Trump anuncia hoje decisão sobre nuclear iraniano
Europeus e Irão dispostos a salvar o acordo mesmo sem os EUA. Rasgar o documento assinado em 2015 é abrir a porta à proliferação nuclear no Médio Oriente, defendem. O único vencedor seria Teerão, disse Boris Johnson no Fox & Friends.
Enquanto continua o raide diplomáticos europeu junto de Donald Trump para tentar salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015, Teerão admitiu que não vê problemas em continuar a cumprir as suas obrigações se os Estados Unidos abandonarem o pacto – Trump tem até sábado, dia 12, mas escreveu no Twitter que vai anunciar a sua decisão terça-feira às 14h, em Washington.
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Enquanto continua o raide diplomáticos europeu junto de Donald Trump para tentar salvar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, assinado em 2015, Teerão admitiu que não vê problemas em continuar a cumprir as suas obrigações se os Estados Unidos abandonarem o pacto – Trump tem até sábado, dia 12, mas escreveu no Twitter que vai anunciar a sua decisão terça-feira às 14h, em Washington.
“O que o Irão quer é que nossos interesses continuem a ser garantidos pelos outros signatários”, assegurou o Presidente Hassan Rohani. “Nesse caso, livrar-nos da presença nociva da América não incomoda o Irão”.
Não é só nos EUA que há defensores e críticos ferozes do acordo – também nos centros de poder iranianos há radicais que preferiam que este nunca tivesse sido alcançado. Um conselheiro do Guia Supremo, Ali Khamenei, avisara há dias que os iranianos rasgarão o acordo se Washington o abandonar. Oficialmente, o ayatollah tem a última palavra em política externa, mas o certo é as negociações foram bem-sucedidas dois anos após a eleição de Rohani, sem que o mais poderoso homem do país travasse o processo.
Ao contrário do Presidente francês, Emmanuel Macron, e da chanceler alemã, Angela Merkel, que passaram por Washington nas últimas semanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico esteve na capital dos EUA sem ser recebido por Trump. Boris Johnson encontrou-se com o vice-presidente, Mike Pence, e com o novo conselheiro para a Segurança Nacional, o radical John Bolton, que desde a Administração de George W. Bush defende uma intervenção militar contra Teerão.
Outra forma encontrada por Johnson para chegar a Trump foi a presença, esta segunda-feira, no programa de televisão que o Presidente dos EUA nunca perde, o Fox & Friends. Como muitos dirigentes europeus e até de países do Médio Oriente, o britânico defendeu que o Irão seria o único a beneficiar do fim do acordo – até Israel, onde o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, insiste que Teerão viola o acordo e que este tem de ser “completamente revisto ou completamente rasgado”.
“Um anúncio americano de que se retirará do acordo permitirá ao Irão abrir divisões entre as potências mundiais e livrar-se gradualmente da vigilância internacional ao seu programa nuclear”, diz o general israelita na reforma, Amos Gilad, citado pelo diário Ha’aretz.
Como acontece com as principais crises actuais, a Casa Branca não parece ter uma política estruturada em relação ao Irão nem se conhece um plano B em opção ao acordo que Trump descreve como “o pior de sempre” e com “erros desastrosos”. “Se os americanos abandonarem o acordo têm de preparar alternativas e não vejo que isto esteja a ser feito”, nota Gilad.
Mundo mais seguro
Assinado depois de longas negociações, este documento obrigou o Irão a enviar para a Rússia toneladas de urânio enriquecido, diminuir drasticamente o número de centrifugadoras (máquinas usadas para enriquecer urânio) e proibiu o país de enriquecer urânio ao nível necessário para a produção de armas nucleares. Para além disso, monitores da Agência Internacional de Energia Atómica passaram a poder fazer inspecções não anunciadas às instalações nucleares do país.
As negociações foram lideradas pelo então secretário de Estado de Barack Obama, John Kerry, em cooperação próxima com o Reino Unido e a França, membros com a Rússia e China (também signatários) do Conselho de Segurança da ONU, e a Alemanha (5+1). Agora têm sido Berlim, Paris e Londres a encabeçar a pressão, orquestrando uma operação diplomática pública e de bastidores para preservar o pacto.
Um dia depois de Macron ter dito que um abandono do acordo pode levar a uma guerra, os ministros Negócios Estrangeiros da França e da Alemanha estiveram reunidos. Para Heiko Maas, “não há qualquer justificação para abandonar um pacto” que deixou o mundo mais seguro. “Estamos determinados em salvar o acordo porque é uma salvaguarda contra a proliferação nuclear e a maneira certa de impedir que o Irão obtenha armas nucleares”, afirmou Jean-Yves Le Drian. “Vamos ter de lidar com a decisão [dos EUA] mas como disse Jean-Yves, não abandonamos o acordo”, insistiu Maas.
“Vamos bombardear?”
Em troca do travão a fundo no nuclear foram levantadas sanções económicas que praticamente destruíram o tecido fabril iraniano, afastaram de Teerão milhões em rendimentos da exportação de petróleo e contribuíram para um aumento colossal do desemprego e da inflação. Aceitando que o acordo tem problemas – como o facto de só limitar as actividades nucleares até 2025 – Johnson diz que estes podem ser resolvidos. Caso contrário, o que acontecerá “depois”: “Estamos seriamente a dizer que vamos bombardear estas instalações?”.
“De todas as opções que dispomos para assegurar que o Irão nunca desenvolverá uma arma nuclear, este pacto é o que oferece menos desvantagens”, escreveu Johnson num artigo publicado no jornal The New York Times. “Tem as suas fraquezas, claro, mas tenho a certeza que pode ser melhorado.”
Numa de várias piscadelas de olho ao líder americano, o ministro britânico citou Winston Churchill, cujo busto foi levado por Trump para a Sala Oval pouco depois da tomada de posse. “A famosa conclusão de Churchill foi que a democracia constitui a ‘pior forma de governo – com excepção de todas as outras já tentadas’”, lembrou Johnson. “O mesmo acontece com o acordo que o Presidente está agora a rever”.