Há um novo serviço de saúde itinerante para a população LGBT
Profissionais capazes de assegurar cuidados de saúde, incluindo psicológicos, e apoio jurídico vão percorrer a zona Norte do país numa unidade móvel preparada para deixar entrar lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.
Chama-se Gis – Gabinete Itinerante de Saúde mas o nome remete também para Gisberta, a transexual brasileira que foi torturada e assassinada por um grupo de jovens, em Fevereiro de 2006, no centro do Porto. A nova unidade móvel que vai percorrer a zona Norte do país para ir ao encontro da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) é apresentada esta sexta-feira, em Matosinhos, durante a Feira da Saúde, numa cerimónia que decorre no mesmo dia em que, no Parlamento, se vota na especialidade a nova lei de identidade do género.
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Chama-se Gis – Gabinete Itinerante de Saúde mas o nome remete também para Gisberta, a transexual brasileira que foi torturada e assassinada por um grupo de jovens, em Fevereiro de 2006, no centro do Porto. A nova unidade móvel que vai percorrer a zona Norte do país para ir ao encontro da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) é apresentada esta sexta-feira, em Matosinhos, durante a Feira da Saúde, numa cerimónia que decorre no mesmo dia em que, no Parlamento, se vota na especialidade a nova lei de identidade do género.
A única unidade móvel de atendimento e rastreio à população LGBT propõe-se levar os cuidados de saúde e o aconselhamento jurídico a toda a zona Norte do país, quebrando o isolamento de uma população que, por razões económicas ou outras, não consegue deslocar-se a Matosinhos, onde funciona o Centro Gis, criado em 2017, para promover a saúde e o bem-estar e favorecer a integração das populações que não se encaixam normatividade heterossexual.
“Somos o único centro de respostas especializado em toda a região Norte e é frequente deslocarmo-nos a Viana do Castelo, Bragança, Santa Maria da Feira ou Coimbra, por exemplo, para dar apoio psicológico, jurídico e endocrinológico, mas acontecia os utentes telefonarem-nos ou contactarem-nos via Facebook a pedir atendimento, sendo que, por falta de dinheiro ou insegurança, não conseguiam chegar até nós. Com esta unidade móvel, é possível deslocarmo-nos, estacionarmos e fazermos o atendimento, sem que essas pessoas tenham, por exemplo, de correr o risco de irem até um serviço público e serem identificadas”, descreveu Paula Allen, coordenadora do Centro Gis, dinamizado pela Plano i, uma organização sem fins lucrativos dedicada à promoção da igualdade e da inclusão.
No primeiro ano de funcionamento, o Centro Gis atendeu cerca de 180 utentes, dos quais “mais de metade transexuais à procura de apoio psicológico e psiquiátrico, bem como ajuda no processo de mudança dos documentos de identificação civil”.
Segundo Paula Allen, “estas pessoas costumam chegar com problemas de ansiedade e depressão”, sendo que algumas começaram ali o processo de transformação hormonal de forma gratuita. “A consulta de endocrinologia só não cobre a cirurgia de mudança de sexo, precisa a coordenadora. Entre as lésbicas, gays ou bissexuais, as questões são diferentes. “Ou sofreram de homofobia ou tiveram um casamento heteronormativo anterior com filhos e querem tratar do divórcio sem perder a guarda das crianças ou estão com dificuldades em assumir a sua orientação sexual no local de trabalho…”.
Num dos casos, o utente era um bebé de três anos cujos pais foram à procura de saber “como actuar, em casa mas também no infantário, perante a vontade da criança vestir vestidos, brincar com os brinquedos típicos de menina e a recusa em cortar o cabelo”.
Carrinha vai à Queima e aos bares LGBT
Além de atender a estes pedidos individuais, o Gis poderá com a nova unidade móvel, financiada pela Fundação EDP, com o apoio da Câmara e da Junta de Matosinhos, da Comissão para a Igualdade de Género e da Secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, estacionar nos recreios das escolas, proporcionando atendimentos de psicologia a alunos mas também a formação de professores e auxiliares quanto às questões de orientação sexual e identidade de género. “Ainda há um desconhecimento muito grande nas escolas, mas também nos centros de saúde e entre os técnicos de acção social em relação à lei que vigora e muito mais em relação às alterações que estão a ser preparadas”, sustenta Paula Allen.
A unidade móvel vai doravante ser usada também para acompanhar o roteiro de espaços de animação nocturna LGBT da cidade do Porto, para, no âmbito de um protocolo com a Direcção-Geral de Saúde, “distribuir panfletos informativos, prestar esclarecimentos e deixar preservativos e gel lubrificante para as pessoas”. Na próxima Queima das Fitas, e em parceria com a associação Médicos do Mundo, a carrinha irá também ao encontro dos estudantes, dotada de enfermeiros capazes de fazerem rastreios de VIH, hepatite e sífilis.