Segunda-feira é noite zombie – The Walking Dead e Fear the Walking Dead cruzam-se pela primeira vez
Os actores Lennie James (Morgan) e Steven Ogg (Simon, a última vítima de Negan) falam ao PÚBLICO sobre o final da oitava temporada da popular série e o recomeço de nova vaga da prequela que a prolonga. Em transição entre uma e outra, a personagem de Morgan tenta manter o universo deste franchise relevante.
Há oito anos, quem explicou os zombies ao protagonista de The Walking Dead que, como os espectadores incautos, acabava de acordar para o apocalipse, foi Morgan. Agora, é o mesmo Morgan a primeira personagem a passar da série-mãe para a sua prequela Fear the Walking Dead. Esta segunda-feira é noite zombie na TV portuguesa, com o fim da oitava temporada de The Walking Dead e com a estreia imediata da quarta de Fear the Walking Dead. As populares séries estão a perder audiências mas mantêm o fanatismo à sua volta, contando as mortes. Steve Ogg, cuja personagem foi morta há uma semana, ri-se ao telefone com o PÚBLICO. “Gosto sempre de lembrar às pessoas que não é um documentário.”
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Há oito anos, quem explicou os zombies ao protagonista de The Walking Dead que, como os espectadores incautos, acabava de acordar para o apocalipse, foi Morgan. Agora, é o mesmo Morgan a primeira personagem a passar da série-mãe para a sua prequela Fear the Walking Dead. Esta segunda-feira é noite zombie na TV portuguesa, com o fim da oitava temporada de The Walking Dead e com a estreia imediata da quarta de Fear the Walking Dead. As populares séries estão a perder audiências mas mantêm o fanatismo à sua volta, contando as mortes. Steve Ogg, cuja personagem foi morta há uma semana, ri-se ao telefone com o PÚBLICO. “Gosto sempre de lembrar às pessoas que não é um documentário.”
The Walking Dead é, quase uma década depois da sua estreia, um franchise com o seu próprio director de conteúdos – o seu antigo showrunner Scott M. Gimple –, três séries, videojogos e, claro, o comic original. Entrou nas vidas televisivas como um corte epistemológico na discussão sobre o que é ou não televisão de massas, dando entrada em milhões de lares espalhados pelo mundo ao protagonista Rick Grimes, a Morgan e muitos outros que entretanto morreram ou sobreviveram. “Ninguém esperava que a série se tornasse o que se tornou, ninguém esperava que a série fizesse o que fez à televisão – não só pelo número de pessoas que a vêem mas pela forma como a vêem e pelo facto de ter inventado a ideia de haver uma série sobre uma série [o talk show Talking Dead], além de um spin-off”, recorda Lennie James, que interpreta Morgan, ao telefone com o PÚBLICO.
Se nos EUA as séries pertencem ao mesmo canal, o AMC, em Portugal o filão Walking Dead divide-se entre a Fox, que exibe o final da oitava temporada às 22h15 de segunda-feira (mas também é exibido em simultâneo com os EUA na madrugada deste domingo para segunda), e o AMC, em que a quarta temporada de Fear The Walking Dead se estreia às 23h20 do mesmo dia.
Ainda que tenha dezenas de milhões de fãs em todo o mundo, o franchise já passou o seu pico de popularidade – nos EUA a média de audiências desta temporada ronda os oito milhões e, no caso da prequela, está à volta dos dois milhões. Em 2015, quando chegou, Fear the Walking Dead atingiu dez milhões de espectadores, e a série-mãe tinha sempre mais de 12 milhões de pessoas frente ao ecrã, atingindo mesmo os 17 milhões em alguns episódios. Na temporada passada, foi a série mais vista em Portugal.
“Suster-se agora, depois de ter sobrevivido e de se ter mantido relevante durante oito anos, vai ser o próximo desafio”, diz o britânico Lennie James. Fear the Walking Dead é uma prequela que parte de Los Angeles, onde se assiste ao início do apocalipse, e se centra em Madison Clark (Kim Dickens) e seu grupo. Já passou pelo Oceano Pacífico, pelo México e agora está no Texas. The Walking Dead está na costa oposta dos EUA, entre Atlanta e o Sul da Geórgia. Esta noite zombie na televisão por subscrição é um “acontecimento” que simboliza uma “expansão do universo”, como diz o actor britânico, e tenta contrariar essa perda relativa do público de massas – começam os cruzamentos entre as séries, alarga-se o seu mundo, brincar-se-á com o tempo. “Não sei o que vem a seguir mas sei que todos os envolvidos já provaram que sabem navegar por águas desconhecidas, como fazem desde o início, e acho que o conseguem fazer outra vez”, diz James.
O parente rico desta família em decomposição é The Walking Dead, de onde sairá Morgan rumo à série que foi sua prequela. É um prenúncio de um salto temporal? “Não posso responder", diz com a habitual cautela quanto a spoilers que envolve esta série, "mas posso dizer que na quarta temporada de Fear estão a brincar ligeiramente com o tempo e com o sítio onde estão personagens, e a história não é contada necessariamente em linha recta”, acede Lennie James.
Evoca recursos narrativos que, a par das mortes impiedosas e sangrentas, esta série de zombies que sempre avisou não ser sobre zombies tem usado cada vez mais. Palavra de zombie: “É um buffet. É uma aventura divertida, é uma novela gráfica, é uma fuga”, diz Steve Ogg ao PÚBLICO horas depois de Simon, a sua personagem, braço direito de um dos mais emblemáticos vilões da TV popular recente, ter sido morto por Negan e transformado em morto-vivo. Um final que encara com a leveza que defende para este mundo vivido com tanta solenidade, dentro e fora do ecrã.
“Foi obviamente divertido. Ficamos contentes como uma criança: ‘olha, olha o que me deixaram fazer! Olhem para mim’”, diz sobre a sua caracterização como zombie no final do 15.º episódio. “Acho divertido que as pessoas levem a série tão a sério, que fiquem tão emocionadas. Mas ao mesmo tempo é um pouco triste [deixá-la] porque o nosso tempo na série terminou”, admite. Por mais central e amada que seja a personagem, a morte está sempre ao virar da esquina. Foi o que pensou Lennie James quando, depois de uma reunião com o elenco no início da temporada, Scott Gimple o chamou para um encontro privado. “Na viagem até lá pensei que a nossa conversa ia ser que Morgan ia ter um típico fim Walking Dead", confessa, "mas revelou-se algo completamente diferente”.
A passagem da sua personagem para outra série é um evidente expediente de manutenção do império Walking Dead mas também, destaca o actor, a possibilidade de “contar a história do Morgan numa nova paisagem e de contar diferentes partes da história dele que seriam difíceis ou problemáticas em The Walking Dead, que tem de seguir até certo ponto o caminho da novela gráfica – em que Morgan já não está vivo”, recorda o actor. “Apesar de as pessoas o conhecerem muito bem, ainda há muito que não é conhecido do Morgan”, lembra sobre a personagem que passou os últimos três anos no centro da narrativa.
Agora, o seu caminho chega ao fim em The Walking Dead, série em que, diz Steven Ogg, “seria agradável que alguma coisa boa acontecesse a Rick – por amor de deus!”. O actor de Westworld e Better Call Saul sonha alto e brinca com o peso moral que esmaga o protagonista e o negrume da série que se leva tão a sério: “Eles precisam desesperadamente de um grande positivismo. Que acontecesse algo de simpático”.