Maior hospital dos Açores regista aumento de novos casos de VIH/sida
"Nós temos tido ultimamente cerca de 10, 12, 14 casos por ano", adiantou Francisco Melo Mota.
O director do serviço de doenças infecciosas do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, disse nesta sexta-feira que nos últimos anos tem aumentado o número de novos casos de VIH/sida que chegam ao maior hospital dos Açores.
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O director do serviço de doenças infecciosas do Hospital do Divino Espírito Santo (HDES), em Ponta Delgada, disse nesta sexta-feira que nos últimos anos tem aumentado o número de novos casos de VIH/sida que chegam ao maior hospital dos Açores.
"Nós temos tido ultimamente cerca de 10, 12, 14 casos por ano", adiantou Francisco Melo Mota aos jornalistas, à margem do curso de actualização em virologia clínica que decorre no Hospital de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel. O especialista lembrou que "no início do ano 2000" já se tinham registado "números bastante elevados", tendo em conta a população nos Açores, um cenário que foi depois alterado com "um decréscimo bastante acentuado".
Porém, nos últimos dois/três anos o número "aumentou ligeiramente", mas o responsável sublinhou também que muitos doentes de outras ilhas têm optado para ir para São Miguel (a maior ilha do arquipélago) devido ao estigma relacionado com a doença. Francisco Melo Mota defende uma aposta na prevenção, para contrariar o aumento de casos.
"A doença não tem cura ainda, quer dizer, por mais que se diga que as pessoas têm uma óptima qualidade de vida, nós temos doentes com mais de 20 anos em tratamento, mas não há cura, ficam presos o resto da vida, por assim dizer, à medicação", sublinhou.
Também o presidente da direcção da Sociedade Portuguesa de Virologia alertou para o "pico" nas doenças sexualmente transmissíveis em Portugal, como é o caso da sida, associando este fenómeno ao "excesso de confiança" da população e com o aparecimento das "terapêuticas eficazes" .
"As pessoas acham que não têm de se proteger e aquilo que nós assistimos no nosso dia-a-dia (e eu nunca assisti a isso e já sou microbiologista há mais de 30 anos) é um recrudescimento das doenças de infecção sexual, precisamente porque as pessoas agora não se protegem, acham que já não há doenças propriamente mortais e a sida nalguns locais está a reaparecer", disse Paulo Paixão.
Nos Açores há ainda outro vírus que causa preocupação: o da hepatite C, que aparece sobretudo associada à toxicodependência.
"Ainda nos aparecem muitos doentes [com hepatite C], pelo que estamos a ver cada vez há mais. Deveria, porventura, haver uma maior incidência na prevenção do uso de drogas ilícitas, endovenosas essencialmente, claro. Números exactos não lhe consigo dizer, mas neste momento nós temos cerca de 200 doentes à espera de fazer o Fibroscan (exame ao fígado) para poderem ser propostos a tratamento", disse.