Novo primeiro-ministro arménio é um ex-jornalista que combate a corrupção

Nikol Pashinyan foi o líder dos protestos nas ruas. Agora tem que levar a revolução mais longe e concretizar a mudança de regime. Com reformas, demissões e a aprovação de Moscovo.

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Depois de semanas de protestos nas ruas e de sinais contraditórios oriundos dos órgãos de poder, a Arménia iniciou uma transição política que pode significar o fim de um modelo que afogou o país na corrupção e no clientelismo. Uma semana depois de chumbar a nomeação de Nikol Pashinyan para o cargo de primeiro-ministro, a Assembleia Nacional decidiu nesta terça-feira oferecer a chefia do Governo ao líder da oposição.

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Depois de semanas de protestos nas ruas e de sinais contraditórios oriundos dos órgãos de poder, a Arménia iniciou uma transição política que pode significar o fim de um modelo que afogou o país na corrupção e no clientelismo. Uma semana depois de chumbar a nomeação de Nikol Pashinyan para o cargo de primeiro-ministro, a Assembleia Nacional decidiu nesta terça-feira oferecer a chefia do Governo ao líder da oposição.

A mudança de atitude do Partido Republicano (HHK), maioritário no Parlamento, é o derradeiro episódio das largas semanas de mobilização popular, cujo impacto já lhe deu o rótulo de Revolução de Veludo – por comparação com a transição na antiga Checoslováquia, que em 1989 pôs fim ao regime comunista. 

Tal como na semana passada, o ex-jornalista que se destacou por denunciar práticas abusivas de toda uma elite que governa a Arménia desde o desmoronamento da União Soviética, e que liderou os protestos das últimas semanas, era o único candidato a ocupar o cargo de primeiro-ministro. Nesta votação, porém, Pashinyan contou com o apoio de alguns deputados do HHK, que o ofereceram em nome da “unidade da nação”, tendo recolhido 59 votos favoráveis e 42 contra.

“Todas as pessoas são iguais perante a lei. Não haverá mais ninguém a beneficiar de privilégios na Arménia. Ponto final”, prometeu Pashinyan, citado pela Reuters.

Nikol Pashinyan assume o poder, na verdade, de forma interina. O novo primeiro-ministro prometeu convocar eleições legislativas para um futuro próximo, sendo que, até lá, ainda tem de convencer o Parlamento a aprovar os membros do seu Governo.

Para além disso, pretender pôr em marcha uma série de reformas que considera fulcrais para acabar com a corrupção e ao nepotismo vigente, pelo que são esperados alguns afastamentos de políticos e funcionários de topo com ligações ao HHK.

Estes afastamentos deverão ser monitorizados bem de perto pela Rússia, que pretende manter o país na sua esfera de influência. Até porque a grande maioria da elite que ocupa os cargos de poder em Ierevan tem relações próximas com a cúpula política, militar e empresarial russa.

Moscovo não costuma ver com bons olhos as alterações de regime por via popular nas ex-repúblicas soviéticas – veja-se o caso da Geórgia e da Ucrânia –, mas desta vez assumiu uma posição assumidamente neutral. E até foi dos primeiros países a felicitar Pashinyan.

A postura russa não é alheia às promessas do novo primeiro-ministro em manter a Arménia bem próxima de Moscovo e longe dos braços de Washington ou de Bruxelas. “Pashinyan e os líderes dos protestos pediram aos seus apoiantes para evitarem usar slogans anti-russos e pró-europeus”, disse à Reuters Thomas de Waal, do Carnegie Europe.

Lugar vago

O posto de líder do executivo arménio estava vago desde a renúncia de Serzh Sarksyan. Em fim de mandato, o ex-Presidente decidiu trocar a chefia do Estado pela liderança do Governo, mas acabou por se afastar ao fim de uma semana, face aos protestos massivos nas ruas da capital e de outras cidades da Arménia.

A população não gostou de ver Sarkisian passar de um cargo para o outro, tendo em conta as alterações constitucionais de 2015 promovidas pelo próprio e aprovadas em referendo. Destas resultou a transformação do sistema presidencial arménio num sistema parlamentar, e o consequente reforço dos poderes do primeiro-ministro, em detrimento do Presidente.

Na altura Sarkisian prometeu que não pretendia transferir-se para o Governo quando chegasse ao fim do seu segundo mandato, mas acabou por mudar de posição. O ruído da rua acabou por ditar o seu afastamento.