Downsizing começa a crescer em Veneza (em direcção aos Óscares?)
O festival de onde, há um ano, La La Land partiu rumo a uma fulgurante carreira de prémios abre com um filme que a rentrée americana pretende transformar em acontecimento. Mas numa edição cheia de "filmes de prestígio com estrelas" também concorrem Abdellatif Kechiche e Ai Weiwei.
Downsizing está a crescer em expectativa. A rentrée americana, a partir do Outono, conta com ele como um dos seus acontecimentos. Depois do melancólico Nebraska (2013), Alexander Payne entra pela sátira social, o que não é na verdade uma estreia, esse é também um dos seus tons. O filme conta a história de um casal que encolhe para reduzir as despesas económicas – projecto de anos do realizador, escreveu-o entre Sideways (2004) e Os Descendentes (2011) mas teve de esperar que o financiamento crescesse para convocar o arsenal tecnológico que permite encolher as personagens.
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Downsizing está a crescer em expectativa. A rentrée americana, a partir do Outono, conta com ele como um dos seus acontecimentos. Depois do melancólico Nebraska (2013), Alexander Payne entra pela sátira social, o que não é na verdade uma estreia, esse é também um dos seus tons. O filme conta a história de um casal que encolhe para reduzir as despesas económicas – projecto de anos do realizador, escreveu-o entre Sideways (2004) e Os Descendentes (2011) mas teve de esperar que o financiamento crescesse para convocar o arsenal tecnológico que permite encolher as personagens.
É este o filme de abertura da 74.ª edição do Festival de Veneza, tal como aconteceu em outros anos com outros títulos americanos que depois deram alegria ao Outono/Inverno das suas vidas, nos Óscares, por exemplo: La La Land (2016), Birdman (2014) ou Gravidade (2013). E está em competição com mais uma vintena de filmes. Destacam-se, por exemplo, Human Flow, de Ai Weiwei, Mother, de Darren Aronofsky (no género de terror), Suburbicon, de George Clooney, com um toque no argumento dos irmãos Coen, The Shape of Water, de Guillermo del Toro (e reparem na quantidade de produtos americanos do género “filme de prestígio com estrelas” – Jennifer Lawrence, Michelle Pfeiffer, Javier Bardem, Matt Damon, Julianne Moore, Michael Shanon... – com que Veneza faz a sua festa e se mostra aos concorrentes), Lean on Pete, de Andrew Haigh (o filme que se segue ao belíssimo 45 Anos) ou Mektoub, My Love: Part 1, de Abdellatif Kechiche, adaptando um romance de François Bégaudaud, La Blessure, sobre um Verão e um amor.
Este, sim, será um dos acontecimentos. É a primeira parte de um díptico, foi um dos filmes que Cannes perdeu, por questões de direitos não resolvidas por alturas do festival francês onde Kechiche conheceu momentos de glória (e o início de uma fama de indigno) com A Vida de Adèle (Palma de Ouro, 2013). Veneza apanhou-o e trá-lo de volta a “casa” – porque no Lido recebeu o prémio Luigi de Laurentiis para uma primeira obra, com La Faute à Voltaire, 2000, e o Prémio Especial de Júri, e deslumbramento geral, em 2007, com O Segredo de um Cuscuz.
Haverá, ainda em competição, nesta 74.ª edição, Robert Guédiguian, Hirokazu Kore-eda, Samuel Maoz (o realizador de Líbano, Leão de Ouro em Veneza 2009, regressa ao concurso com Foxtrot, ainda em tempo de guerra), Paul Schrader ou Frederick Wiseman (Ex Libris – The New York Public Library). O júri é presidido pela actriz Annette Bening.
Jogar forte
Olha-se para a lista de filmes fora de concurso e tem-se a sensação de que os programadores querem mesmo jogar forte, sobressair no pós-Cannes, faltando agora saber se é apenas poeira para os olhos. O que quer que seja, Zama, de Lucrecia Martel, o regresso da cineasta argentina, oito anos depois de A Mulher sem Cabeça, adaptando um romance que se passa no século XVIII e utilizando os serviços do director de fotografia português Rui Poças, é incontornável, marca esta edição. Mas há ainda Victoria & Abdul, de Stephen Frears, Outrage Koda, de Takeshi Kitano, The Private Life of a Modern Woman, de James Toback, Manhunt, de John Woo, Wormwood, de Errol Morris (entre o documentário e a ficção, mini-série de seis episódios para a Netflix), os documentários My Generation, de David Batty (a Londres dos 60s narrada por Michael Caine), The Devil and Father Amorth, de William Friedkin (43 anos depois de O Exorcista, continua fascinado, encontra um exorcista, observa métodos e rituais, regressa à memória do filme de 1973), ou Jim & Andy: The Great Beyond – The Story of Jim Carrey & Andy Kaufman with a very special, contractually obligated mention of Tony Clifton, de Chris Smith (ou seja, e para nos afundarmos mais no escuro: um documentário sobre Jim Carrey a rodar Homem na Lua, a obra-prima escura, escura de Milos Forman).
E depois, cortesia Netflix, teremos Robert Redford e Jane Fonda, actores, militantes, sobreviventes, que receberão, a 1 de Setembro, um Leão de Ouro para as suas carreiras, a anteceder, cortesia Netflix, a antestreia mundial do novo filme de ambos, Our Souls at Night, de Titesh Batra.