Quando uma fotografia (no Instagram) vale ouro
César Ovalle, influenciador e "subcelebridade" com 395 mil seguidores no Instagram, festejou o seu 38º aniversário no Porto. Um dia, admite, poderá mudar-se de vez para Portugal. "Aqui sinto-me em casa."
2015. Cesinha estava em casa a assistir aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. No intervalo do jogo comentou no Twitter: "Um dia ainda hei-de assistir a um jogo destes". Pouco depois foi ao e-mail e tinha uma mensagem "UEFA by Heineken" e um convite para assistir às meias-finais (Bayern-Barcelona e Real Madrid-Juventus). "Tinha acabado de comentar e já tinha um convite. Não bebia álcool e pensei 'E agora?' Pediam-me cinco posts por dia no Instagram, eu propus um post e eles aceitaram. Foi a minha primeira viagem através do Instagram e a primeira vez que vim à Europa", conta à Fugas César Ovalle, influenciador e "subcelebridade" com 395 mil seguidores na rede social, que para capa da sua revista número 1 escolheu um auto-retrato do fotógrafo brasileiro.
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2015. Cesinha estava em casa a assistir aos quartos-de-final da Liga dos Campeões. No intervalo do jogo comentou no Twitter: "Um dia ainda hei-de assistir a um jogo destes". Pouco depois foi ao e-mail e tinha uma mensagem "UEFA by Heineken" e um convite para assistir às meias-finais (Bayern-Barcelona e Real Madrid-Juventus). "Tinha acabado de comentar e já tinha um convite. Não bebia álcool e pensei 'E agora?' Pediam-me cinco posts por dia no Instagram, eu propus um post e eles aceitaram. Foi a minha primeira viagem através do Instagram e a primeira vez que vim à Europa", conta à Fugas César Ovalle, influenciador e "subcelebridade" com 395 mil seguidores na rede social, que para capa da sua revista número 1 escolheu um auto-retrato do fotógrafo brasileiro.
Cesinha, 38.º aniversário comemorado no Porto, só saiu do Brasil em 2011. Razões há muitas. Porque "o Brasil é enorme". Porque "é caro viajar". "Porque também existe algum preconceito por sermos um país maior", admite. Porque "não tinha condições". Porque em 2008 começou a trabalhar como fotógrafo com bandas e porque "nem os fotógrafos nem as bandas têm muitas férias". Foi à Argentina em 2011 a convite de um amigo. "Foi a primeira vez que saí do país. Depois disso voltei umas cinco vezes à Argentina (risos)."
E, "de repente", foi ao Chile com a Samsung, à Colômbia a convite da LATAM, ao Reino Unido pela mão do turismo, foi à Suíça buscar a tocha olímpica a convite do Instagram/Facebook, veio a Portugal a convite do Museu Berardo criar uma obra de arte, voltou à Argentina convidado pelo turismo e foi a Paris apresentar uma fotografia que vale ouro. "Recebi um mail para produzir uma foto de um perfume para a Cartier. Perguntei-me como iria colocar um perfume no meu perfil. Passaram-me todo o conceito do Levon e o orçamento. Aceitei. Chegou o perfume e fui ao centro de São Paulo. Pedi ajuda a um amigo, que trouxe uma luz LED e tirei a foto com o smartphone. Adoraram a foto, colocaram no Instagram da Cartier e convidaram-me para uma exposição sensorial em Paris. Lindo. No fim do dia revelei que tinha feito a foto com o smartphone. Todos ficaram muito admirados", conta @cesinha de visita ao Porto na sua segunda viagem a Portugal.
Ainda há preconceito com fotos tiradas com smartphone — como com um DJ que sobe ao palco sem uma banda? "Há. Pelo menos no Brasil há. Parece que se fazes fotos com o smartphone é apenas um registo pessoal. Tenho certeza que se um bom fotógrafo viajar apenas com um smartphone vai resultar num trabalho muito bom. A questão é como o usas, como encaras o equipamento. Se o levares a sério, ele devolve algo sério. Tem mais a ver com a pessoa do que com o equipamento e o seu potencial. Serve mesmo que seja muito mau. É preciso saberes usar isso em teu favor. Já fui julgado assim várias vezes. 'Ah, mas ele tira fotos com o smartphone'. Como se fosse diferente se eu tirasse com a câmara. Se eu tiro com o smartphone, com a máquina fotográfica seria muito mais fácil. Mas as pessoas tentam diminuir o smartphone e dizer que com a câmara é muito mais difícil. Para mim não é mais difícil. É muito mais fácil. A câmara tem muito mais recursos. O smartphone é mais simples e mais difícil. É preciso pensar muito para aproveitar as suas potencialidades", explica @cesinha, cuja conta de Instagram começou por ser exclusivamente para fotos tiradas com smartphone.
