Acusações entre Paris e Roma por causa da imigração marcam minicimeira
Macron garantiu que não existe qualquer crise migratória em Itália mas sim uma crise política provocada por um Governo "extremista". Salvini respondeu e considerou o Presidente francês "arrogante".
A minicimeira europeia informal sobre a imigração em Bruxelas realiza-se este domingo, depois de uma intensa troca de acusações entre Itália e França e à qual se juntou Espanha. O Presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu que não há qualquer crise migratória em terras italianas e o ministro do Interior do novo Governo de Roma, Matteo Salvini, refutou e considerou-o “arrogante”.
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A minicimeira europeia informal sobre a imigração em Bruxelas realiza-se este domingo, depois de uma intensa troca de acusações entre Itália e França e à qual se juntou Espanha. O Presidente francês, Emmanuel Macron, garantiu que não há qualquer crise migratória em terras italianas e o ministro do Interior do novo Governo de Roma, Matteo Salvini, refutou e considerou-o “arrogante”.
É neste ambiente que decorrerá neste domingo a cimeira entre os países europeus mais afectados pelas migrações. Isto numa altura em que são cada vez mais os barcos com refugiados resgatados no Mediterrâneo, que partem da costa da Líbia em direcção à Europa, e que se encontram à deriva perante a recusa de sucessivos países em recebê-los.
“Precisamos de ser claros e olhar para os números – a Itália não está a passar por uma crise migratória como estava até ao ano passado. Quem diz isso está a mentir”, atirou Macron. O Presidente francês diz que, pelo contrário, Itália está numa “crise política” que foi provocada “por extremistas que jogam com o medo”, referindo-se ao novo Governo italiano, que é composto pelo partido anti-sistema Movimento 5 Estrelas e pela Liga, de extrema-direita.
Salvini, agora ministro do Interior, e líder da Liga, respondeu afirmando que Itália recebeu nos últimos quatro anos centenas de milhares de desembarques, “430 mil pedidos de asilo”, “170 mil supostos refugiados agora alojados em hotéis, quartéis e apartamentos com um custo superior a cinco mil milhões de euros”.
“Se para o arrogante Presidente Macron isto não é um problema, então convidamo-lo a mostrar generosidade através da abertura dos muitos portos franceses e que deixem de rejeitar mulheres, crianças e homens”, acrescentou.
“Em Itália, a crise migratória existe e é também alimentada pela França pelas suas rejeições em curso na fronteira”, acusou ainda Salvini.
Em Espanha, que acabou por receber o navio Aquarius na semana passada que transportava mais de 600 refugiados resgatados, houve também mensagens para Roma. Em entrevista ao El País, o presidente do Governo espanhol, Pedro Sánchez, falou de “egoísmo”. “Há Governos, como o italiano, que estão a ter um discuros antieuropeu, e onde está a primar mais o egoísmo nacional”.
Sobre a possibilidade de o país receber mais barcos com refugiados, Sánchez garantiu que não vai ser “insensível a estas tragédias humanas, mas é evidente que Espanha não pode dar resposta sozinha”.
A situação dos barcos com refugiados gerou um impasse enquanto Itália e Malta lhes fecharam os portos. Ambos os países, juntamente com Madrid, encetaram intensas negociações para resolver a questão mas o impasse continua. Malta acabou por reabastecer o barco da organização italiana Lifeline, embora sem o deixar entrar nos seus portos, com 224 imigrantes salvos no Mediterrâneo a bordo.
A chanceler alemã Angela Merkel, a braços com uma potencial crise política interna devido às políticas de imigração, foi afirmando ao longo da semana afastou o cenário de um acordo amplo saído da minicimeira: "O encontro de domingo é uma reunião de trabalho e de consulta na qual não haverá um comunicado conclusivo", disse na sexta-feira.
Em entrevista ao La Reppublica, Khalid Al-Mishri, líder do Alto Conselho do Estado líbio, principal órgão consultivo do Governo, garantiu que Trípoli é completamente contra a criação de campos de migrantes no país que tem servido como ponto de partida para os refugiados que seguem para a Europa. “Opomo-nos aos campos de migrantes na Líbia. Devemos impedir que os migrantes ilegais se movam para o Norte”, disse.
No entanto, já existem na Libia campos de detenção de imigrantes que tentam atravessar o Mediterrâneo - e onde as pessoas são detidas em péssimas condições, por vezes até vendidas como escravos.
A guarda costeira italiana enviou nos últimos dias uma mensagem aos capitães do barco ao largo da costa líbia pedido que não pedissem ajuda a Roma e sim a Trípoli. Em resposta, foram enviadas centenas de mensagens pedindo o restabelecimento das operações de salvamento.