Óscares 2017: A noite dos trolls

Cerimónia teve final trágico-burlesco, com o prémio de melhor filme a ser, por engano, entregue a La La Land. O verdadeiro vencedor foi Moonlight.

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A 89.ª cerimónia de entrega dos Óscares vai ficar para a história, sim, mas não pelos motivos que se antecipavam: a política, os estrangeiros ausentes (como o iraniano Asghar Faradi, que conquistou mesmo o prémio para o melhor filme em língua estrangeira), a barragem anti-Trump que tem tido nalgumas estrelas de Hollywood os principais intérpretes. Tudo isso teve o seu peso e o seu lugar na cerimónia, é verdade, mas a "história" estava reservada para o final. Naquilo que só pode ser descrito como um "golpe de teatro", Warren Beatty, que com Faye Dunaway (e a pretexto do 50.º aniversário do Bonnie & Clyde de Arthur Penn, que ambos protagonizaram) apresentava o último e principal Óscar, o de melhor filme, anunciou La La Land como vencedor, a plateia aplaudiu, os produtores do filme de Damien Chazelle subiram ao palco, e já estavam embalados nos discursos de agradecimento quando alguém avisou que afinal o verdadeiro vencedor era Moonlight.

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A 89.ª cerimónia de entrega dos Óscares vai ficar para a história, sim, mas não pelos motivos que se antecipavam: a política, os estrangeiros ausentes (como o iraniano Asghar Faradi, que conquistou mesmo o prémio para o melhor filme em língua estrangeira), a barragem anti-Trump que tem tido nalgumas estrelas de Hollywood os principais intérpretes. Tudo isso teve o seu peso e o seu lugar na cerimónia, é verdade, mas a "história" estava reservada para o final. Naquilo que só pode ser descrito como um "golpe de teatro", Warren Beatty, que com Faye Dunaway (e a pretexto do 50.º aniversário do Bonnie & Clyde de Arthur Penn, que ambos protagonizaram) apresentava o último e principal Óscar, o de melhor filme, anunciou La La Land como vencedor, a plateia aplaudiu, os produtores do filme de Damien Chazelle subiram ao palco, e já estavam embalados nos discursos de agradecimento quando alguém avisou que afinal o verdadeiro vencedor era Moonlight.

Seguiram-se momentos para uma antologia dos Óscares — os produtores de La La Land a darem lugar aos de Moonlight, o apresentador Jimmy Kimmel a perguntar "o que fizeste, Warren?", Warren Beatty a jurar que "não estava a tentar ser engraçado" e a explicar que lhe deram o envelope errado, para espanto de quem assistia "in loco" ou via TV e durante largos momentos foi incapaz de decidir se estava a assistir a uma monumental gaffe digna de um concurso de talentos amadores ou a uma encenação altamente sofisticada com propósitos misteriosos (como, por exemplo, os de ilustrar uma ideia dos famigerados "factos alternativos"). Foi uma gaffe, juraram todos; mas por certo que ao longo dos próximos dias a história se esmiuçará até ao mais ínfimo pormenor.

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Este final trágico-burlesco acabou por ser o inesperado centro das atenções duma cerimónia que talvez tenha sido, nos últimos anos, a que melhor encontrou um equilíbrio entre a sobriedade e a necessidade de espectáculo. O estreante Kimmel foi pragmático sem ser ostensivo, e capaz do tom justo, algures entre a leveza e a seriedade deadpan, na maneira de lidar com as várias questões políticas que pairavam sobre a cerimónia. Que, pontualmente, explodiram, com clímax no discurso de aceitação do Óscar de Faradi, lido por uma astronauta irano-americana (o realizador estava, como se sabe, ausente, por respeito para com os seus compatriotas e para com os nacionais dos outros seis países visados na mais polémica "ordem executiva" até agora assinada pelo Presidente Trump),

Quanto a prémios, se se esperava, pelas 14 nomeações, um passeio de La La Land, ele acabou por não se verificar. A distribuição foi relativamente variada, e os seis Óscares do filme de Chazelle significam que acabou por perder mais do que os que ganhou - incluindo o principal, depois daquele faux pas do final. Moonlight também: ganhou três em oito mas ficou com o mais importante, o Óscar de melhor filme.

Lista completa dos vencedores

De resto, há a destacar os dois prémios de Manchester by the Sea (melhor argumento e melhor actor, Casey Affleck) e o dois de Hacksaw Ridge, de Mel Gibson (melhor montagem e melhor mistura de som). Damien Chazelle foi o melhor realizador e, na única decisão verdadeiramente imperdoável da noite, Isabelle Huppert foi preterida, como melhor actriz, pela insípida mas pelos vistos inevitável Emma Stone.

Entre os prémios honoríficos, deve-se destacar um gesto de reconhecimento para um enorme cineasta que não podia estar mais longe do universo dos Óscares: Frederick Wiseman, aos 87 anos, foi agraciado pela Academia.

Mas a noite era de foco nos trolls. A conta de Twitter de Donald Trump foi projectada em grande no écrã da sala onde decorria a cerimónia, e alguns actores (como Robert de Niro, que disse um "fuck you") leram em voz alta "tweets" que internautas anónimos escreveram sobre eles (alguns verdadeiramente ofensivos, outros apenas boas piadas). Pensava-se que, depois, desse momento, já bastava de trolls. Mas não, depois veio Warren Beatty, o maior troll da noite.

Fotogaleria

La La Land

  • Realizador: Damien Chazelle
  • Actriz: Emma Stone
  • Direcção de arte: David Wasco e Sandy Reynolds-Wasco
  • Fotografia: Linus Sandgren
  • Banda sonora original: Justin Hurwitz
  • Canção: City of Stars, de Justin Hurwitz, Benj Pasek e Justin Paul

Moonlight

Manchester By The Sea

Hacksaw Ridge

  • Mistura de som: Kevin O'Connell, Andy Wright, Robert Mackenzie e Peter Grace
  • Montagem: John Gilbert

Vedações

O Primeiro Encontro

  • Montagem de som: Sylvain Bellemare

Esquadrão Suicida

  • Caracterização: Alessandro Bertolazzi, Giorgio Gregorini e Christopher Allen Nelson

O Livro da Selva

  • Efeitos visuais: Robert Legato, Adam Valdez, Andrew R. Jones e Dan Lemmon

Monstros Fantásticos e Onde Encontrá-los

  • Guarda-roupa: Colleen Atwood

O Vendedor

O.J.: Made in America

The White Helmets

Mindenki

  • Curta-metragem: Kristóf Deák e Anna Udvardy

Zootrópolis

Piper

  • Curta-metragem de animação: Alan Barillaro, Marc Sondheimer