Moção de Rio podia ter-se chamado "Portugal 2030"
O coordenador da moção de estratégia global “Do PSD para o País” fala ao PÚBLICO sobre as fontes de inspiração do documento.
Esteve para se chamar "Portugal 2030". “Nunca falámos nisto, nem é público, mas não vejo problema nenhum em confessá-lo: uma das hipóteses era que a moção se chamasse Portugal 2030”. David Justino, coordenador do documento que Rui Rio vai levar ao congresso do PSD, de 16 a 18 de Fevereiro, explica ao PÚBLICO que a moção do novo líder é mais do que um projecto para o imediato. “Tudo aquilo que concebemos para um período de dois anos é feito em função de uma visão que temos para a próxima década”.
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Esteve para se chamar "Portugal 2030". “Nunca falámos nisto, nem é público, mas não vejo problema nenhum em confessá-lo: uma das hipóteses era que a moção se chamasse Portugal 2030”. David Justino, coordenador do documento que Rui Rio vai levar ao congresso do PSD, de 16 a 18 de Fevereiro, explica ao PÚBLICO que a moção do novo líder é mais do que um projecto para o imediato. “Tudo aquilo que concebemos para um período de dois anos é feito em função de uma visão que temos para a próxima década”.
Por essa razão, o título esteve para ser "Portugal 2030". Só não foi para evitar confusões com os programas comunitários que o Governo quer consensualizar com o PSD, e que têm essa mesma designação.
Numa conversa com o PÚBLICO, gravada para o podcast sobre política nacional Poder Público, David Justino levanta o véu sobre as ideias do novo líder e, sobretudo, sobre as inspirações. “Não há ali respingos de neoliberalismo, mas expressa os princípios fundacionais das democracias liberais com a matriz social”, explica o ex-ministro da Educação que se cruzou com Rui Rio, no Parlamento, há quase 20 anos.
O documento que redigiu, com contributos de outros apoiantes do líder eleito, não é um texto fechado.“É um texto aberto que, depois, quando se concretizam algumas daquelas abordagens sectoriais, permite integrar outras propostas que possam ser interessantes e que não contrariem a estratégia que se quer enunciar”, diz.
O texto foge das habituais promessa eleitorais, contém uma visão estratégica, “fala verdade aos eleitores” - como diz David Justino -, e usa mais o conceito de ambição do que o de sonho. “Não há razão nenhuma para que Portugal não possa fazer aquele caminho. Cada palavra, cada frase, foi muito bem pensada. A ideia é sempre: mais vale falar em ambição do que falar em sonho. Podemos continuar a sonhar, mas numa ambição tem de haver algo concretizável”, explica.
“Quando apareceram as 221 medidas propostas pelo dr. Pedro Santana Lopes, a minha preocupação foi perceber por onde é que ele queria ir. Onde está a estratégia? Se há crítica que eu eventualmente posso fazer não é ao conteúdo das medidas - algumas delas são interessantíssimas -, é ao rumo. Aonde é que se queria chegar?”, questiona o coordenador da moção de Rio.
“Quando eu entro num avião, a minha preocupação é saber para onde vou. O problema, para mim, não é se o piloto vai voar mais acima ou mais abaixo. Eu não entro num avião se não souber onde vai aterrar”, concretiza. Rio, garante Justino, é assim: sabe qual é o destino final, pensa a política antes de a fazer.
É justo acreditar que já definiu as prioridades. E quais são elas, atendendo a tudo o que está pendente no Parlamento, do pacote da transparência ao financiamento dos partidos? Justino não abre muito o jogo, mas deixa antever soluções. Diz que nesses dois temas não há como definir prioridades, porque eles já estão em cima da mesa e admite que “já estavam a ser objecto de análise e de estudo aprofundado”.
“É interessante [ver] que o dr. Rui Rio já se pronunciou sobre algumas delas. Se for lido com alguma atenção aquilo que ele tem dito e que está escrito, dá perfeitamente para perceber”, afirma.
É possível perceber, portanto, que em matéria de financiamento dos partidos, o PSD deverá recuar na posição tomada em Dezembro, de assinar o polémico texto conjunto com o PS, o PCP e o BE - Rui Rio disse, nos debates televisivos, que não concordava com a questão de isentar os partidos de todo o IVA. E daí pode também deduzir-se que a liderança da bancada está, de facto, em risco. Afinal de contas, Hugo Soares foi mais do que o primeiro subscritor do diploma vetado pelo Presidente da República, foi o social-democrata que deu a cara por ele. Coisa bem diferente é arriscar quem será o sucessor.