Da luta ideológica à luta pela sobrevivência dos partidos

As juventudes partidárias são hoje mais pragmáticas do que ideológicas. Sinais dos tempos, dizem mais velhos e mais novos. O que mudou? O que querem os jovens partidários para o futuro?

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“Num dia apanhei em Lisboa da UEC [União de Estudantes Comunistas] de manhã e fiquei com um olho negro. Cheguei a Ponta Delgada à tarde e levo da FLA [Frente de Libertação dos Açores]”, conta Carlos César. À sua frente, o agora presidente do PS tinha vários ex-dirigentes da Juventude Socialista (JS) com quem partilhou histórias dos dias quentes das lutas estudantis logo no pós 25 de Abril, num reencontro mais de 30 anos depois o sábado passado em Coimbra. Hoje, a luta pode não ser tão ideológica, nem tão quente, nem tão apaixonante, mas os cinco jovens que dirigem as estruturas partidárias acreditam que têm uma guerra tão mais importante em mãos: num mundo que se torna cada vez mais anti-sistema, não querem deixar que se findem os dias da política partidária.

É pela ideologia, dizem, que lá estão. É pela prática do exercício de poder para os jovens que lá ficam. O Simão já é pai. Ao Ivan já o tratam por você algumas vezes. O Vasco fala sempre no plural. A Inês ainda estuda. O Francisco diz que é o único de centro-direita. São estes os jovens que, cada um na sua juventude e cada um à sua maneira, querem mudar o país, chamar jovens para a política e afugentar a ideia de que são todos uns “tachistas”. Será que conseguem?

Carregam um fardo que os mais velhos não invejam – e que pelas suas acções o tornaram mais pesado –, numa altura em que a política mundial está de pernas para o ar, em que os jovens se afastam dos partidos e em que os casos judiciais atacam a credibilidade dos políticos. Eles querem mostrar que a política é a arte nobre do bem comum e que o interesse que têm é o de exercer o poder para melhorar a vida de todos.

"Felizmente", diz António Costa, teve a sorte de pertencer à jota quando a "política estava na rua". “Tivemos sorte no tempo em que fomos da JS. Naquela altura o debate político era muito intenso”, conta ao P2 à margem do reencontro de ex-dirigentes da JS. Havia uma definição ideológica dos próprios partidos e as juventudes entravam no debate, muitas vezes tendo elas próprias um debate interno sobre o rumo que deveriam seguir. A Juventude Comunista Portuguesa (JCP), foi herdeira da antiga União dos Estudantes Comunistas (UEC) e da União da Juventude Comunista (UJC). Uma agrupava estudantes, outra trabalhadores. A JS teve durante anos momentos de tensão com uma ala trotskista, que acabaria com a expulsão destes membros da estrutura. A Juventude Social Democrata (JSD) e a Juventude Popular (JP) passaram com dificuldades e distinção pelos anos quentes pós-revolução. E eram mesmo anos quentes.

Apesar do período mais conturbado, houve um amenizar de relações entre as juventudes. Já nos anos 80, conta Carlos Coelho, líder da JSD de 1986 a 1990, foi a um congresso da JS e foi aplaudido. Jorge Sampaio, também ele convidado no congresso estranhou e admitiu que o mesmo não aconteceria se o líder do PSD fosse a um congresso do PS. 

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Ex-dirigentes da JS, com Carlos César, António Costa, Ivan Gonçalves, José Apolinário e Margarida Marques, em Coimbra enric vives-rubio

Agora, a política não está na rua e o que os move, dizem, é apenas a vontade de servir. É essa vontade que justifica que uma centena de jovens da JSD se junte numa noite fria de Fevereiro, numa junta de Freguesia do Porto, para ouvir políticos falarem dos problemas da coesão territorial? Ou que jovens da JS passem um fim de semana em Peniche, fechados em salas de um hotel a analisar o trabalho que fizeram nesse nome pomposo a que chamam as “organizações autónomas”?

