Kim Jong-un: totalidade dos EUA ao alcance dos mísseis norte-coreanos
Califórnia e Denver são alvos possíveis, mas mesmo Nova Iorque e Washington poderiam estar na mira das novas armas de Pyongyang.
Já não é só o Alasca ou o Havai. A totalidade do território continental dos Estados Unidos da América estará agora dentro do perímetro de alcance dos mísseis balísticos intercontinentais norte-coreanos, declarou esta madrugada Kim Jong-un, citado pela agência estatal de propaganda KCNA. Os cientistas que analisaram o ensaio do míssil norte-coreano de sexta-feira concordam.
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Já não é só o Alasca ou o Havai. A totalidade do território continental dos Estados Unidos da América estará agora dentro do perímetro de alcance dos mísseis balísticos intercontinentais norte-coreanos, declarou esta madrugada Kim Jong-un, citado pela agência estatal de propaganda KCNA. Os cientistas que analisaram o ensaio do míssil norte-coreano de sexta-feira concordam.
O projéctil disparado pela Coreia do Norte, num ângulo quase totalmente na vertical, para não sobrevoar o território dos seus vizinhos, terá atingido 3700 km de altitude, e voado durante 47 minutos, antes de se despenhar no Mar do Japão, estima o físico David Wright, co-director do programa de Segurança Global da organização Union of Concerned Scientists, que reúne muitos especialistas em controlo de armamento e, em especial, armas nucleares. A televisão japonesa NHK terá mesmo filmado a reentrada do míssil na atmosfera ao largo da costa de Hokaido.
Através destes dados, da altitude que atingiu e do tempo de voo, os cientistas são capazes de calcular a distância que poderia percorrer se fosse lançado numa trajectória normal, mais ou menos horizontal. Se fosse em direcção aos EUA, poderia fazer 10.400 km, sem levar em conta a rotação da Terra – que ajuda a aumentar a distância percorrida pelos mísseis disparados para Leste, como aconteceria se a Coreia do Norte quisesse atacar os EUA, explica o cientista.
Los Angeles ou Denver estão ao alcance de um míssil como o que foi disparado sexta-feira, que se acredita ser um Hwasong-14, como a 4 de Julho. Várias outras grandes cidades norte-americanas, como Boston, Nova Iorque e Washington estão igualmente próximas de serem um alvo de Kim Jong-un.
O teste de sexta-feira visou ainda atingir um de dois passos que ainda estarão no caminho dos norte-coreanos para o alcance de uma verdadeira capacidade nuclear intercontinental: a preservação do míssil à reentrada na atmosfera terrestre. Segundo Pyongyang, tal terá sido conseguido.
O outro passo é a miniaturização de um dispositivo nuclear para um tamanho e peso que lhe permita ser transportado pelo míssil. Essa é uma incógnita importante para estes cálculos: não se sabe qual o peso da carga que transportava o míssil testado na sexta-feira.
Os cientistas e militares da comunidade internacional continuam a acreditar que a Coreia do Norte ainda não superou este obstáculo – mas na verdade, faltam dados para poder determiná-lo com precisão.
O ensaio teve ainda dois aspectos invulgares: o míssil foi durante a noite, e a partir da província de Jagang, a partir de um centro de lançamento que não era conhecido.
Na quinta-feira, o Senado norte-americano tinha aprovado um novo pacote de sanções contra a Coreia do Norte, bem como contra a Rússia e o Irão. E no início do mês, os EUA probiram os seus cidadãos de viajar para o país governador por Kim Jong-un. Mas o agravamento da retórica americana em relação à Coreia do Norte, e a intensificação da pressão sobre a China — o único país com verdadeira influência sobre este país empenhado na proliferação nuclear — não estão a dar os resultados pretendidos.
Surgem vozes pedindo uma alteração radical na política seguida em relação à Coreia do Norte durante anos e anos, que se tem revelado um fracasso.
Enquanto nada de novo acontece na frente diplomática, o novo teste foi uma vez mais condenado pelos Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão e China, com os chefes da diplomacia de Washington, Seul e Tóquio a manterem conversas telefónicas após o ensaio, segundo refere a Reuters.
Num comunicado divulgado pela Casa Branca, e confirmando que se estará perante um míssil balístico intercontinental, o Presidente norte-americano, Donald Trump, condenou "a mais recente, irresponsável e perigosa acção do regime norte-coreano" e afirmou que Washington "vai tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança do território norte-americano".
"Ao ameaçar o mundo, estas armas e estes testes apenas isolarão mais a Coreia do Norte, enfraquecerão a sua economia e empobrecerão o seu povo", declara Trump.
Num comunicado do seu Ministério dos Negócios Estrangeiros, a China – o principal parceiro económico e político da Coreia do Norte – qualifica o ensaio de sexta-feira como contrário às "resoluções do Conselho de Segurança [das Nações Unidas] e aos desejos comuns da comunidade internacional", apelando "a todas as partes a agirem com cuidado, para prevenir que a tensão continue a aumentar".
Pequim também deixa desta forma um aviso à Coreia do Sul, que anunciou a mobilização de mais quatro unidades do sistema de defesa anti-míssil norte-americano THAAD, cujo sistema de radar abrange grande parte do território chinês e é, por isso, visto como uma ameaça pelo gigante asiático.