Duarte Coimbra pôs-se triste para fazer um filme feliz

O cineasta, de 21 anos, faz malabarismos melancólicos com som e imagem para se sentir feliz em Amor, Avenidas Novas , curta que levará à Semana da Crítica do Festival de Cannes.

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Duarte Coimbra tem um fraco pela melancolia. “Quando libertada, causa um fogo-de-artifício de emoções.” Isso é determinante, diz, quando se quer fazer um filme feliz. “Não o conseguiria, se não estivesse tão triste.” Dito assim parece uma dança do ventre. Nisso Duarte, 21 anos, finalista do Conservatório em 2016/2017, tem os seus mestres, que se chamarão Miguel Gomes e João Nicolau.
Sobre o primeiro: “Durante a escola de cinema foi a pessoa mais importante para mim. A estreia de As Mil e Uma Noites [2015] foi muito importante na altura... Nos filmes dele existe uma ideia de homenagear e de desconstruir o cinema, e sempre foi a minha preocupação: utilizar o cinema para as minhas ideias serem mais claras.” Amor, Avenidas Novas, a curta que, depois do prémio Novo Talento no Indielisboa, o leva, dia 15, à Semana da Crítica do Festival de Cannes, tem em vários cantos sinais de autocentramento e de melancolia, e exibições puras e cândidas de malabarismo com o som e com a pop que nos remetem para as curtas inicais de Gomes.
Sobre João Nicolau foca-se em Rapace (2006): “É um filme sobre um rapaz que é um slacker, um preguiçoso, mas é um gigante naquilo que faz.”
Duarte faz seu esse tipo de preguiçoso. A versão é agora transposta de Telheiras para a Almirante Reis, o que muda algo, porque Lisboa mudou. Chama-se Manel, atravessa a avenida com um colchão às costas – um colchão de casal, ele que está sozinho, em perda na concretização do ideal do amor. Mete-se pela rodagem de um filme que está a ser filmado na rua, todo ele liderado por raparigas (que epifania e que pesadelo para Manel...). É um musical no qual, numa canção, “café” rima com “cholé”.
Manel é interpretado por Manuel Lourenço, que é o músico Primeira Dama. Duarte viu nele um “full of shit humilde”, alguém com as qualidades de melancolia e pose para se destacar. O filme fez-se de uma negociação entre o que “atarantava” Duarte — “a dificuldade de aproximação ao sexo oposto” — e que é da sua vida privada (Amor, Avenidas Novas começa, aliás, com fotografias dos seus pais e as cartas de amor que enviaram um ao outro nos anos 80 do Quarteto, do Nimas, do mazagran, do gira-discos e de Lena d’Água — textos inventados por Duarte) e aquilo que interessa a Manuel: a relação com a Lisboa roubada aos lisboetas, tomada de assalto pelos turistas (digamos que aqui o realizador Duarte contrapõe algo ao autocentramento típico das personagens dos seus mestres Gomes e Nicolau). Manel, a personagem que se intoxica com melancolia, tem momentos ufanos em que se imagina, numa cidade e num país para inglês ver, a comprar tudo para ficar com Rita, por quem se apaixonou quando interrompeu a canção em que “café” rima com “cholé”.
“Interessa-me nos filmes do Miguel Gomes e do João Nicolau isso de o cinema ser um arquivo de lugares e de expressões, de pessoas e de música. A Avenida Almirante Reis, por exemplo, é o sítio onde vive a maior parte dos meus amigos.” A canção que atravessa Manel é das Pega Monstro [Savanna 74]. A banda das irmãs Júlia Reis e Maria Reis foi importante para Duarte: “Ajudou-me a aguentar o peso da escola de cinema. Sobretudo a música do primeiro disco delas [Pega Monstro, 2012], muito pungente e cheia de força, mas com uma inocência radical. Queria prestar homenagem à música que estava a ser feita na altura e que me acompanhou.”
Encher um filme com os amigos, “fazer um cinema com as pessoas que têm uma ligação às imagens que estão a ser filmadas”: neste momento para Duarte o cinema é um pacto colectivo. “Queria continuar a fazer filmes com os meus amigos. Eles ajudam-me, eu a eles — apesar de isso poder ser incompatível com uma arte que tem uma ligação forte com o dinheiro.” Da sua turma, outro filme de escola, Onde o Verão Vai, de David Pinheiro Vicente, foi seleccionado para outro dos grandes festivais, Berlim, sinal de que há um momento diferente na recepção e consideração dos trabalhos dos alunos da escola de cinema: “exercício final” passou a ser descrição objectiva, não uma limitação ou consideração subjectiva. “No caso das nossas curtas de final de curso, sabíamos que estávamos protegidos pela escola. Sinto-me lisonjeado por ter no filme pessoas que me ajudaram, com quem discuti ideias de argumento e de enquadramento. Quero continuar a fazer este cinema com pessoas que têm uma ligação às imagens que estão a ser filmadas.”

