Filha de Himmler trabalhou para os serviços de espionagem após queda do nazismo
Jornal Bild faz a revelação e diz que Gudrun Burwitz foi uma nazi convicta até à sua morte, no final de Maio.
A filha de Heinrich Himmler — o homem que inaugurou o primeiro campo de concentração para judeus, durante o regime nazi, e que figura nos arquivos da história como o principal arquitecto do Holocausto — trabalhou para os serviços de espionagem da Alemanha Ocidental. Segundo o diário Bild, Gudrun Burwitz fez parte de um grupo alargado de funcionários com ligações ao nazismo que o Serviço Federal de Inteligência (BND, na sigla em alemão) recrutou durante os anos 50 e 60 do século passado e permaneceu activa em grupos neonazis até à sua morte, no final de Maio.
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A filha de Heinrich Himmler — o homem que inaugurou o primeiro campo de concentração para judeus, durante o regime nazi, e que figura nos arquivos da história como o principal arquitecto do Holocausto — trabalhou para os serviços de espionagem da Alemanha Ocidental. Segundo o diário Bild, Gudrun Burwitz fez parte de um grupo alargado de funcionários com ligações ao nazismo que o Serviço Federal de Inteligência (BND, na sigla em alemão) recrutou durante os anos 50 e 60 do século passado e permaneceu activa em grupos neonazis até à sua morte, no final de Maio.
Burwitz trabalhou no BND entre 1961 e 1963, como secretária, tendo sido apontada por Reinhard Gehlen, um antigo general da Wehrmacht, que depois da queda do Terceiro Reich começou a colaborar com os Estados Unidos e que foi conduzido à chefia dos serviços de inteligência da Alemanha Ocidental em 1956. Escreve o Bild que muitos dos agentes recrutados por Gehlen eram antigos membros Gestapo e das SS – a força paramilitar de elite presidida, aprimorada e expandida por Himmler durante o regime de Adolf Hitler.
Ao tablóide alemão, o responsável pelo departamento de história do BND, Bodo Hechelhammer, confirmou que Burwitz integrou os quadros da agência de espionagem. “O BND confirmou que Burwitz trabalhou para a organização até 1963, sob um nome falso. O momento da sua partida coincidiu com o início de uma mudança no entendimento e na contratação de funcionários envolvidos com os nazis”, afirmou, citado pela Deutsche Welle.
A reportagem publicada pelo Bild na passada sexta-feira dá ainda conta da dedicação de Burwitz na reabilitação da imagem do pai e da sua participação activa em diversos grupos e organizações neonazis e de extrema-direita. “O meu pai é visto como o maior genocida da história. Quero tentar mudar essa imagem”, garantira na única entrevista que concedeu, em 1959.
Gudrun Burwitz era a filha mais velha de Himmler – o número dois do regime teve outras duas filhas, frutos de uma relação extraconjugal – e acompanhava muitas vezes o pai em aparições públicas, nos anos 30 e 40. A companhia da criança loira e de olhos azuis em eventos deleitava o líder nazi e alimentava a sua obsessão pelo delírio da pureza racial alemã – que o levou a conceber e implementar o sistema de detenção e extermínio que tirou a vida a mais de 6 milhões de pessoas, entre judeus, ciganos, deficientes ou homossexuais.
Quando Gudrun tinha 12 anos, o pai levou-a até ao campo de concentração de Dachau. Uma experiência que descreveu como “muito agradável”. “Hoje fomos ao campo de concentração das SS em Dachau. Vimos o trabalho de jardinagem. Vimos as árvores de fruta. Vimos todos os desenhos pintados pelos prisioneiros. Maravilhoso. E depois tivemos imensas coisas para comer. Foi muito agradável”, escreveu no seu diário, citada pelo Washington Post.
Casada com Wulf-Dieter Burwitz – um funcionário do Partido Nacional Democrático da Alemanha (NPD, neonazi) –, Gudrun Burwitz era conhecida tanto nos círculos da extrema-direita como junto de detractores como a “princesa nazi” ou a “Madre Teresa do nazismo”.
Capturada juntamente com a mãe no final da Segunda Guerra Mundial, acabou por ser libertada em 1946, já depois do pai se ter suicidado na prisão. Integrou a Wiking-Jugend (Juventude Viking), uma das muitas organizações clandestinas de nazis ou familiares de nazis que se formaram nos anos 50, e aderiu à Stille Hilfe (Ajuda Silenciosa), um grupo que prestava apoio legal e financeiro a antigos membros das SS fugidos à justiça – como Klaus Barbie, Anton Malloth ou Martin Sommer.
Trabalhou muitos anos como ama, em Munique, e morreu no passado dia 24 de Maio, com 88 anos de idade. De acordo com o Bild, foi uma nazi convicta até ao fim.