers” – reforçou perante os delegados tories que “toda a máquina do Governo está ocupada a preparar-se para um ‘no-deal’”. Não porque o deseje ou porque acredite que é a hipótese mais provável, mas simplesmente porque “pode vir a acontecer”. E apontou o dedo à UE.
“Dizem que um não-acordo é impensável. Errado! O que é impensável é que um governo seja alvo de bullying com a ameaça de uma espécie de embargo económico e assinando um acordo unilateral contra os interesses do seu país”, lamentou Raab.
Sempre com os líderes europeus na mira, o ministro para o “Brexit” assumiu que a proposta apresentada a Bruxelas “não é perfeita”, mas voltou a defendê-la com unhas e dentes, a par de Theresa May. “A nossa primeira-ministra tem sido construtiva e respeitadora. Em troca ouviu piadas de líderes europeus”, criticou. E rematou: “Se a UE quer um acordo, tem de começar a ser séria. E tem de o fazer agora.”
Já Ruth Davidson usou da palavra para pedir ao partido uma abordagem “prática” e “pragmática” para o “Brexit”, face à ameaça trabalhista: “A verdade é esta: ou nos comprometemos com um acordo dentro do Partido Conservador, ou arriscamo-nos a entregar as chaves de Downing Street a Jeremy Corbyn. Eu apoio a primeira-ministra.” Arrancou aplausos da plateia.
No Symphony Hall valorizou-se a união em volta da primeira-ministra, mas nem todo o Governo está confortável com o “plano Chequers”, nomeadamente a ala pró-UE. O ex-secretário de Estado da Justiça Phillip Lee – que se demitiu em Junho para defender a posição do seu círculo eleitoral contra o “Brexit” – garantiu ao Independent que há pelo menos três ministros que defendem um segundo referendo à saída do Reino Unido da UE: “Sei de alguns ministros [que querem nova votação], mas o ambiente está difícil para assumirem a sua posição.”