Pais e professores arrasam solução do Iave para exame de Matemática A

Para garantir a "equidade" entre alunos, director da Escola Secundária de Camões defende que todos os alunos possam repetir o exame na 2.ª fase.

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Exame de Matemática A tem estado debaixo de fogo Paulo Pimenta

O director da Escola Secundária de Camões, em Lisboa, João Jaime, lançou ontem um repto na página do Facebook daquele estabelecimento escolar a propósito do exame de Matemática A, que na segunda-feira foi realizado por 320 dos seus alunos. Face à decisão do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), responsável pela elaboração e classificação dos exames, de desrespeitar as regras que estavam expressas no enunciado do exame, afirma que “em nome da equidade” só vê “uma solução: permitir que todos os alunos repitam o exame na 2.ª fase”.

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O director da Escola Secundária de Camões, em Lisboa, João Jaime, lançou ontem um repto na página do Facebook daquele estabelecimento escolar a propósito do exame de Matemática A, que na segunda-feira foi realizado por 320 dos seus alunos. Face à decisão do Instituto de Avaliação Educativa (Iave), responsável pela elaboração e classificação dos exames, de desrespeitar as regras que estavam expressas no enunciado do exame, afirma que “em nome da equidade” só vê “uma solução: permitir que todos os alunos repitam o exame na 2.ª fase”.

Em causa estão, conforme o PÚBLICO noticiou, as instruções enviadas pelo Iave para a classificação de três blocos do exame de Matemática A, todos eles de escolha múltipla. Em qualquer bloco é dada a informação sobre a que programa respeita cada item, com a seguinte formulação: “Os dois itens que se apresentam a seguir são itens em alternativa (…). Responda apenas a um dos dois itens”.

Mas na nota enviada na quinta-feira aos professores correctores, três dias depois da realização da prova por perto de 45 mil estudantes, o Iave deu instruções opostas, estipulando que se o aluno tiver acabado por responder aos dois itens e uma das respostas estiver correcta, “esta deve ser considerada” para efeitos de cotação.

A respeito destas instruções, também os dois presidentes das confederações de pais não têm dúvidas de que o Iave “prejudicou os alunos que cumpriram as regras” para a realização do exame de Matemática A, que para muitos é decisivo no acesso ao ensino superior. “É óbvio que há alunos que vão sair prejudicados e que o Iave criou com esta decisão um sentimento de injustiça”, afirma o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), Jorge Ascenção.

Também o presidente da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), Rui Martins, diz que “lamenta o que está a acontecer e o que foi sugerido pelo Iave porque vai lesar muitos alunos”, frisando que “não faz sentido que as alterações sejam decididas a posteriori”, ou seja, depois de o exame ter sido realizado e de terem sido divulgados os “critérios de correcção”, um documento que o Iave produz, e que é disponibilizado no próprio dia do exame, à luz do qual os professores avaliam as provas.

E na 2.ª fase, como será?

Depois de questionar o que estará a prejudicar mais os alunos, se a greve dos professores às reuniões de avaliação ou as alterações de critérios do Iave, João Jaime diz também isto na sua mensagem: “Como se não bastassem as alterações introduzidas no exame de Matemática A, agora o Iave altera os critérios permitindo que os alunos que apresentaram duas respostas nas questões de opção (...) possam pontuar desde que pelo menos uma esteja certa. Não terão estes alunos mais hipóteses de pontuar do que os outros que respeitaram a regra?”

Num esclarecimento enviado na sexta-feira à comunicação social, o Iave afirma que “não existe nenhuma alteração aos critérios” de correcção, pela simples razão de que nestes “não estão definidos quaisquer procedimentos ou instruções que se apliquem à situação descrita”. Mas confirma que a nota enviada aos classificadores não corresponde “às instruções de realização apresentadas no enunciado da prova”. Razões? Esta alteração, diz o Iave, decorre de “informações de professores classificadores de que alguns alunos” não seguiram o que se pedia na prova e, em vez de responder a um só item, responderam aos dois, apesar destes serem apresentados em alternativa.

E acrescenta: como esta situação “não estava presente em provas de anos anteriores, as quais muitos alunos analisam e resolvem na fase de preparação para o exame”, o Iave decidiu que “não podia aceitar” que os alunos, “não cumprindo uma instrução, mas ainda assim produzindo uma resposta válida”, pudessem “ser prejudicados”.

“E na 2.ª fase, como vai ser? Vão todos responder às duas perguntas?”, questiona o presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Jorge Buescu, que lamenta a “ligeireza” com que este exame foi concebido e que leva agora a que os alunos que cumpriram as regras fiquem em “desvantagem”. “Bastava que o Iave tivesse feito um teste intermédio com a mesma estrutura do exame [o que foi rejeitado], em meados do ano lectivo passado, para que tudo isto tivesse sido evitado.”

Já a presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), Lurdes Figueiral, falando a nível pessoal, diz que se as alterações forem “em benefício dos alunos” deve ser esse o critério a prevalecer. Em nome da APM, nota que os critérios para a classificação dos blocos em causa “deveriam estar definidos” com antecedência. E volta a defender que a “divulgação de uma prova-modelo teria sido importante para atenuar efeitos indesejáveis das várias alterações que ocorreram nesta prova”.