Não ignoram que a sociedade olha para eles com o preconceito armado. São “tachistas”, “carreiristas”, são os boys e as girls à espera dos jobs e é até natural que alguns os venham a ter. Afinal, as jotas funcionam como escolas, como formação para os mais novos quadros dos partidos, e é por isso consequência natural que sejam estes jovens os de confiança dos políticos que ascendem ao Governo, mas dizem, acontece a um em mil. No actual Governo há vários membros da JS que estão em gabinetes de ministros ou de secretários de Estado como técnicos e adjuntos e há, aliás, antigos dirigentes da JS que chegaram ao executivo. Margarida Marques, José Apolinário e Pedro Nuno Santos são hoje secretários de Estado, já foram líderes da JS. O próprio António Costa foi dirigente da JS e é hoje primeiro-ministro. A mesma ocupação de cargos por jovens da JSD e da JP aconteceu no governo anterior, liderado pela primeira vez por um ex-líder de uma juventude partidária, Pedro Passos Coelho.

Os líderes das juventudes já se conformaram com a ideia de que é difícil combater esse estigma, apesar de insistirem que os factos não mostram essa ascensão meteórica, imediata e por direito que a sociedade faz crer. António Costa concorda: “Estava aqui a olhar para a sala e a maioria dos que aqui estiveram não fizeram carreira política, nem a nível nacional, nem local”, diz a olhar para antigos camaradas da JS das décadas de 70-80, que se reuniram em Coimbra neste mês de Abril.

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Fórum das Organizações Autónomas da JS, em Peniche enric vives-rubio

É pelo ideal que lá vão

Mas há o reverso da medalha. Se uns vão para as jotas com olho no prémio de carreira, outros, que tentam vida no privado temem por vezes ser prejudicados por terem actividade política, serem conotados com este ou aquele partido. Ivan Gonçalves, líder da Juventude Socialista (JS), estudou engenharia e teve uma passagem pela EDP antes de entrar na JS e na Assembleia da República. Nunca colocou no currículo que fazia parte da JS e entende que muitos jovens têm a ideia de que “fazer trabalho num partido ou numa juventude pode prejudicar” no trabalho.

Não é o único a notar a existência de uma espécie de ocultação ao futuro patrão. “Temos muitos miúdos que quando estão naquela transição entre acabar o ensino superior e entrar no mercado de trabalho dizem-me ‘tenho um bocado de receio que descubram que eu sou da JSD’. Porque há esse preconceito”, diz Margarida Balseiro Lopes, secretária-geral da JSD, que fala com o P2 a substituir o presidente, Cristóvão Simão Ribeiro. “É um contra-senso. Estamos sempre a dizer que os jovens estão afastados da política, que não se interessam, que não se preocupam, mas depois quando temos jovens a participar parece que lhes estão sempre a dizer que se forem para uma jota ganham cadastro, não currículo”, desabafa.

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Estamos sempre a dizer que os jovens estão afastados da política mas depois quando participam parece que lhes estão sempre a dizer que se forem para uma jota ganham cadastro, não currículo” Margarida Balseiro Lopes, Juventude Social Democrata

Esta é uma batalha comum entre todos os responsáveis de juventudes partidárias: trazer jovens para a política e fazer ver à sociedade que há um lado bom, que a política é necessária e que eles são aves raras (entre 1 e 3 em cada 100 jovens). “É injusto. Os militantes das juventudes têm uma pureza e uma ingenuidade na forma como fazem o seu trabalho que é superior a quem já o faz há mais tempo”, acredita Ivan que, diz, pela experiência que tem na JS “quem entre à espera de um retorno profissional rapidamente deixa de participar”. São horas e dias roubados à juventude, às relações familiares e pessoais. Substituem um jogo de futebol por um debate político e passam a ter os amigos entre os camaradas de partido.

Este preconceito coloca-se sobretudo nos “jotinhas” dos partidos do arco da governação (JS e JSD, mas também na JP) que estão mais próximos do poder. Mas o poder mudou, há vários tipos e quando chega ao poder local pode tocar a todos. “Quem queira vir para a JCP para subir na vida, não vai muito longe”, diz Vasco Marques, que foi eleito neste mês de Abril para a direcção da JCP, um órgão colectivo. O comunista admite que existe esse preconceito em relação aos mais jovens, mas nota-o de outro prisma. Para ele, o preconceito está no facto de ser do PCP. “Em relação ao trabalho há ainda mais. Há entidades empregadoras que nos encaram como aqueles que se vão mexer para combater determinada injustiça.”

