Greve: esperas, indecisão mas também consultas mais rápidas no Hospital de São José

Maria Luísa, 65 anos, decidiu arriscar e tentar fazer os exames marcados: análises e um electrocardiograma. "Ainda foi mais rápido do que nos outros dias."

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enric vives-rubio

Muitos doentes não sabiam se iam ter consulta ou realizar exames marcados há vários meses, devido à greve na função pública. Era este o cenário nas salas de espera do Hospital de São José, em Lisboa, na manhã desta sexta-feira.

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Muitos doentes não sabiam se iam ter consulta ou realizar exames marcados há vários meses, devido à greve na função pública. Era este o cenário nas salas de espera do Hospital de São José, em Lisboa, na manhã desta sexta-feira.

Maria da Conceição, 91 anos, chegou cerca das 8h para uma consulta de ortopedia. Veio de Tomar com a esperança de que iria ser atendida, mas pelas 9h15 ainda não tinha sido chamada, um quarto de hora após a hora marcada. "Isto é um grande transtorno, mas o que podemos fazer?"

Maria Cândida, reformada, veio da Amadora para fazer exames médicos, mas, poucos minutos após ter chegado ao hospital, soube que não os ia poder realizar, por os técnicos estarem em greve. "É dinheiro que se gasta e tempo perdido", lamentou.

À entrada das consultas desta unidade do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC), um cartaz e um pré-aviso de greve anunciavam o protesto "por aumentos salariais" e pelo "descongelamento da progressão das carreiras".

Maria Luísa, 65 anos, tinha conhecimento da paralisação, mas decidiu arriscar e tentar fazer os exames marcados: análises e um electrocardiograma. "Ainda foi mais rápido do que nos outros dias. Valeu mesmo a pena", disse, com um sorriso.

Também Josefa Soares teve a consulta que já estava marcada havia cerca de três meses, ao contrário de outra utente, que preferiu não dizer o nome, mas disse que, pela terceira vez, foi desmarcada a sua consulta. Apenas desta vez soube a razão da desmarcação.

Já Maria Isabel e o marido, na casa dos 80 anos, deixaram o espaço das consultas do Hospital de São José a praguejar, afirmando que "não se deve brincar com a saúde". "Começou a aparecer o dinheiro exige-se dinheiro para tudo, mas não devia ser assim", disse Maria Isabel à Lusa, admitindo, no entanto, que "as pessoas têm direito à greve".

Maria Isabel estava à espera havia três meses para realizar o exame de otorrinolaringologia, que agora ficou marcado para final de Dezembro.

Apesar de morar em Lisboa, o casal lamentou a despesa com o táxi, além das dificuldades de locomoção que complicam uma ida ao hospital.

Na origem da greve nacional está a falta de respostas às reivindicações da Frente Comum, como o aumento dos salários na função pública, o descongelamento "imediato" das progressões na carreira e as 35 horas semanais para todos os trabalhadores.

Esta é a terceira greve nacional dos trabalhadores da Administração Pública com o actual Governo, e a primeira convocada pela Frente Comum de Sindicatos, segundo a listagem cedida pela estrutura sindical.

A primeira greve com o executivo de António Costa ocorreu em 29 de Janeiro de 2016 e foi convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos da Administração Pública, assim como a de 26 de Maio deste ano, que teve como objectivo reivindicar aumentos salariais, o descongelamento das carreiras, o pagamento de horas extraordinárias e a redução do horário de trabalho para 35 horas em todos os serviços do Estado.