Trump: “O 'Brexit' pode ser uma coisa muito boa” para a UE

Em entrevista ao Financial Times, o presidente americano antecipa o encontro com o homólogo chinês: "Se não resolverem a Coreia do Norte, resolvemos nós".

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Trump recebe o presidente chinês no final da semana Reuters/Jonathan Ernst

O Presidente norte-americano considera que a União Europeia tem conseguido dar a volta às expectativas mais pessimistas em relação ao "Brexit" e que o processo pode tornar-se agora um factor positivo para as duas partes. “Depois da votação eu teria dito ‘sim, isso [a Europa] vai começar a desmoronar’. Mas fizeram um trabalho muito bom juntos. Pode ser uma coisa muito boa para os dois lados”, afirmou Donald Trump ao Financial Times, numa entrevista publicada esta segunda-feira.

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O Presidente norte-americano considera que a União Europeia tem conseguido dar a volta às expectativas mais pessimistas em relação ao "Brexit" e que o processo pode tornar-se agora um factor positivo para as duas partes. “Depois da votação eu teria dito ‘sim, isso [a Europa] vai começar a desmoronar’. Mas fizeram um trabalho muito bom juntos. Pode ser uma coisa muito boa para os dois lados”, afirmou Donald Trump ao Financial Times, numa entrevista publicada esta segunda-feira.

Trump reconhece que o "Brexit" pode ser um antídoto, mas já não um vírus para a UE: “Parece haver um espírito diferente para se manter unida. Eu não acho que eles tinham esse espírito quando estavam a lutar com o Reino Unido e [o] Reino Unido finalmente decidiu sair. . . Eu realmente penso que vai ser um grande negócio para o Reino Unido, e eu acho que vai ser muito, muito bom também para a União Europeia”, acrescentou.

O elogio vai indirectamente para Angela Merkel. É o próprio quem traz a chanceler alemã para a conversa no âmbito da pergunta sobre a Europa, para repetir que teve “uma grande reunião” com ela. “Eu tive um óptimo encontro com ela, eu realmente gostei dela. Ela disse a mesma coisa sobre mim. Falei com ela há dois dias. Tivemos uma grande reunião e a imprensa não entendeu”, afirmou. Quando questionado sobre se é o centro da Europa que mantém a UE unida, Donald Trump responde que sim e insiste: “Acho que fizeram um trabalho melhor desde o 'Brexit'”.

As suas declarações vão em sentido contrário às da administração germânica. No sábado, a ministra da Economia alemã criticou as mais recentes decisões adoptadas pela Casa Branca no que diz respeito à política comercial, afirmando que mostram uma vontade dos EUA “se afastarem do comércio livre e dos acordos comerciais”.

Interrogado sobre as eleições em França e as suas afinidades com Marine Le Pen, o Presidente americano sublinhou não conhecer a candidata da extrema direita, mas saber o que se passa: “Vai ser uma corrida interessante. Eu não sei o que vai acontecer. Mas sei que algumas distracções externas ocorreram que podem mudar o rumo dessa corrida”.

Coreia do Norte: “Se a China não resolver, nós resolvemos”

Na semana em que vai receber o Presidente da China, o tom das relações bilaterais mantém-se tenso e Trump ajuda a manter esse clima. Na entrevista, o Presidente dos EUA começa por afirmar o seu respeito por Xi Jinping e a esperança em obter bons resultados, mas logo a seguir coloca condições e deixa uma ameaça.

“Não ficaria surpreso que nós os dois conseguíssemos fazer alguma coisa muito dramática e boa para os dois países e espero que isso aconteça”, afirma Trump. O Presidente americano garante que vai falar sobre a Coreia do Norte, até porque a China tem grande influência no assunto: “A China vai decidir se nos ajuda ou não com a Coreia do Norte. Se o fizer, isso vai ser muito bom para a China, mas se não o fizer não vai ser bom para ninguém”.

O que quer dizer com isso, não se sabe ao certo, mas a ameaça parece clara: “Se a China decidir não resolver a Coreia do Norte, resolvemos nós. Isso eu garanto”. Como? “Totalmente”, é a única resposta.

O incentivo para conseguir um acordo com Jinping será a via comercial, acrescenta. Mas não pela positiva. “Dizemos à China que não podemos continuar a negociar se temos um acordo injusto como temos agora. Eu não quero falar sobre tarifas ainda, talvez na próxima vez que nos encontramos. Mas [a questão] é igualar. Essa é uma palavra muito boa porque as tarifas não são iguais. Quando se fala sobre a manipulação de moeda, sobre desvalorizações, eles são campeões mundiais”, considera Trump.

Do lado da administração chinesa, o tom é igualmente tenso. No sábado, a China pediu aos Estados Unidos que respeite as regras de comércio internacional e melhore a cooperação e o diálogo em relação a duas novas determinações do Presidente norte-americano, pedindo investigação sobre abusos comerciais.

Qualquer medida sobre comércio dos EUA deve atender às regras internacionais acordadas e diferenças entre os dois países deveriam ser lidadas de forma apropriada, afirmou um porta-voz não identificado do Ministério do Comércio da China citado pela Reuters. "A China está disposta a cooperar com os EUA numa base de igualdade e benefício mútuo", disse o porta-voz em discurso divulgado no site do ministério.

Foi a resposta aos decretos presidenciais assinados por Trump sexta-feira, com o objectivo de investigar possíveis abusos que provocariam amplos déficits comerciais para os EUA.

Confrontado pelo FT com o tom bélico das suas palavras, Trump responde: “Isto não é um exercício. Este é um problema muito, muito sério que nós temos no mundo hoje. E nós temos mais do que um, mas não é exercício. Isto não é só conversa”, garante.

Será que Trump acredita em acordos e alianças? “As alianças nem sempre funcionaram muito bem para nós. Mas eu acredito em alianças. Eu acredito em relacionamentos. Eu acredito em parcerias. Mas as alianças nem sempre funcionaram muito bem para nós. Ok?”

Onde tudo indica que vai ter de haver negociações é em relação ao Obamacare. Trump reconheceu que pediu para a votação no Senado ser adiada porque percebeu que podia perder: “Sim, eu não perco. Eu não gosto de perder. As negociações estão a decorrer. Mas esse não era um dia definitivo. Eu disse: ‘Não votem’, e veremos o que acontece”.

Mas garantiu que, de uma forma ou de outra, vai cumprir a promessa de ter uma “grande saúde” no país: “Será uma revogação e substituição de Obamacare, que é o que está a ser negociado agora. Mas quando você tem zero democratas, zero, precisa perto de 100% dos republicanos”.