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Há entidades empregadoras que nos encaram como aqueles que se vão mexer para combater determinada injustiça.” Vasco Marques, Juventude Comunista Portuguesa

Não têm dúvidas que as “juventudes partidárias são encaradas como escolas de maus vícios, como academias de emprego e como centros de hábitos que são prejudiciais para a gestão da coisa pública”, diz Francisco Rodrigues dos Santos, da Juventude Popular. Paulo Portas, que foi líder do seu partido e começou na JSD, chegou a dizer que as jotas eram “escolas de crime”. Francisco não consegue dissociar a imagem negativa das jotas dos protagonistas de casos de justiça. “Os políticos, em alguns casos, prejudicaram a credibilidade e a confiança da sociedade face aos aparelhos político-partidários”, acrescenta.

Dos partidos com assento parlamentar, o único que não tem uma juventude autónoma é o Bloco de Esquerda. Têm uma secção do partido a que chamam “coordenadora nacional de jovens”, que organiza e agrupa os mais novos, mas não lhe querem chamar juventude partidária. Inês Bom, estudante de 22 anos, faz parte da direcção do grupo e defende que a melhor maneira de combater essa “conotação negativa que as juventudes partidárias têm” é a de integrar os mais novos na estrutura, não os “sectorizando” numa jota.

O preconceito que agora vivem os mais novos nem sempre esteve colado à pele das juventudes de outros tempos. Aarons de Carvalho, o primeiro líder da JS, além de ter estado na fundação do PS ainda com apenas 23 anos, diz que naquela época, em que as lutas ideológicas no país estavam ao rubro e as universidades eram o ovo de muitas guerras políticas, havia “um olhar para a política muito mais benévolo do que há hoje”. Os tempos eram outros, as “pessoas ansiavam pela liberdade e viam nas que ascendiam à política, apesar da sua inexperiência, desconhecimento e impreparação, uma generosidade muito grande. Hoje em dia há muito mais desconfiança”, lamenta.

Com as lutas ideológicas esbatidas, Carlos Coelho, que foi líder da JSD nos anos 80, acredita que “é natural que se diga que os jovens querem fazer carreira porque associam ao poder”. Antes “havia mais o ideal romântico”, era uma “lógica mais idealista, agora há mais a percepção de poder”. Uma visão que os mais jovens não partilham.

Muitos deles entraram cedo nas lides políticas, ouvem discussões em casa desde o berço, alimentam o bichinho à mesa do jantar e muitas vezes até a oposição começa dentro de casa. “Os meus pais são aquilo que eu agora considero a oposição dentro de casa, são do PSD. Sempre me disseram que à mesa não se discute política, mas quando estamos juntos, discutimos política”, conta Pedro Santos, da JS.

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Os militantes das juventudes têm uma pureza e uma ingenuidade na forma como fazem o seu trabalho que é superior a quem já o faz há mais tempo” Ivan Gonçalves, Juventude Socialista

O binómio esquerda/direita ainda aquece na discussão partidária nas juventudes, mas quase todos lá vão pelo ideal: “Ainda que possa parecer um bocado ridícula ou utópica, acho que há uma parcela grande dos jovens que se motiva por tentar mudar as coisas à nossa volta” diz Margarida.

As cinco estruturas de juventude organizam debates, conferências, funcionam como uma escola de pequenos políticos, têm “universidades” nas férias do Verão ou acampamentos, dão “formação ideológica, muito mais forte do que aquela que o partido proporciona. Isso é fácil perceber até pela forma como muitos jovens saem da JS e vingam depois no partido”, diz Ivan.

