Rajoy diz que nada sabia sobre o financiamento ilegal do PP
Pela primeira vez, um chefe do Governo espanhol em funções foi ouvido em tribunal. Rajoy nega ter recebido qualquer pagamento suplementar. Esquerda pede que se demita.
Durante vários anos, Mariano Rajoy acumulou responsabilidades no Partido Popular, incluindo seis anos como director das campanhas eleitorais. Ao mesmo tempo, o tesoureiro do partido organizava um esquema de financiamento ilegal que passava por baixo do radar das autoridades. Mas tudo isto se passava nas costas do actual chefe do Governo espanhol, que esta quarta-feira negou em tribunal qualquer conhecimento sobre o assunto.
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Durante vários anos, Mariano Rajoy acumulou responsabilidades no Partido Popular, incluindo seis anos como director das campanhas eleitorais. Ao mesmo tempo, o tesoureiro do partido organizava um esquema de financiamento ilegal que passava por baixo do radar das autoridades. Mas tudo isto se passava nas costas do actual chefe do Governo espanhol, que esta quarta-feira negou em tribunal qualquer conhecimento sobre o assunto.
“Nunca tratei de qualquer questão de contabilidade” no PP, afirmou Rajoy, perante os juízes que estão a julgar o caso dos desvios de dinheiro no partido conservador. O primeiro-ministro negou ter conhecimento de um esquema de contabilidade paralela investigado pela justiça e diz que sempre se ocupou de questões “políticas” no partido.
Quando foi questionado pelos advogados de acusação sobre se alguma vez teve conhecimento do esquema da chamada “caixa B” – uma forma de contabilidade paralela de financiamento ilegal para fugir ao crivo das autoridades –, Rajoy negou por sete vezes ao longo de quase duas horas de audiência, de acordo com o El País. “A parte económica não a conhecia de todo”, disse.
A acusação diz que o esquema terá vigorado entre 1990 e 2004, período durante o qual Rajoy teve várias funções no PP. Entre 1994 e 2000 foi director de campanhas eleitorais, mas nunca lhe chegou aos ouvidos sequer um rumor sobre a “caixa B”. O chefe do Governo voltou a sublinhar a separação que existia entre a parte financeira e política do partido. “A única coisa com que me preocupava era que o Tribunal de Contas nos desse pareceres positivos”, afirmou.
No centro do caso está o ex-tesoureiro do PP, Luis Bárcenas, que não compareceu à sessão onde Rajoy foi chamado a testemunhar – algo inédito para um primeiro-ministro em funções. Preso desde 2013, Bárcenas tem implicado vários dirigentes do partido que receberam pagamentos de forma irregular. A investigação da contabilidade secreta do Partido Popular foi adicionada à do caso Gürtel, uma trama de corrupção e financiamento ilegal que relaciona líderes políticos do PP, sobretudo do poder local e autonómico, com vários empresários. As primeiras condenações foram em Fevereiro.
Durante quase duas décadas, Bárcenas organizou uma “caixa B” para onde iam doações feitas por empresas a troco da adjudicação de contratos em regiões administradas pelo partido. Era a partir daqui que seguiam pagamentos extraordinários para alguns líderes partidários, incluindo, segundo o ex-tesoureiro, Rajoy, que os terá recebido entre 1997 e 1999, enquanto era ministro do Governo de José María Aznar.
Rajoy negou ter recebido qualquer pagamento suplementar proveniente da contabilidade paralela operada por Bárcenas. “É absolutamente falso, recebíamos um salário de deputado e muitas pessoas recebiam um complemento pago pelo partido, que era declarado às Finanças”, disse o primeiro-ministro.
A oposição reagiu quase de imediato à sessão, acusando Rajoy de ser conivente com a corrupção no PP e pedindo a sua demissão. O líder do PSOE, Pedro Sánchez, acusou o primeiro-ministro de ser “o principal responsável político do clima geral de corrupção que se vive em Espanha”. “Apresente hoje mesmo a sua demissão ao rei”, apelou Sánchez.
O líder do Podemos, Pablo Iglesias, disse ser necessário “tirar o PP do Governo” e revelou que irá reunir com Sánchez para pedir a apresentação de uma moção de censura contra o executivo.