Coreia do Sul está entre a bomba do Norte e a pressão de Trump
A estratégia do novo Presidente sul-coreano de iniciar um processo de diálogo com Pyongyang parece cada vez mais condenada.
Com o mundo ainda a recuperar do abalo, físico e psicológico, causado pelo mais recente ensaio nuclear norte-coreano, é o vizinho do Sul que tenta encontrar de forma mais urgente uma resposta à ameaça. Eleito com a promessa de promover o diálogo com Pyongyang, o Presidente Moon Jae-in está cada vez mais pressionado a mostrar dureza.
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Com o mundo ainda a recuperar do abalo, físico e psicológico, causado pelo mais recente ensaio nuclear norte-coreano, é o vizinho do Sul que tenta encontrar de forma mais urgente uma resposta à ameaça. Eleito com a promessa de promover o diálogo com Pyongyang, o Presidente Moon Jae-in está cada vez mais pressionado a mostrar dureza.
Menos de 24 horas depois de sentir a força do sexto e mais forte teste nuclear norte-coreano, o exército do Sul levou a cabo vários exercícios militares, que incluíram a simulação de um ataque com mísseis contra o local a partir de onde são feitos os testes nucleares norte-coreanos. Em Agosto, as forças sul-coreanas já tinham participado em manobras conjuntas com os EUA, que se realizam todos os anos e envolveram dezenas de milhares de militares.
Seul quer armas estratégicas americanas
O Ministério da Defesa disse que estão planeados mais exercícios de simulação de ataques contra a Coreia do Norte ainda este mês. Seul está também interessada em receber mais regularmente activos estratégicos norte-americanos, como submarinos nucleares, porta-aviões e bombardeiros B-52, de acordo com declarações do ministro da Defesa, Song Young-moo, que discutiu o assunto com o homólogo norte-americano, James Mattis.
O Governo de Seul deu também luz-verde à instalação “temporária” de quatro novas baterias do sistema antimíssil norte-americano conhecido como THAAD, que se devem juntar aos dois já operacionais. A decisão é extremamente controversa, tanto dentro e fora da Coreia do Sul. O próprio Presidente tinha decretado a suspensão do THAAD – cuja decisão inicial tinha sido tomada pela Administração anterior – enquanto não eram concluídos os estudos de impacto ambiental que estão ainda a ser realizados. A instalação das duas primeiras baterias foi objecto de protestos pela população local.
O sistema antimíssil tem também prejudicado as relações entre a Coreia do Sul e a China, que encara o THAAD como uma ameaça à sua própria segurança, uma vez que teoricamente pode ser utilizado com fins de espionagem. Washington insiste, porém, que os seus objectivos são unicamente para defender o território do seu aliado de eventuais mísseis norte-coreanos. O mal-estar entre Pequim e Seul tem tido impacte nas trocas comerciais entre os dois países, com várias marcas e lojas sul-coreanas a serem alvo de boicotes naquele que é um dos seus principais mercados.
Maior capacidade bélica
Moon e o Presidente norte-americano, Donald Trump, falaram esta segunda-feira por telefone e concordaram em remover os limites impostos à capacidade balística da Coreia do Sul. Desde 1979 que Seul tem várias restrições quanto à possibilidade de desenvolvimento e utilização de mísseis, à luz de um acordo assinado com os EUA – que desde o final dos combates da Guerra da Coreia garante a segurança da Coreia do Sul. Desde a última revisão, em 2012, o Exército sul-coreano estava limitado a utilizar mísseis com uma carga máxima de meia tonelada e um raio de acção inferior a 800 quilómetros. O novo acordo alcançado entre Trump e Moon vem excluir qualquer limite quanto à carga utilizada pelos mísseis, segundo Seul.
No final de Julho, depois de Pyongyang ter testado um míssil intercontinental capaz para atingir grande parte dos EUA, Seul tinha já manifestado a intenção de ver os limites à sua própria capacidade balística removidos.
A estratégia militarista do Governo sul-coreano indicia uma mudança profunda das intenções iniciais de Moon, quando tomou posse, em Maio. O liberal chegou à Casa Azul com a promessa de insistir na via do diálogo em relação à Coreia do Norte, não afastando sequer a possibilidade de se deslocar a Pyongyang.
A primeira reacção de Trump ao ensaio nuclear de domingo teve precisamente a Coreia do Sul como alvo. “A Coreia do Sul está a descobrir, tal como lhes tinha dito, que a sua conversa de apaziguamento com a Coreia do Norte não vai resultar, eles só percebem uma coisa!”, escreveu o líder norte-americano no Twitter.
Pressionada pela ameaça crescente a Norte e pelas invectivas da Casa Branca, Seul parece determinado em mostrar que contempla uma estratégia mais dura. Durante uma sessão parlamentar, o ministro da Defesa, citado pela agência Yonhap, admitiu que no seio do Conselho de Segurança Nacional há uma convergência “na direcção que fortalece uma opção militar” em detrimento do diálogo.
Em Nova Iorque, a reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU ficou marcada pela divisão entre os EUA, que pedem um endurecimento das sanções contra Pyongyang, e a China, que defende o congelamento do programa nuclear norte-coreano acompanhado de uma suspensão das manobras militares norte-americanas na região.