E é sobretudo na formação ideológica, além das políticas, em que se distinguem. “Dizemos aos jovens que não têm de escolher entre o centro esquerda ou a esquerda do centro. Há uma Jota que não é igual, quer ser o braço direito dos jovens em Portugal. Estamos um pouco isolados do ponto de vista ideológico”, admite Francisco, da juventude do CDS.

Mas a definição ideológica no espectro partidário ficou lá atrás. António Costa lembra que “naturalmente foi diminuindo a intensidade do debate político-ideológico [nas juventudes e nos partidos]. A consolidação da democracia permitiu aos partidos consolidarem a sua identidade ideológica. Por outro lado, cada vez mais as juventudes partidárias foram-se tornando estruturas de partido e acabaram por ter uma orientação para o que é o dia a dia da acção política”. São mais pragmáticas.

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Debate no Porto sobre coesão territorial, JSD adriano miranda

Da ideologia à proposta

O passar do tempo trouxe mais pragmatismo, mais políticas e menos ideologia à política. Fruto das épocas e da evolução dos próprios partidos. Nos primeiros dias da democracia, os jovens batiam-se pelas liberdades imediatas, pelo movimento estudantil, pelo fim do serviço militar obrigatório, pelas liberdades e direitos dos jovens que, à esquerda, apareciam associados a temas mais fracturantes.

Havia luta ideológica em força, discussão a aquecer que muitas vezes desvairava para a pancadaria. Os problemas da juventude centravam-se em problemas mais apelativos à mobilização de massas e mobilização criativa. Distribuíam-se preservativos de camisola amarela e suspensórios vermelhos, como fez António José Seguro nas legislativas de 1991; arrojava-se na voz contra as propinas do Governo do mesmo partido, como fez Passos Coelho quando Cavaco Silva era primeiro-ministro; foram expulsos por serem contra ministros, como fizeram os jovens da JS de Coimbra nos idos anos 70; ou tinham processos disciplinares por votarem pela legalização do aborto, como aconteceu com Pedro Pinto, o primeiro líder carismático da JSD.

Os tempos mudaram e os temas passaram a ser quase sempre centrados na educação e no emprego. Os cinco jovens dirigentes que falaram com o P2 partilham dos mesmos problemas, mas têm maneiras diferentes de os resolver.

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Não pretendemos ser uma voz extra no próprio partido, mas uma voz dentro do partido que ajuda a construir a política interna e a linha orientadora do BE” Inês Bom, Jovens do Bloco de Esquerda

À esquerda querem a chamada “propina zero”: a JCP e o BE mais depressa, a JS mais devagar. Os dois mais à esquerda já apresentaram projectos de resolução no Parlamento, os três deputados da JS abstiveram-se, mesmo votando de maneira diferente do partido não foi suficiente e a proposta acabaria rejeitada.

A JS e a JSD querem regrar o preço das refeições escolares e indexar o preço do alojamento ao indexante de Apoios Sociais e não ao salário mínimo nacional (SMN). Quando o Governo de António Costa aumentou o SMN ninguém se lembrou que os custos mais imediatos para os jovens estudantes iriam explodir.

A JP apresentou propostas sobre o abandono escolar (apesar de não ter nenhum deputado eleito) e a JS lançou depois do congresso do final do ano passado duas discussões para a praça pública: a regulamentação da prostituição e a limitação dos salários mais altos dentro da mesma empresa para reduzir a desigualdade salarial.

Para a JS e JSD a linha é directa para o Parlamento. A JS tem três deputados, a JSD tem cinco. A direcção dos jovens do BE tem Luís Monteiro, a JP e a JCP não têm deputados eleitos, mas dizem que não têm problemas em fazer chegar as propostas, além de que todos lembram que a actividade das jotas vai além (e é sobretudo) fora das paredes de São Bento.

