Parlamento começa a discutir destituição de Mugabe
Milhares de pessoas concentradas nas imediações do Parlamento para apoiar impeachment. O provável sucessor de Robert Mugabe quebrou o silêncio pela primeira vez desde que o Presidente foi detido.
O Parlamento do Zimbabwe começou a debater o processo de destituição do Presidente Robert Mugabe, com milhares de pessoas nas ruas de Harare a festejar o mais do que provável abandono do poder do único líder que o país conheceu desde a independência.
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O Parlamento do Zimbabwe começou a debater o processo de destituição do Presidente Robert Mugabe, com milhares de pessoas nas ruas de Harare a festejar o mais do que provável abandono do poder do único líder que o país conheceu desde a independência.
A moção em que é proposto o impeachment de Mugabe foi recebida pelo presidente do Parlamento, Jacob Mudenda, que decidiu transferir a sessão para um hotel, por não haver espaço suficiente na sala do hemiciclo.
A União Nacional Africana do Zimbabwe-Frente Nacional (ZANU-PF), que domina as duas câmaras parlamentares, diz ter garantido uma maioria de dois terços – requerida para que o impeachment se concretize.
Porém, os dirigentes do Movimento para a Mudança Democrática, na oposição, vão reunir esta terça-feira para decidir o sentido de voto da bancada parlamentar, diz o Guardian. Alguns analistas antecipam que o partido poderá tentar obter concessões junto da ZANU-PF de forma a garantir uma posição mais proeminente num futuro governo de unidade nacional.
A moção apresentada pelo partido governamental acusa Mugabe de ser “uma fonte de instabilidade” e responsabiliza-o pelo colapso económico que o Zimbabwe vive há mais de uma década. O deputado da ZANU-PF, Paul Mangwana, disse à BBC que Mugabe “permitiu que a sua mulher usurpasse o poder constitucional”.
"Crocodilo" pede demissão de Mugabe
O homem no centro do furacão político que envolve o Zimbabwe há uma semana quebrou finalmente o silêncio. O ex-vice-presidente, Emmanuel Mnangagwa, pediu a Robert Mugabe que ouça o “apelo sonoro” da população que quer a sua demissão.
“O povo do Zimbabwe falou a uma só voz e o meu pedido ao Presidente Mugabe é que ele deve escutar este apelo sonoro e se demita para que o país possa seguir em frente e preservar a sua herança”, afirmou Mnangagwa, através de um comunicado. O veterano de guerra de 75 anos, provável sucessor de Mugabe na presidência, não revelou o seu paradeiro por razões de segurança.
Mnangagwa explicou que deixou o Zimbabwe assim que se apercebeu existirem “planos em curso” para o “eliminarem”. “Disse ao Presidente que não iria regressar a casa enquanto não estiver satisfeito em relação à minha segurança pessoal”, afirmou.
O Presidente do Botswana, Ian Khama, tornou-se no primeiro líder estrangeiro a fazer um apelo directo para que Mugabe se afaste. "O povo do Zimbabwe foi sujeito durante muito tempo a um sofrimento indescritível causado pela má governação da sua liderança", escreveu Khama numa carta aberta, que o próprio reconheceu não se tratar do "método normal de comunicação entre dois líderes".
Na quarta-feira, o Presidente angolano, João Lourenço, e o seu homólogo sul-africano, Jacob Zuma, viajam para Harare para mediarem um renovado esforço diplomático para levar Mugabe a aceitar pacificamente a decisão do Parlamento. A prioridade para os países da região é evitar que a saída do líder zimbabweano de 93 anos seja vista como um "golpe de Estado".
A crise política que atirou Mugabe para uma posição que recentemente poucos se atreveriam a antecipar foi desencadeada pela exoneração, no início do mês, de Mnangagwa, um dos políticos mais influentes do Zimbabwe, considerado um braço-direito do Presidente durante as quase quatro décadas de governação. A sua demissão provocou ondas de choque que abalaram os pilares que sustentam o poder no Zimbabwe desde a independência – o partido e o Exército.
Mnangagwa, conhecido como “crocodilo”, era o provável sucessor de Mugabe, assim que o nonagenário decidisse abandonar a presidência – que muitos acreditavam poder ser já nas eleições do próximo ano, apesar de ter sido o candidato designado pela ZANU-PF. Mas a sua demissão foi vista como uma cedência à ambição da primeira-dama, Grace Mugabe, que há muito se posicionava como candidata à sucessão do marido.
Para proteger o legado da luta pela independência, militares e partido decidiram agir, através da detenção, há precisamente uma semana, do casal presidencial e dos seus aliados. A grande expectativa era que Mugabe apresentasse a demissão no domingo à noite, depois de dias de negociação com os militares para definir os termos de um possível exílio. Mas o Presidente recusou afastar-se, forçando o Parlamento a partir para a via da destituição.