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Duarte Coimbra tem um fraco pela melancolia. “Quando libertada, causa um fogo-de-artifício de emoções.” Isso é determinante, diz, quando se quer fazer um filme feliz. “Não o conseguiria, se não estivesse tão triste.” Dito assim parece uma dança do ventre. Nisso Duarte, 21 anos, finalista do Conservatório em 2016/2017, tem os seus mestres, que se chamarão Miguel Gomes e João Nicolau.
Sobre o primeiro: “Durante a escola de cinema foi a pessoa mais importante para mim. A estreia de As Mil e Uma Noites [2015] foi muito importante na altura... Nos filmes dele existe uma ideia de homenagear e de desconstruir o cinema, e sempre foi a minha preocupação: utilizar o cinema para as minhas ideias serem mais claras.” Amor, Avenidas Novas, a curta que, depois do prémio Novo Talento no Indielisboa, o leva, dia 15, à Semana da Crítica do Festival de Cannes, tem em vários cantos sinais de autocentramento e de melancolia, e exibições puras e cândidas de malabarismo com o som e com a pop que nos remetem para as curtas inicais de Gomes.
Sobre João Nicolau foca-se em Rapace (2006): “É um filme sobre um rapaz que é um slacker, um preguiçoso, mas é um gigante naquilo que faz.”
Duarte faz seu esse tipo de preguiçoso. A versão é agora transposta de Telheiras para a Almirante Reis, o que muda algo, porque Lisboa mudou. Chama-se Manel, atravessa a avenida com um colchão às costas – um colchão de casal, ele que está sozinho, em perda na concretização do ideal do amor. Mete-se pela rodagem de um filme que está a ser filmado na rua, todo ele liderado por raparigas (que epifania e que pesadelo para Manel...). É um musical no qual, numa canção, “café” rima com “cholé”.
Manel é interpretado por Manuel Lourenço, que é o músico Primeira Dama. Duarte viu nele um “full of shit humilde”, alguém com as qualidades de melancolia e pose para se destacar. O filme fez-se de uma negociação entre o que “atarantava” Duarte — “a dificuldade de aproximação ao sexo oposto” — e que é da sua vida privada (Amor, Avenidas Novas começa, aliás, com fotografias dos seus pais e as cartas de amor que enviaram um ao outro nos anos 80 do Quarteto, do Nimas, do mazagran, do gira-discos e de Lena d’Água — textos inventados por Duarte) e aquilo que interessa a Manuel: a relação com a Lisboa roubada aos lisboetas, tomada de assalto pelos turistas (digamos que aqui o realizador Duarte contrapõe algo ao autocentramento típico das personagens dos seus mestres Gomes e Nicolau). Manel, a personagem que se intoxica com melancolia, tem momentos ufanos em que se imagina, numa cidade e num país para inglês ver, a comprar tudo para ficar com Rita, por quem se apaixonou quando interrompeu a canção em que “café” rima com “cholé”.
“Interessa-me nos filmes do Miguel Gomes e do João Nicolau isso de o cinema ser um arquivo de lugares e de expressões, de pessoas e de música. A Avenida Almirante Reis, por exemplo, é o sítio onde vive a maior parte dos meus amigos.” A canção que atravessa Manel é das Pega Monstro [Savanna 74]. A banda das irmãs Júlia Reis e Maria Reis foi importante para Duarte: “Ajudou-me a aguentar o peso da escola de cinema. Sobretudo a música do primeiro disco delas [Pega Monstro, 2012], muito pungente e cheia de força, mas com uma inocência radical. Queria prestar homenagem à música que estava a ser feita na altura e que me acompanhou.”
Encher um filme com os amigos, “fazer um cinema com as pessoas que têm uma ligação às imagens que estão a ser filmadas”: neste momento para Duarte o cinema é um pacto colectivo. “Queria continuar a fazer filmes com os meus amigos. Eles ajudam-me, eu a eles — apesar de isso poder ser incompatível com uma arte que tem uma ligação forte com o dinheiro.” Da sua turma, outro filme de escola, Onde o Verão Vai, de David Pinheiro Vicente, foi seleccionado para outro dos grandes festivais, Berlim, sinal de que há um momento diferente na recepção e consideração dos trabalhos dos alunos da escola de cinema: “exercício final” passou a ser descrição objectiva, não uma limitação ou consideração subjectiva. “No caso das nossas curtas de final de curso, sabíamos que estávamos protegidos pela escola. Sinto-me lisonjeado por ter no filme pessoas que me ajudaram, com quem discuti ideias de argumento e de enquadramento. Quero continuar a fazer este cinema com pessoas que têm uma ligação às imagens que estão a ser filmadas.”