Ataque em Orly traz ameaça terrorista de novo para a campanha francesa
"Estou aqui para morrer por Alá", terá dito o homem que atacou uma patrulha militar no aeroporto parisiense antes de ser morto. Referenciado há anos como radical islâmico não estava sob vigilância.
A menos de um mês da primeira volta das eleições presidenciais e em vésperas do debate inaugural entre os cinco principais candidatos ao Eliseu, França acordou neste sábado com a notícia de um novo ataque, tema dominante num país que há dois anos convive de perto com a ameaça do terrorismo. Um homem, que já estava referenciado como radical islâmico, roubou a arma de uma militar destacada para o aeroporto de Orly, a sul de Paris, antes de ser morto a tiro.
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A menos de um mês da primeira volta das eleições presidenciais e em vésperas do debate inaugural entre os cinco principais candidatos ao Eliseu, França acordou neste sábado com a notícia de um novo ataque, tema dominante num país que há dois anos convive de perto com a ameaça do terrorismo. Um homem, que já estava referenciado como radical islâmico, roubou a arma de uma militar destacada para o aeroporto de Orly, a sul de Paris, antes de ser morto a tiro.
O atacante foi identificado como Ziyed Ben Belgacem, de 39 anos e oriundo de Garges-lès-Gonesse, a norte de Paris, onde ao início da manhã disparou sobre um polícia que o mandou parar numa operação STOP. Pôs-se em fuga e numa localidade já perto de Orly entrou num bar onde ameaçou várias pessoas, antes de ter roubado um carro. Surgiria no aeroporto pouco antes das 8h30, onde atacou “com grande violência” uma militar que patrulhava o terminal Sul, acabando por se apoderar da sua arma.
“Baixem as armas", terá dito aos outros dois militares que a acompanhavam, segundo o relato do procurador-geral de Paris, François Molins, que encabeça as investigações. "Estou aqui para morrer por Alá. De qualquer forma vai haver mortos”, ameaçou enquanto usava a militar como escudo. No meio da confusão, com os passageiros a fugir do local em pânico, acabou por ser alvejado pelos militares. Ninguém mais ficou ferido.
Belgacem tinha um longo cadastro, tendo saído da prisão ainda em Setembro após cumprir parte de uma pena de dois anos a que foi condenado por roubo à mão armada. E, segundo Molins, desde 2011 que havia informações de que se tinha radicalizado na prisão – em 2015, após os atentados reivindicados pelo Daesh que fizeram 130 mortos em Paris, chegou a estar sob controlo das autoridades. Mas o seu nome nunca chegou a ser incluído na lista de suspeitos de ameaça à segurança nacional (ficha S), adiantam fontes próximas da investigação.
O aeroporto esteve encerrado várias horas – ao final da manhã as autoridades revelavam que seis mil passageiros tinham sido afectados, entre os que foram retirados do aeroporto após o incidente, aos que viajavam nos aviões que não puderam aterrar ou descolar em Orly, incluindo quatro voos da TAP oriundos de Portugal. Os dois terminais reabriram a meio da tarde, mas o ataque voltou a agitar a política francesa no momento em que a campanha presidencial entra na sua fase decisiva.
“O nosso Governo está ultrapassado, espantado, paralisado, como um coelho apanhado pelos faróis de um automóvel”, reagiu Marine Le Pen, a líder e candidata presidencial da Frente Nacional (FN), a quem as sondagens atribuem a vitória na primeira volta, a 23 de Abril. Repetindo que quer “pôr o país em ordem”, a líder da extrema-direita voltou a apontar o dedo à “inacção de toda a classe política perante o fundamentalismo islâmico”, uma atitude “que provocou resultados como o que se viu hoje em Orly”.
O primeiro-ministro, Bernard Cazeneuve, criticou Le Pen, dizendo que perante incidentes como o deste sábado os políticos “devem optar mais do que nunca pela dignidade”. E a maioria dos outros candidatos preferiu elogiar a reacção das forças de segurança ao incidente, o quarto em dois anos a visar as forças da operação “Sentinela”, que envolve mais de 7000 militares e foi decidida pelo Presidente François Hollande após o ataque contra o jornal Charlie Hebdo, em Janeiro de 2015. O último aconteceu a 3 de Fevereiro, quando um egípcio de 29 anos, simpatizante do Daesh, esfaqueou três soldados nas imediações do Louvre, que conseguiram ainda assim detê-lo.
Mas poucas horas depois do ataque, Emmanuel Macron, o candidato independente que é apontado como favorito à vitória, surpreendia os apoiantes com uma proposta para recriar, em formato reduzido, o serviço militar obrigatório, extinto há 20 anos no país. A ideia é a de os rapazes e raparigas que cumpram 18 anos passem um mês com as forças armadas adquirindo “uma experiência directa da vida militar”, fortalecendo “a convivência social e a coesão republicana”. O iniciativa não constava até agora do programa do candidato, mas era proposta pelo centrista François Bayrou, agora seu aliado, nota o Le Point. “As ameaças que pesam sobre o nosso país forçam-nos a reforçar os laços entre o Exército e a nação”, afirmou Macron. A proposta fica ainda assim distante da de Le Pen, que pretende reactivar o recrutamento militar obrigatório.