“Italianos primeiro” ou como Salvini sequestrou a campanha com a “invasão migratória”
O líder da Liga, membro do partido desde os 17 anos, quer ser primeiro-ministro a qualquer custo. Promete sair de Milão para "recuperar o país".
A oito dias das eleições legislativas de 4 de Março, Matteo Salvini encenou uma tomada de posse no seu grande comício de Milão. Em palco, de terço na mão, jurou sobre a Constituição e o Evangelho. Antes gritara contra “este antifascismo raivoso que incendeia praças”, questionando se “não será uma arma de distracção para provocar a discórdia”.
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A oito dias das eleições legislativas de 4 de Março, Matteo Salvini encenou uma tomada de posse no seu grande comício de Milão. Em palco, de terço na mão, jurou sobre a Constituição e o Evangelho. Antes gritara contra “este antifascismo raivoso que incendeia praças”, questionando se “não será uma arma de distracção para provocar a discórdia”.
“Empenho-me e juro ser fiel ao meu povo, 60 milhões de italianos, servir com honestidade e coragem, aplicar verdadeiramente o que está previsto na Constituição italiana, há muito ignorada, e respeitando os ensinamentos contidos neste Evangelho sagrado”, afirmou, perante 15 a 20 mil apoiantes na praça Duomo da capital do Norte de Itália. “Eu juro, vocês juram comigo? Vamos governar, recuperemos este país”.
Salvini, 44 anos, acredita que vai liderar o governo mas é quase impossível difícil que assim aconteça. Tem uma aliança com a Força Itália de Silvio Berlusconi (mais os Irmãos de Itália e outras pequenas formações de extrema-direita) e um acordo – quem for mais votado escolhe o chefe do executivo. “Salvini tem o forte desejo de brilhar no seio da coligação. Mas, segundo as últimas sondagens, a Liga está quatro pontos atrás de nós”, afirmou Berlusconi, irritado com as pretensões do aliado/ rival.
Dificilmente o líder da Liga com Salvini (para a sua estratégia, a Liga deixou de se chamar Liga Norte, esquecendo as ambições secessionistas que deram origem ao partido) chagará a liderar o país, mas já sequestrou a campanha com a retórica anti-imigração e a promessa de “travar a invasão” de estrangeiros, particularmente criticada pela Igreja Católica.
“Prima gli Italiani”, ou “Italianos primeiro” é o slogan principal de Salvini, inspirado em Donald Trump. Cartazes repletos de retratos de gente sorridente que o site TheVision garante serem modelos eslovacos e checos – e que têm sido colados por imigrantes, os mesmos que ele pretende expulsar mal chegue ao poder.
A 3 de Fevereiro, quando o ex-candidato a umas eleições locais pela Liga Luca Traini disparou contra seis africanos de diferentes nacionalidades na sua cidade de Macerata, Salvini responsabilizou os imigrantes pelo “tráfico de droga, roubos, violações e violência”. E quando as pessoas de Macerata saíram à rua contra o racismo, afirmou sentir-se “envergonhado enquanto italiano”.
O que seguiu foi uma explosão de violência que tem oposto nas ruas estudantes e activistas dos centros sociais a grupos de extrema-direita, membros de movimentos comunistas a militantes de partidos fascistas, gente que tenta impedir comícios de extrema-direita a polícias… Há feridos e detidos, cenas de batalhas urbanas como em Turim ou Nápoles.
Deportações “em 15 minutos”
Salvini começou a militar na Liga aos 17 anos e aos 20 já era conselheiro municipal em Milão. Começou cedo a dar nas vistas, com propostas como a de reservar lugares para os italianos nos transportes públicos da cidade. Com ele, que tomou as rédeas do partido das mãos do fundador, Umberto Bossi, a Liga prevê pelo menos triplicar a votação (obteve 4% em 2013). Em vez de gritar contra Roma, como Bossi, passou a gritar contra Bruxelas, que culpa pela “invasão migratória”, prometendo que cada imigrante que chegue ilegalmente ao país será deportado “em 15 minutos”.
Quando 30% dos eleitores diz que pode decidir o seu voto em função da imigração (eram menos de 5% há cinco anos, mas entretanto chegaram ao país 600 mil imigrantes) o discurso incendiário de Salvini arrastou Berlusconi. E com tantos pequenos partidos que não renegam o fascismo nos boletins de voto, do CasaPound ao Força Nacional, o rastilho estendeu-se pelo país.
Admirador confesso de Vladimir Putin e de Donald Trump, aliado na Europa da Frente Nacional de Marine Le Pen, também quer encerrar todas as mesquitas do país. Aliás, considera Le Pen “demasiado laica”. Com uma utilização permanente das redes sociais (tem 6400 seguidores no Twitter e mais de 2 milhões no Facebook) interage com os apoiantes num estilo directo, e desdenha o politicamente correcto.
“Hipócritas!, responde às críticas de racismo. “Tenho o direito e o dever de não ficar quieto, de gritar que a imigração sem freios é um perigo e que o islão não é uma religião de paz”.