Empresas pedem urgência no “Brexit”, mas caminho de May é muito estreito
Primeira-ministra britânica cedeu e prometeu que acordo com a UE será votado pelo Parlamento. Mas as negociações com a UE estão num impasse e os ministros continuam a questionar a sua autoridade.
Representantes das empresas europeias foram nesta segunda-feira a Downing Street pedir a Theresa May que quebre nas próximas semanas o impasse nas negociações para a saída da União Europeia, avisando que um novo adiamento terá custos económicos irreversíveis. Mas nunca, como agora, o caminho da primeira-ministra britânica pareceu tão estreito – pressionada em simultâneo pelos eurocépticos, pelos que recusam uma saída a qualquer custo e pela subida de tom dos parceiros europeus.
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Representantes das empresas europeias foram nesta segunda-feira a Downing Street pedir a Theresa May que quebre nas próximas semanas o impasse nas negociações para a saída da União Europeia, avisando que um novo adiamento terá custos económicos irreversíveis. Mas nunca, como agora, o caminho da primeira-ministra britânica pareceu tão estreito – pressionada em simultâneo pelos eurocépticos, pelos que recusam uma saída a qualquer custo e pela subida de tom dos parceiros europeus.
Esta é uma semana de alto risco em Londres, com o regresso ao Parlamento da lei do “Brexit”, o diploma que é a coluna vertebral dos planos do Governo para enquadrar a saída britânica da UE, mas cuja discussão se transformou num braço-de-ferro entre May e os que, na oposição e dentro do Partido Conservador, insistem que cabe ao Parlamento a última palavra sobre os moldes em que ela irá ocorrer.
Depois de ter sido aprovada na generalidade, a lei começa nesta terça-feira a ser discutida na especialidade e May arrisca-se a sofrer várias derrotas. A primeira poderá ser o chumbo de uma emenda que ela própria apresentou para inscrever no diploma a hora a que o “Brexit” acontecerá (23h de 29 de Março de 2019) a fim de tranquilizar os eurocépticos de que nada irá travar a saída. Ainda mais penalizadora seria a aprovação de uma alteração, apresentada pelos trabalhistas e que contaria já o apoio de uma dezena de deputados conservadores, a exigir um voto vinculativo do acordo que vier a ser negociado com Bruxelas.
Depois de ter perdido dois ministros numa semana por causa de escândalos diferentes, qualquer destes desaires agravaria as dúvidas sobre a liderança de May – na sua última edição o Sunday Times noticiou que há 40 deputados conservadores prontos a assinar uma moção de censura a May, menos oito do que os necessários para forçar a líder dos tories a obter um voto de confiança da sua bancada.
Numa tentativa para evitar novo desaire, o Governo fez nesta segunda-feira uma cedência de última hora, anunciando que o acordo com a UE será inscrito numa nova lei, que terá de ser aprovada pelos deputados. Mas não deu garantias de que um eventual chumbo a este diploma obrigará o executivo a regressar à mesa das negociações ou a estudar alternativas (como pedir o adiamento da saída), pelo que é incerto se será suficiente para travar a revolta em preparação.
Pressão dos ministros
Mas qualquer cedência aos pró-europeus encurta ainda mais a margem de manobra da primeira-ministra aos eurocépticos, onde a oposição interna não é menos inflexível.
Também no domingo, o Mail divulgou uma carta enviada a May pelos ministros Boris Johnson e Michael Gove, que lideraram a campanha a favor do “Brexit” antes de se terem desentendido na corrida à sucessão do ex-primeiro-ministro David Cameron. Queixam-se da “insuficiente energia” gasta por “alguns sectores do Governo” nos preparativos para a saída e exigem a May que garanta que todo o executivo está empenhado em concretizá-la.
E no mesmo dia, David Davis, o ministro para o “Brexit” e último rosto do triunvirato eurocéptico do executivo, deitou um balde de água fria nas expectativas de que Londres possa, no prazo de duas semanas que lhe foi dado pela UE, clarificar até onde está disposto a ir para fechar o mais contencioso dos três capítulos da primeira fase das negociações – a chamada “factura do ‘Brexit’”. Davis disse à Sky News que o Reino Unido não irá revelar tão cedo “nem um valor nem uma fórmula” sobre as contribuições financeiras exigidas pelos 27 para aceitar o avanço das negociações.
Do outro lado do Canal da Mancha, o chefe dos negociadores europeus, Michel Barnier, confirmou ao francês ao Journal du Dimanche que, face à actual incerteza, a Comissão Europeia tem já em marcha planos de contingência para a eventualidade de as duas partes não chegarem a acordo.
Razões de sobra para a libra começar a semana a derrapar e para o tom quase alarmista dos empresários europeus recebidos nesta segunda-feira em Downing Street. “Estamos extremamente preocupados com o avanço lento das negociações e com a falta de progressos” disse à saída Emma Marcegaglia, presidente da BusinessEurope, que representa confederações patronais em 39 países e encabeçou a delegação europeia, dizendo que Londres precisa de “apresentar propostas claras e concretas” para convencer a UE a aceitar o início das negociações sobre um futuro acordo de comércio.
Carolyn Fairbairn, directora da confederação industrial britânica, repetiu que 10% das empresas que representa accionaram já planos de contingência para o caso de as negociações fracassarem e 60% admite fazê-lo se até Março as negociações comerciais não tiverem avançado e não houver uma ideia clara de como será a transição pós-"Brexit" – um período que as empresas querem que tenha no mínimo dois anos e mantenha ao máximo o actual status quo. Mas à saída Marcegaglia não estava optimista. “Sou naturalmente uma optimista ou não seria empresária. Mas não vi nenhum sinal de que eles vão mudar”.