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Fórum das Organizações Autónomas da JS, em Peniche enric vives-rubio

Ouvir o passado

A relação entre a juventude e o partido é umbilical e estranho seria se fosse de outro modo. A JSD lembra muitas vezes o pedido do fundador, Francisco Sá Carneiro, ao jovens social-democratas para que não se acomodassem. Carlos Coelho lembra que este pedido, aparentemente singelo, tem “um peso muito grande na JSD” e recorda o que Duarte Marques, ex-líder da JSD, costumava dizer: “Quem olha para nós convencidos que vamos ser a voz do governo junto dos jovens, engana-se, queremos ser sempre a voz dos jovens junto do governo”. Mas foi mesmo assim quando o PSD estava no Governo? Não se pede aos jotas que sejam a oposição interna, mas Margarida Balseiro Lopes lembra que há autonomia nas posições e que a JSD foi contra o regulamento de atribuição de bolsas do ministro Nuno Crato. “Não fomos para os jornais”, criticaram por dentro, diz Margarida lembrando que também criticaram quando o governo anterior acabou com a formação cívica nas escolas.

Já a JS repete o lema “do lado certo da história e à frente do nosso tempo”, uma junção dos dois títulos das moções do Ivan e do ex-líder João Torres. Mais do que serem anti, querem impor debates, ser mais “progressistas”. “Há coisas que defendemos e que o partido não defende, mas na maior parte das vezes, acaba por nos vir dar razão”. O navio do PS demora mais a mexer-se, foi assim com temas mais fracturantes como a despenalização do abordo, o casamento entre casais do mesmo sexo ou agora com a regulamentação da prostituição.

Já no BE há uma fusão entre as ideias de um lado e de outro. “Não pretendemos ser uma voz extra no próprio partido, mas uma voz dentro do partido que ajuda a construir a política interna e a linha orientadora do BE”, esclarece Inês Bom.

As juventudes partidárias não têm personalidade jurídica à parte dos partidos aos quais pertencem. Se são mais livres nas ideias, essa autonomia não se vê no financiamento, consolidam as suas contas dentro das contas dos partidos e o financiamento é baixo, o que faz com que financiem parte das iniciativas, mas é exigido aos militantes algum esforço. A JSD tem um orçamento anual na ordem dos 132 mil euros, a JP recebe cerca de 48 mil euros (4 mil euros mensais) e a JS recebe apoio esporádico do partido, partilhando algumas contas de iniciativas. 

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Dizemos aos jovens que não têm de escolher entre o centro esquerda ou a esquerda do centro. Há uma Jota que não é igual, quer ser o braço direito dos jovens em Portugal. Francisco Rodrigues dos Santos, Juventude Popular

Além disso, os líderes da JS, JSD e JP têm lugar marcado por inerência nos órgãos de direcção do partido (secretariado nacional no caso do PS, comissão política nacional no caso do PSD e CDS). Já os membros da direcção da JCP não têm por direito lugar no comité central, mas há vários com assento no órgão máximo do PCP.

Umas mais rapidamente do que outras, a luta pela autonomia em relação aos partidos é um íman constante: fazem parte da mesma família, mas querem ir a outro ritmo. E não é de agora, já desde que nasceram, quase todas logo a seguir ao 25 de Abril.

Se na JSD o mandato de Passos Coelho é muitas vezes apresentado como exemplar pelas lutas contra medidas do Governo de Cavaco Silva, na JS as lutas internas dos anos 80 acicataram essa autonomia do partido. Foi o que aconteceu quando Margarida Marques subiu a secretária-geral. Conta ao P2 que venceu as eleições contra a outra lista constituída por “aparelhistas”, que era liderada por Luís Patrão e tinha nos bastidores a mexer os cordelinhos António Costa. “A nossa lista queria uma grande autonomia em relação ao partido”, diz a mulher que foi a primeira líder de uma juventude em Portugal.

Essa “autonomia” deu-lhe algumas discussões acesas com o então líder do partido, Mário Soares. “Houve uma vez que me disse que se a JS continuasse naquele caminho, faria o mesmo que Mitterrand tinha feito aos jovens em França", acabar com a JS. "Mas nunca o fez”. “Mário Soares achava que nós éramos muito esquerdistas”, acrescenta.

Os jovens de hoje não têm dúvida de que não há quem confunda ideologicamente o que cada jota é, mas têm em mãos outra batalha que é o "bem comum" e puxar os mais novos para o mundo político e partidário.