Mais de cinco mil militantes do PSD pagaram quotas em apenas um mês

Além do líder nacional, os militantes estão a escolher dirigentes em muitas concelhias do país e, para votar, precisam de ter as quotas em dia.

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PSD terá congresso em Fevereiro de 2018, depois das directas de 13 de Janeiro Adriano Miranda

Mais de cinco mil militantes do PSD pagaram as quotas desde que se abriu o processo eleitoral para a escolha do futuro líder dos sociais-democratas. Esta corrida ao pagamento das quotas - 12 euros por ano, actualmente - não aconteceu apenas porque há uma disputa pela liderança nacional, entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, mas também porque desde as autárquicas que decorrem eleições em várias concelhias e os militantes, para poderem votar, tiveram que regularizar o pagamento das suas quotas.

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Mais de cinco mil militantes do PSD pagaram as quotas desde que se abriu o processo eleitoral para a escolha do futuro líder dos sociais-democratas. Esta corrida ao pagamento das quotas - 12 euros por ano, actualmente - não aconteceu apenas porque há uma disputa pela liderança nacional, entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, mas também porque desde as autárquicas que decorrem eleições em várias concelhias e os militantes, para poderem votar, tiveram que regularizar o pagamento das suas quotas.

A menos de dois meses para as eleições directas para a presidência do partido, o PSD tem inscritos um total de 210.907 militantes, mas destes apenas 28.739 (13,6%) têm as quotas em dia. Ou seja, se as eleições se realizassem amanhã, 86,4% dos militantes não estariam em condições de participar na escolha do substituto de Pedro Passos Coelho. 

Concelhias com muitos filiados, como Gaia ou Coimbra, já fizeram as suas eleições mas ainda há estruturas locais a elegerem as respectivas comissões políticas antes da data limite para o pagamento das quotas (15 de Dezembro) em termos de participação nas directas, marcadas para 13 de Janeiro. Por exemplo, as concelhias de Matosinhos e do Porto vão a votos nos dias 18 e 24 de Novembro, respectivamente. Até lá, o número de militantes com quotas pagas nestes dois concelhos vai subir significativamente. O PSD-Porto tem 2568 militantes activos e 2089 suspensos, por quotas em atraso. Já em Matosinhos há mais militantes suspensos,1074, do que activos, 801.

De acordo com a último levantamento realizado pelo PSD nacional, com dados actualizados a 10 de Novembro, a que o PÚBLICO teve acesso, o partido tem 78.973 militantes em situação de incumprimento, devendo um ou dois anos de quotas em atraso. Se juntarmos a este valor os 28.739 militantes com as quotas regularizadas, o PSD tem neste momento 107.712 militantes activos. Este valor é ligeiramente superior ao número de militantes suspensos, que se situa nos 103.195. Militantes suspensos são aqueles que deixaram de pagar as quotas há mais de dois anos e também aqueles que têm morada desconhecida.

Contas feitas, o partido tem 51% dos seus militantes activos e 49% na situação de suspensão. Não se pense que um militante que tenha, por exemplo, dez anos de quotas em atraso terá de pagar 144 euros para ficar com a sua situação regularizada. A secretaria-geral do partido aprovou uma deliberação que permite aos militantes com mais de dois anos de quotas em atraso, que queiram regularizar a situação, pagarem apenas 12 euros.

Em todos os distritos e também nas regiões autónomas o PSD tem mais de 80% dos militantes em situação irregular. As duas candidaturas à presidência dos sociais-democratas mostram-se particularmente preocupadas com esta questão e temem que haja um pagamento maciço de quotas, por "caciquismo", a partir do próximo mês.

O coordenador-geral da candidatura de Rui Rio, Salvador Malheiro, não esconde essa preocupação e, em declarações ao PÚBLICO, afirma que o grande objectivo da candidatura é “tentar combater o pagamento de quotas em atraso de forma massificada”. O também presidente da Câmara de Ovar e líder da distrital do PSD de Aveiro está particularmente atento a esta questão e diz recear que nestas eleições haja “sindicatos de voto”. A este propósito, defende que o partido deveria mudar o regulamento eleitoral, para que não seja possível que “estruturas organizadas” paguem quotas aos militantes.

Na sua reflexão, Salvador Malheiro entende que o futuro regulamento eleitoral do PSD deverá também contemplar a possibilidade de todos os militantes com um mínimo de dez anos de filiação possam votar com ou sem quotas em dia. E, numa clara aproximação ao PS, o coordenador-geral da candidatura do ex-presidente da Câmara do Porto arrisca que o partido deve abrir as eleições internas a simpatizantes do PSD.

Numa estratégia de envolver os militantes neste combate das directas, as candidaturas de Santana e de Rio estão a usar activamente as redes sociais, os endereços electrónicos e as mensagens por telemóvel para incentivar os militantes a ir votar no dia 13 de Janeiro. E o alvo são os 78.973 militantes com quotas atrasadas inferiores a dois anos. Para além destas ferramentas, cada uma das candidaturas dispõe de call centers, que estão a cargo de voluntários que foram expressamente recrutados para sensibilizar os militantes a pagar as quotas.

Mas as candidaturas não se iludem. Sabem que a tarefa é bem difícil. Tendo em conta que o bloco de militantes com quotas em atraso superior a dois anos é significativamente elevado, a candidatura santanista reconhece que vai ser difícil mobilizá-los. “Um militante com dez ou mais anos de quotas em atraso já se desligou do partido e trazê-lo de novo para a militância activa será um caminho difícil, até porque o prazo para pagar as quotas termina dentro de um mês”, observa Luís Cirilo, da candidatura de Santana Lopes.

O mesmo responsável aproveita para atacar Rio. Afirma que, “em Beja, Évora, Castelo Branco e Faro, há militantes que admitem regressar agora ao partido, depois de seu afastamento em 1996 no âmbito do processo de refiliação feita pelo antigo secretário-geral do PSD e actual candidato à liderança, Rui Rio”. Alguns destes militantes, acrescenta, “foram perseguidos pelos comunistas, e por isso nunca aceitaram terem sido expulsos do partido que ajudaram a fundar".