Mugabe demite-se, novo Presidente toma posse até quinta-feira
Sessão do Parlamento que debatia destituição do Presidente foi interrompida. Nas ruas festeja-se o fim de uma era de quase quatro décadas. Antigo vice-presidente deverá ser empossado nas próximas 48 horas, diz o ZANU-PF.
O presidente do Parlamento do Zimbabwe diz ter recebido uma carta de Robert Mugabe, onde o líder apresenta a demissão "de forma voluntária". O Parlamento debatia o processo de destituição, mas interrompeu a sessão. O partido do poder, a ZANU-PF, já informou que o antigo vice-presidente Emmanuel Mnangagwa deverá ser empossado como Presidente nas próximas 48 horas.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O presidente do Parlamento do Zimbabwe diz ter recebido uma carta de Robert Mugabe, onde o líder apresenta a demissão "de forma voluntária". O Parlamento debatia o processo de destituição, mas interrompeu a sessão. O partido do poder, a ZANU-PF, já informou que o antigo vice-presidente Emmanuel Mnangagwa deverá ser empossado como Presidente nas próximas 48 horas.
"Eu, Robert Gabriel Mugabe, apresento formalmente a minha demissão como Presidente do Zimbabwe, com efeitos imediatos", começa por dizer a carta lida por Jacob Mudenda. Mugabe acrescenta que a decisão é "voluntária" e pede uma "transferência pacífica de poder".
O Parlamento estava reunido para discutir a abertura do processo de impeachment contra Mugabe, mas interrompeu de imediato, entre gritos e cânticos de alegria, descreve a Reuters.
O clima de festa alargou-se às ruas da capital, onde há carros a buzinar e pessoas emocionadas, entre danças e abraços. A Reuters relata que muitos dos cidadãos do Zimbabwe a viver na África do Sul saíram também às ruas de Joanesburgo em clima de festa.
A demissão de Mugabe representa o culminar de uma crise política que se arrastava há uma semana, quando o líder de 93 anos foi detido pelo Exército na sua mansão em Harare. Ao longo dos últimos dias, o homem que governou o Zimbabwe durante 37 anos viu a sua posição enfraquecida no próprio partido, a ZANU-PF, que no domingo o afastou da liderança.
Com Mugabe sai também a primeira-dama, Grace, cuja ambição em suceder ao marido deu origem a um processo que poucos se atreveriam a antecipar há duas semanas. O destino mais provável será agora o exílio na África do Sul, onde o casal é dono de várias propriedades.
A carta de Mugabe não deixa qualquer indicação sobre o seu sucessor, mas a escolha recai no ex-vice-Presidente Emmanuel Mnangagwa, de 73 anos. Aquele que foi o braço direito de Mugabe desde os tempos da guerra pela independência era encarado como um dos favoritos à sucessão. Porém, nos últimos tempos, a primeira-dama foi construindo a sua própria rede de interesses na ZANU-PF, sobretudo em torno das gerações mais jovens, e alimentava a ambição de suceder ao marido. O secretário legal do partido do poder, a União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Nacional (ZANU-PF) afirmou já que Mnangagwa será empossado Presidente quarta ou quinta-feira e que vai governar até novas eleições em 2018, cita a Reuters.
Até recentemente, Mugabe mantinha uma atitude distanciada em relação a este confronto que se desenrolava à sua sombra. Mas a exoneração de Mnangagwa foi um sinal lido pela cúpula da ZANU-PF de que Grace estaria a ser beneficiada. Com o auxílio do Exército, foi tomada a decisão de deter o Presidente e os aliados de Grace para proteger a herança dos veteranos. O próprio nome da operação "Restaurar o Legado" não esconde a sua intenção.
Uma das primeiras reacções internacionais à saída de Mugabe partiu da primeira-ministra britânica Theresa May, afirmando que o Zimbabwe tem aqui uma oportunidade para criar um novo caminho livre de opressão. “A renúncia de Robert Mugabe dá ao Zimbabwe a oportunidade de criar um novo caminho livre da opressão que caracterizou o seu poder”, disse num comunicado citado pela Reuters.
“Nos últimos dias assistimos ao desejo do povo do Zimbabwe por eleições livres e justas e pela oportunidade de reconstruir a economia do país sob um Governo legítimo”, referiu, acrescentando que o Reino Unido, como “amigo mais antigo do Zimbabwe”, vai fazer o que estiver ao seu alcance para apoiar o país africano.
O Zimbabwe foi uma colónia do império britânico desde os finais do século XIX. Em 1965, o primeiro-ministro da então Rodésia do Sul, Ian Smith, declarou unilateralmente a independência do território sob o domínio de um regime liderado por brancos, não obtendo reconhecimento internacional (Portugal e a África do Sul do apartheid eram os únicos aliados). A independência do Zimbabwe sob a liderança de um Governo africano só ocorreu em 1980, depois de uma década de sangrentos conflitos internos.
A embaixada dos Estados Unidos no Zimbabwe afirmou que este é um "momento histórico", mas que deverá levar a "eleições livres, justas e inclusivas".