O design dos millennials e dos velhos-jovens na nova bienal do Porto
Porto — Design Biennale terá duas grandes exposições com a produção dos designers mais velhos e dos mais jovens, além de reflectir sobre o "território instável" que é a actividade neste milénio. Itália é o primeiro país convidado, antecipa ao PÚBLICO o curador José Bártolo.
A Porto — Design Biennale só se implanta em 2019 no terreno delimitado pela cidade que lhe dá nome e pela vizinha Matosinhos, mas vai começar a fazer-se notar já este ano. É quando são lançados programas com as escolas superiores de design portuguesas ou o Prémio Nacional de Design que o novo evento quer (continuar a) promover. Um ano depois, é a vez de uma conferência internacional sobre o tema da Tensão Pós-Milénio, que é o chapéu sob o qual decorre a bienal propriamente dita, entre Setembro e Dezembro de 2019, com duas grandes exposições sob o signo das gerações: os millennials e os young old.
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A Porto — Design Biennale só se implanta em 2019 no terreno delimitado pela cidade que lhe dá nome e pela vizinha Matosinhos, mas vai começar a fazer-se notar já este ano. É quando são lançados programas com as escolas superiores de design portuguesas ou o Prémio Nacional de Design que o novo evento quer (continuar a) promover. Um ano depois, é a vez de uma conferência internacional sobre o tema da Tensão Pós-Milénio, que é o chapéu sob o qual decorre a bienal propriamente dita, entre Setembro e Dezembro de 2019, com duas grandes exposições sob o signo das gerações: os millennials e os young old.
José Bártolo, comissário geral da nova bienal, apresenta ao final da manhã desta quarta-feira a programação da primeira Porto — Design Biennale. Surge da vontade de criar um evento internacional, uma estrutura mais perene para o design e uma relação com as cidades, antecipou ao PÚBLICO. Quer que seja “uma plataforma mais estável, capaz de desenvolver um trabalho de agregação nacional” em torno do design. No seu centro terá uma exposição do "trabalho feito pelos millennials, designers que se formaram e começaram a trabalhar já depois do ano 2000”, explica Bártolo, olhando de forma crítica para como os mais jovens profissionais “pensam a sua disciplina, a sociedade que os envolve, como se relacionam com a tecnologia e com as questões políticas. Estamos perante um perfil geracional radicalmente diferente do da geração anterior”, alerta. A exposição internacional contemplará design industrial, gráfico ou digital produzido entre o 11 de Setembro e o agora, com a crise de 2008 de permeio.
A outra exposição e a outra geração em foco é a dos young olds – e Bártolo passa a explicar. “As pessoas que já dobraram os 65 anos mas continuam saudáveis, activas, produtivas, interventivas.” Mostra-se trabalho dos últimos três anos destes “designers muito contemporâneos e inovadores”, estrangeiros e nacionais. Noutros quadrantes, os debates da bienal servirão para trabalhar temas como “o contexto político do design”, “os níveis de relação entre design e democracia” ou eventos como a Porto — Design Biennale e seus formatos. Aliás, está planeada já este ano “uma pequena conferência sobre o impacto que uma bienal deixa no território”.
Cada edição terá um país convidado e em 2019 será Itália, com programação comissariada por Maria Milano. Em Outubro de 2018, como antecâmara da bienal, decorre então a conferência sobre o tema geral da bienal, com coordenação da docente Ana Teixeira Pinto. Também em 2018 há um workshop internacional, coordenado pela arquitecta Mariana Pestana, com jovens curadores de várias áreas – design, arte contemporânea, arquitectura ou teoria crítica – que vêm trabalhar o tema da Tensão Pós-Milénio. “Muitos dos resultados serão mostrados na edição da bienal”, diz José Bártolo sobre um espaço que quer que seja anual para “alimentar uma produção crítica e curatorial permanente que ajude a dar estrutura à bienal”.
A ideia de durabilidade, mas também a de pólo gravitacional são duas constantes no projecto tal como professado pelo seu curador geral. A bienal começou a ser pensada há dois anos e é em parte fruto de uma “radiografia crítica” do sector, diz Bártolo ao PÚBLICO. O estado do design português? O comissário e também docente e investigador da Escola Superior de Artes e Design (ESAD) de Matosinhos fala de um “território que é instável”, de como “parece inconcebível que em Portugal não exista um Centro Nacional de Design (CPD), que não existam programas público-privados com verdadeira abrangência nacional que promovam o design português”. E claro, do fim anunciado da bienal ExperimentaDesign, lisboeta de nascença mas que precisamente em 2015 se tinha já espraiado até ao Porto e Matosinhos.
Dada a proximidade do anúncio da morte e nascimento das duas bienais, José Bártolo lá frisa que “não há nenhum tipo de relação causa-efeito” entre os destinos dos dois projectos — um promovido por uma associação sem fins lucrativos e outro a nascer com as câmaras de Porto e Matosinhos como promotores (que segundo o comissário viabilizam o orçamento), bem como pela ESAD Idea — Associação para a Investigação em Design e Arte. “Em momento algum me parece que se continuássemos a ter uma bienal de design em Lisboa não pudéssemos ter uma bienal de design no Porto”, diz Bártolo. A Porto — Design Biennale não vem “ocupar um lugar vago” nem fica “reforçada só por à sua volta o panorama não ter a vitalidade e expressão” de que gostaria a organização.
Contudo, assume as “responsabilidades acrescidas” que o contexto lhe dá, mas olha para o lado positivo desse contexto. Aquele onde nasce a bienal, numa área metropolitana onde no design “há investimento público, há iniciativa privada, há um perfil académico que funciona bem. E talvez estejam aqui no Grande Porto alguns dos melhores designers europeus”, afirma. A “indiscutível expressão e relevância” do design no Porto e Matosinhos junta-se aos equipamentos que lista e que têm potencial de palco para a bienal, como a Casa da Arquitectura, o Matadouro do Porto, a Casa do Design, a Casa da Música ou Serralves.
A urgência, quatro anos depois da extinção do CPD e com apenas uma edição, no âmbito do Ano do Design Português, dos prémios nacionais da disciplina, sente-se na vontade de manter um galardão para a área, mas “em que medida eles serão uma continuidade está ainda em debate”. Acha "muito discutível que se associem empresas privadas aos prémios, porque isso pode condicionar o funcionamento do próprio prémio. O prémio deve ter um promotor público”, diz Bártolo, que gostaria, como em 2015, de voltar a ver os ministérios da Economia e da Cultura nesse papel.
Na apresentação do evento, ao final da manhã, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, divulgou, citado pela Lusa, que o investimento total a três anos (2017-2019) será de 2,5 milhões de euros (960 mil do município do Porto e 540 mil de Matosinhos) e que pretendem "candidatar o projecto a fundos comunitários, para mitigar o investimento ao longo dos três anos".
Notícia actualizada às 16h30 com informação sobre o orçamento previsto da bienal