"Fotografei seis anos só com smartphone. Só. Exactamente por isso, para registar o meu olhar. Tinha que arranjar uma forma de captar aquela foto apenas com o meu smartphone. Hoje em dia um smartphone dispõe de mais recursos, mas dantes o smartphone tinha muitas limitações e eu usava-as em meu favor, forçava-me a usar aquilo para abrir a cabeça. Isso ajudou-me muito."
Este é um daqueles casos em que antes de o ser (instagramer) já o era (fotógrafo). "Não comecei a ser fotógrafo no Instagram", sublinha César Ovalle, que tirou um curso de Fotografia (2004) e começou a fotografar profissionalmente (2005) para, a partir daí, "viver de fotografia e vídeo". "Nunca mais dependi de ninguém. As pessoas sempre diziam que eu tinha uma visão diferente das coisas. Até hoje não entendo isso. 'Essa forma de veres o mundo é única', dizem. Não sei até que ponto isso é real ou até que ponto é dito da boca para fora."
A sua educação visual, diz, veio "do vício" do seu pai, "que andava sempre com uma câmara". "Cresci a ser filmado e fotografado por ele. Com 13 anos fizemos uma viagem pelo Sul do país, Curitiba e Serra Gaúcha. Ele pegou na Pentax dele e disse que eu é que ia fazer as fotos. O fotómetro da câmara não funcionava e por isso ele ensinou-me a usar um fotómetro. Gastei 11 rolos de 36 fotos. Foi ali que eu conheci Curitiba e disse 'Uau! um dia quero morar aqui'. Doze anos depois, quando saí de São Paulo, fui para lá viver."
O seu percurso, admite, é feito de pequenas grandes coincidências — como a de o Instagram ter escolhido para a capa da sua revista número 1 uma foto em que @cesinha ensaia um dos seus famosos #sayhitothewater, hoje um dos tags mais repetidos e criativos do universo Instagram.
"Quando era mais novo gostava muito da banda brasileira RPM. Uma tia ofereceu-me um vinil e eu adorava aquele disco. Ficava horas a ouvir e a ver uma por uma as fotografias que vinham com o vinil. O fotógrafo era o Rui Mendes, que fazia todas as fotos das capas da Rolling Stone, que já tinha chegado ao Brasil. Há uma que não foi ele que fez. Foi quando o vocalista dos Charlie Brown Jr. morreu. A foto foi minha. Foi uma sensação estranha — feliz pela capa, triste por ele. Tudo acaba por ter uma ligação. Acho que ele não sabe desta história até hoje. É bom ver que todas as minhas referências de crianças acabam por se cruzar lá à frente, no futuro. Eu tinha 16 anos quando os Charlie Brown Jr. lançaram o primeiro disco. E já nessa altura estive à conversa com o Chorão, vocalista da banda, nos camarins durante um concerto..."
Cesinha cresceu com música. Cresceu a ver a mãe a ouvir Roberto Carlos e Erasmo Carlos. "E recentemente dei por mim a fazer as fotos de divulgação do último trabalho do Erasmo Carlos. São coisas que vão tendo ligação. Eram pessoas inalcançáveis quando eu era pequeno. Quando fiz o documentário com os RPM fui ter com eles e disse-lhes que o primeiro disco que me ofereceram era deles. 'Nunca imaginei que um dia estaria a trabalhar com vocês'. Inconscientemente lutas por isso e as coisas vão acontecendo. Quero, quero, quero. E vou."
Portugal no horizonte
Veio a Portugal (em 2015) quando o Museu Berardo decidiu fechar portas com 5 milhões de seguidores lá dentro. "E perdi o voo. Nunca tinha perdido um voo na minha vida. Era dia 15 e eu fiquei na cabeça com o dia 16, dia de chegada a Lisboa. Foi um caos, mas comprei à pressa um voo São Paulo-Fortaleza-Cabo Verde-Lisboa que chegava a uma hora do evento. As pessoas que organizaram o evento foram muito compreensivas. Fiquei com uma muito boa primeira impressão."
O Instagram, resume, "permite unir pessoas que jamais irias conhecer de outra forma". "Mostra um ponto nas Filipinas, uma perspectiva da Islândia e pessoas interessantes no Chile que nos mostram lugares não turísticos. As pessoas acolhem-nos. De repente estou lá."
E Cesinha já tem destinos em vista. Dois pontos no mapa: Islândia e o deserto de Atacama, no Chile. Um terceiro, vá. "Apesar dos problemas, é muito bom morar no Brasil. Mas torna-se difícil viajar e conhecer outros países. E sei que estando em Portugal, aqui no meio do planeta, consigo ir mais facilmente a qualquer lado. Tenho esse plano desde 2015. Até então queria morar no Canadá. Mas quando vim cá disse 'Temos um novo lugar em vista'. Aqui não sinto a barreira da língua. Gosto das pessoas, dos costumes e do humor, que é recíproco. Posso vir e não preciso deixar de ser eu. Aqui sinto-me em casa. Se vier para cá sei que vou começar do zero e ir lutando aos poucos. Mas o meu alvo não é ser rico, é ser feliz e fazer as minhas viagens."