Presidente do Irão critica violentamente Donald Trump
“Como pode um comerciante, um mercador, fazer julgamentos sobre assuntos de política internacional?”, afirmou Rohani.
O Presidente iraniano, Hassan Rohani, condenou as conversações entre os Presidentes dos Estados Unidos e de França sobre o acordo nuclear de 2015. “Diz que está a tomar decisões com um líder europeu sobre um acordo assinado por sete parceiros. Quem é que o autorizou?”, disse Rohani, interpelando directamente Donald Trump.
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O Presidente iraniano, Hassan Rohani, condenou as conversações entre os Presidentes dos Estados Unidos e de França sobre o acordo nuclear de 2015. “Diz que está a tomar decisões com um líder europeu sobre um acordo assinado por sete parceiros. Quem é que o autorizou?”, disse Rohani, interpelando directamente Donald Trump.
“Antes de mais, deve respeitar o que o assinou, o que o anterior Presidente e ministro dos Negócios Estrangeiros [do seu país] disseram. Só depois deve levantar novos assuntos”, afirmou Rohani, num discurso na cidade de Tabriz, transmitido na televisão iraniana.
Foi um discurso dirigido ao Presidente dos Estados Unidos, em que descredibilizou o seu homólogo, tratando-o com desprezo. “Não tem formação em política. Não tem formação em leis. Não tem formação em tratados internacionais”, afirmou Rohani, visando Trump. “Como pode um comerciante, um mercador, um empreiteiro da construção civil, um construtor de torres, fazer julgamentos sobre assuntos de política internacional?”, acrescentou, citado pela Reuters, referindo-se à carreira do Presidente dos EUA como empresário do sector imobiliário.
Ao receber o Presidente francês na Sala Oval da Casa Branca, Donald Trump classificou o acordo nuclear com o Irão como “terrível, louco e ridículo”. “Este é um acordo com alicerces podres. É um mau acordo. Está a ruir”, afirmou.
Emmanuel Macron, ao seu lado, disse ter discutido com o seu homólogo norte-americano a possibilidade de “um novo acordo”, acessório ao que os EUA e os seus parceiros europeus assinaram no pacto de 2015 (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e União Europeia), no qual poderiam abordar as preocupações dos EUA que vão para além da questão nuclear – como o desenvolvimento de tecnologia militar por Teerão.
Macron, no entanto, não adiantou grande coisa sobre o que poderia constar desse acordo que iria para além de travar o enriquecimento de combustível nuclear em troca do alívio de sanções económicas a Teerão.
Trump disse apenas que poderia estar aberto a esta via, se o novo acordo negociado pelos europeus “fosse suficientemente forte”, diz o New York Times.
Em Genebra, Christopher Ford, o enviado norte-americano para a não-proliferação nuclear, declarou esta quarta-feira que os EUA não pretendem reabrir ou renegociar o acordo nuclear com o Irão, mas esperam permanecer nele ou corrigir os seus defeitos com um acordo suplementar, diz a Reuters.
O Presidente norte-americano tem de assinar até 12 de Maio os documentos que renovam o levantamento de sanções ao Irão, no âmbito do acordo de 2015 – tem de fazê-lo de três em três meses, o que é um ponto de fricção permanente. E, desta vez, fez um ultimato aos parceiros europeus do acordo para que encontrem uma forma de endurecer o acordo com Teerão, ou então ameaçou não renovar a autorização para levantar as sanções.
Até esta semana, as autoridades iranianas tinham sugerido que manteriam os seus compromissos no âmbito do acordo que assinaram e não voltariam a produzir urânio enriquecido na escala que preocupa o Ocidente. Mas, com a retórica norte-americana a subir de tom, e o prazo-limite de 12 de Maio a aproximar-se, houve uma mudança.
No fim-de-semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif, avisou que o Irão não terá incentivos a ficar atado ao acordo se os EUA se desligarem, e poderá voltar a produzir urânio enriquecido. E agora, com a sugestão de Macron de que poderia haver vontade de negociar mais um acordo, o Presidente Rohani deu esta resposta dura, visando Donald Trump.
Talvez porque os países co-signatários do acordo de 2015 parecem agora determinados a encontrar uma forma de ir ao encontro das preocupações da Administração norte-americana, provavelmente com um pacote de novas sanções, diz a Reuters, depois de consultar vários diplomatas.
"O que está em causa é convencer o Presidente Trump, e não negociar um novo acordo", disse um responsável da diplomacia da União Europeia à Reuters.