Ao escolher Haddad, PT começa a aceitar que Lula não é elegível

Antigo prefeito de São Paulo é o candidato a vice-presidente com Lula da Silva nas eleições de Outubro, mas só no papel. Tomará o seu lugar se a candidatura do antigo Presidente não for aceite. Após acordo entre PT e comunistas, Manuela D’Ávila abdica de candidatura e será a verdadeira vice.

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Lula da Silva e Fernando Haddad evi Bianco/Brazil Photo Press/LatinContent/Getty Images

O Partido dos Trabalhadores brasileiro (PT) oficializou neste domingo o antigo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, como candidato a vice-presidente ao lado de Lula da Silva. Apesar de não ser assumido publicamente, o partido desenha assim um “plano B” para o provável cenário de o antigo Presidente, a cumprir pena de prisão, ser impedido de se candidatar. A acontecer, Haddad será o candidato presidencial do PT.

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O Partido dos Trabalhadores brasileiro (PT) oficializou neste domingo o antigo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, como candidato a vice-presidente ao lado de Lula da Silva. Apesar de não ser assumido publicamente, o partido desenha assim um “plano B” para o provável cenário de o antigo Presidente, a cumprir pena de prisão, ser impedido de se candidatar. A acontecer, Haddad será o candidato presidencial do PT.

Ao longo de todo o dia de domingo, o PT esteve em negociações com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para alcançar uma aliança eleitoral. Consumado o acordo, a comunista Manuela D’Ávila vai abdicar da sua candidatura presidencial tornando-se uma espécie de candidata a vice dos “petistas” em stand-by. Ou seja, se a candidatura de Lula for barrada, D’Ávila deverá ser a vice de Haddad.

Por entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) domingo foi o último dia para que os partidos realizassem as suas convenções para definir candidatos e coligações para as eleições de Outubro (a primeira volta está marcada para dia 7 e a segunda para dia 28). Apesar de o prazo para a formalização das candidaturas junto do TSE terminar apenas dia 15 de Agosto, o PT foi assim forçado a apresentar já Haddad, ao contrário do que era pretendido pelos seus líderes, nomeadamente Lula, que queria esperar até ao último dia.

De acordo com o que é noticiado pela comunicação social brasileira, a escolha de Haddad e o acordo com o PCdoB foi coordenado e aprovado por Lula. O ex-Presidente enviou até uma carta ao partido, a partir da prisão onde está a cumprir pena em Curitiba, a dizer que a Haddad era a melhor opção para o representar durante a campanha.

A cara do PT

Segundo explicou Gleisi Hoffman, quando anunciou o candidato a vice-presidente já na madrugada de domingo, Haddad, que foi também coordenador do programa eleitoral “petista”, será a cara da campanha do PT, participando nos debates e comícios em nome de Lula.

“O PT reitera que vamos com Lula até às últimas consequências. Por isso, a ideia é que tenha uma pessoa para vocalizar a sua campanha e essa missão seria feita através de um companheiro do PT, que tenha identificação com Lula e que seja seu amigo”, explicou Hoffman, na noite de domingo.

O PT nega oficialmente que a sua intenção seja que Haddad substitua Lula caso a justiça eleitoral lhe feche a porta das eleições (até 17 de Setembro terá de haver decisão). Mas várias fontes do partido revelaram aos jornais brasileiros que o plano é exactamente esse.

Aliás, segundo explicou Hoffmann, Haddad nem é o verdadeiro candidato a vice. Depois de se conhecer a decisão da justiça eleitoral sobre a elegibilidade de Lula, será D’Ávila assumir a candidatura a vice-presidente, disse. O anúncio do antigo prefeito de São Paulo surgiu apenas para que o partido consiga cumprir os prazos do TSE para poder formalizar a candidatura de Lula, isto porque D’Ávila ainda não oficializou a sua desistência como cabeça de lista do PCdoB.

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Manuela D'Ávila

“Decidimos conjuntamente, o PT e PCdoB, colocar, neste momento, como candidato a vice-presidente da República [Fernando Haddad], para fazer a representação do presidente Lula durante este processo tão logo se estabilize a situação dele”, disse Hoffman. “Quero dizer formalmente que o Presidente Lula pediu para que eu convidasse o PCdoB para integrar a sua ‘chapa’ a candidato a Presidente da República, indicando e fazendo um convite formal a Manuela D’Ávila”.

Lula está preso em Curitiba desde o início de Abril, para cumprir uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato. Apesar de ser altamente provável que seja impedido de se candidatar pela chamada Lei da Fica Limpa - que torna inelegível alguém condenado por um órgão composto por mais do que um juiz –, o PT garantiu sempre que Lula seria o seu candidato, ainda que, segundo notícias publicadas nos últimos tempos, isso tenha gerado alguma discórdia no seio do partido. Lula tem-se mantido à frente das sondagens, seguido de Jair Bolsonaro.

Haddad disse, durante o anúncio da sua candidatura a vice, que Lula “é o maior líder político do país", garantindo que será um “prazer levar a voz de Lula” a todo o país durante a campanha.

A intenção da liderança do PT, e do próprio Lula, era alcançar uma aliança com o PCdoB para que D’Ávila abrisse mão da sua candidatura. Os comunistas começaram por rejeitar esta exigência o que gerou horas de duras negociações. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, os “petistas” chegaram a ameaçar romper alguns acordos regionais com os comunistas caso não se consomasse a aliança a nível nacional.

A Folha adianta ainda que os comunistas puseram em hipótese outras duas alternativas: manter a candidatura de D’Ávila ou aliar-se a Ciro Gomes, do PDT. Porém, a pressão do PT acabou por prevalecer e o acordo foi consumado.

Ainda que não esteja envolvido nos megaprocessos de corrupção que têm abalado a política brasileira nos últimos anos, Haddad tem tido uma posição pouco significativa nas sondagens, quando colocado como potencial candidato, e, em 2016, teve uma prestação eleitoral decepcionante ao perder a prefeitura de São Paulo para João Doria. Mas Haddad sofreu em cheio os efeitos dos protestos de Junho de 2013, que começaram precisamente em São Paulo, contra o aumento do preço dos transportes públicos.