Birmânia acusada de esconder provas de execuções de rohingya
Organização de defesa dos direitos da minoria muçulmana diz que as autoridades estão a destruir o que resta das valas comuns que provavam os abusos cometidos pelos militares.
O Governo birmanês está a destruir as valas comuns onde terão sido enterrados rohingya executados de forma sumária pelo Exército e por milícias armadas, segundo um grupo de defesa dos direitos desta minoria. As autoridades dizem que estão apenas a preparar o “realojamento” dos refugiados que estão em vias de regressar ao país.
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O Governo birmanês está a destruir as valas comuns onde terão sido enterrados rohingya executados de forma sumária pelo Exército e por milícias armadas, segundo um grupo de defesa dos direitos desta minoria. As autoridades dizem que estão apenas a preparar o “realojamento” dos refugiados que estão em vias de regressar ao país.
Imagens enviadas ao jornal britânico The Guardian pelo Arakan Project, que documenta abusos cometidos contra os rohingya pelas autoridades birmanesas, mostram uma vala comum antes de ser destruída por bulldozers, em que até é possível vislumbrar restos mortais das vítimas.
A directora da organização, Chris Lewa, diz que as imagens provam que o Governo birmanês está por trás de um esforço concertado para esconder os indícios de que os militares executaram civis durante a ofensiva iniciada no Verão passado e que foi descrita pela ONU como uma tentativa de “limpeza étnica”.
“Dois dos locais das valas comuns que conhecíamos já tinham sido revelados pelos media, mas na quinta-feira um dos outros locais das valas foi destruído. Isto significa que as provas das execuções estão a ser destruídas”, afirmou Lewa, citada pelo Guardian.
Outras organizações de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch, que documentou a destruição de aldeias pelo Exército durante a operação militar, manifestam preocupações semelhantes. “Receamos que isto possa ser parte de esforços mais generalizados para esconder as atrocidades cometidas pelas forças de segurança birmanesas”, disse ao Guardian o vice-director para a Ásia, Phil Robertson.
O Governo admite a existência de uma operação de limpeza nas áreas onde ocorreram os combates, mas diz tratar-se de preparativos para o regresso dos milhares de refugiados rohingya que nos últimos meses fugiram para o Bangladesh. “O governo local está a limpar a área, não há camponeses nem casas, apenas campo aberto”, afirmou o porta-voz Zaw Htay.
O Governo nega também que se esteja a esconder provas da existência de valas comuns. “Por favor, apresentem provas confiáveis, concretas e firmes, não apenas baseadas nas histórias contadas pelos bengali à volta do mundo ou pelos seus apoiantes”, afirmou Htay.
Apesar de a Birmânia ter pela primeira vez desde a independência um Governo liderado por civis – após 50 anos de uma ditadura militar –, o Exército continua a deter um forte controlo sobre alguns dos principais aspectos da vida pública. A Birmânia não reconhece os rohingya como uma minoria étnica, qualificando-os de “imigrantes bengalis”, e impôs um regime de forte exclusão, que os impede de estudar, movimentar-se livremente e até de procurar trabalho.
Uma investigação da Reuters no estado de Rakhine revelou que pelo menos um grupo de dez rohingya foi executado de forma sumária por militares e milicianos, e atirados para uma vala. Dois dos jornalistas envolvidos na reportagem acabaram por ser detidos pela polícia birmanesa.
Uma missão da ONU para avaliar potenciais abusos por parte do Exército foi impedida de entrar no país, assim como o enviado-especial das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
O Governo birmanês insiste que os militares não cometeram abusos durante a ofensiva, que dizem ter sido focada num grupo considerado terrorista. Porém, em Janeiro, o Exército reconheceu pela primeira vez que os militares participaram no massacre revelado pela Reuters e prometeu investigar – no entanto, justificou a acção como uma resposta a uma “provocação” por parte de “terroristas”.