Londres aceita factura maior se tiver garantias de que negociações avançam
Eurocépticos furiosos com notícias de que Governo admite desembolsar 40 mil milhões de euros. Europeus dizem que valor é apenas um ponto de partida.
Quarenta mil milhões de euros. Será um montante próximo deste que o Governo britânico está disposto a assumir para garantir que a União Europeia aceita, ao fim de seis meses de negociações, começar a discutir o que é realmente importante – o futuro das relações bilaterais. Mas o valor que é visto em Bruxelas como um bom ponto de partida, é encarado pelos eurocépticos britânicos como uma cedência inaceitável.
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Quarenta mil milhões de euros. Será um montante próximo deste que o Governo britânico está disposto a assumir para garantir que a União Europeia aceita, ao fim de seis meses de negociações, começar a discutir o que é realmente importante – o futuro das relações bilaterais. Mas o valor que é visto em Bruxelas como um bom ponto de partida, é encarado pelos eurocépticos britânicos como uma cedência inaceitável.
“Boris rende-se no divórcio do ‘Brexit”, lia-se na manchete desta terça-feira do Telegraph, um dia depois de a primeira-ministra britânica se ter reunido com os dez ministros que integram o recém-criado comité para definir o rumo das negociações com a UE. Da reunião não saiu um valor, mas várias fontes garantiram que tanto o ministro dos Negócios Estrangeiros, como os seus colegas eurocépticos – que durante meses rejeitaram a “extorsão” de Bruxelas – aceitaram que May se comprometa a liquidar compromissos financeiros que correspondem ao dobro do que ela própria prometeu há apenas dois meses (cerca de 20 mil milhões, o equivalente a dois anos de contribuições para o orçamento comunitário ainda em vigor).
“Se começarmos a dizer que vamos dar 40 ou 50 mil milhões à UE os eleitores vão ficar doidos”, avisou o deputado conservador Robert Halfon. Jacob Rees-Mogg, da ala eurocéptica mais radical do Partido Conservador, disse mesmo não compreender o momento escolhido para esta cedência, dizendo que o Governo alemão, a braços com uma grave crise política, não está em condições de continuar a adiar as negociações comerciais, “arriscando causar danos à sua indústria”.
Mas se May não podia continuar a adiar um compromisso na chamada “factura do “Brexit” – o Presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, exigiu uma resposta até ao final do mês, a tempo dos preparativos para a cimeira – a cedência tem condições. Os jornais britânicos noticiam que a primeira-ministra não formalizará a proposta até ter a certeza de que os 27 irão dar “luz verde” na cimeira de 14 e 15 de Dezembro ao início da segunda fase das negociações, estando consciente de que qualquer outro desfecho ditaria o fim do seu mandato.
A imprensa adianta também que Boris e os seus aliados exigem que May seja muito clara em Bruxelas, explicando que o valor final da factura só será apurado no âmbito de um acordo de comércio, cujas bases Londres espera negociar antes de o “Brexit” se concretizar, em Março de 2019.
A Reuters adianta que May deverá comunicar as cedências que está disposta a fazer durante uma reunião com Tusk, na sexta-feira em Bruxelas, mas o Financial Times adianta que a proposta só será formalizada a 8 de Dezembro, quando estiverem já a decorrer os preparativos para a cimeira. Ainda assim, diplomatas europeus disseram ao Politico que os 40 mil milhões serão aceitáveis “se forem um primeiro passo” nas negociações para chegar a um valor final (a UE calcula a factura final num valor próximo dos 60 mil milhões). “Toda a gente está tão desesperada para avançar para a segunda fase que, se eles assumirem que esta não é a sua última oferta, isso será suficiente” para haver luz verde, afirmou um dos diplomatas.
No entanto, Londres tem outra dor de cabeça que precisa resolver com urgência. O chefe da diplomacia da Irlanda voltou a avisar que o país não dará o seu aval ao avanço das negociações se o Reino Unido não se comprometer por escrito de que a sua saída da UE e do mercado único não irá obrigar à reposição de controlos na fronteira com a Irlanda do Norte. “Este é um assunto bem mais importante do que o comércio. É sobre a divisão da Irlanda e eu não serei o ministro irlandês que presidirá a uma negociação que não dá prioridade à paz nesta ilha”, afirmou Simon Coveney.