Quando não se ouve os policias é isto que acontece
Alguém sabe quantos polícias são assassinados anualmente no Brasil? Morrem em média 490 polícias ano. Nove por semana.
Tenho acompanhado com muita atenção os desenvolvimentos da situação no Estado brasileiro de Espírito Santo, onde os familiares dos polícias, revoltados com as dezenas de mortes de agentes - ainda esta semana foi assassinado mais um polícia civil - e com a forma quase esclavagista como os polícias são tratados ao nível remuneratório, de direitos e de condições de trabalho, decidiram fazer um bloqueio, impedido-os de saírem das instalações policiais.
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Tenho acompanhado com muita atenção os desenvolvimentos da situação no Estado brasileiro de Espírito Santo, onde os familiares dos polícias, revoltados com as dezenas de mortes de agentes - ainda esta semana foi assassinado mais um polícia civil - e com a forma quase esclavagista como os polícias são tratados ao nível remuneratório, de direitos e de condições de trabalho, decidiram fazer um bloqueio, impedido-os de saírem das instalações policiais.
Em consequência deste bloqueio, as localidades daquele estado estão há vários dias sem policiamento, o que já causou quase uma centena de homicídios e desordens públicas. O governo daquele Estado, numa já tardia e desesperada tentativa de repor a segurança e a ordem pública, decidiu convocar o Exército brasileiro para desempenhar missões de policiamento civil. No entanto, considerando as notícias recentes parece que o Exército não está a conseguir garantir minimamente tal objetivo.
Ora, na minha opinião, é mais que óbvio e natural que o Exército brasileiro não consegue controlar a situação, até porque, primeiro, é uma força que não está vocacionada para funções de segurança e ordem pública, ao contrário da polícia - aliás, se isto fosse em Portugal, seria inclusive proibido pela Constituição - , segundo, os militares do Exército, mesmo sendo excelentes profissionais militares, nunca serão bons polícias, pois falta-lhes a formação policial e jurídica, a experiência e principalmente o conhecimento do terreno e das informações policiais.
Em terceiro lugar, é democraticamente incompatível e até inconcebível colocar sob jurisdição militar uma população civil, ainda que a situação de facto esteja muito má e quase pareça um teatro de guerra. E, por fim, um governo, seja ele qual for, que deixa uma situação chegar a este ponto, é um governo incompetente, quer por ter levado os polícias, ou neste caso os seus familiares, ao desespero e ao limite da sua paciência, quer por nunca ter encontrado uma solução preventiva e dialogante que impedisse este desfecho, mas também porque após tantos cidadãos brasileiros mortos e vários dias passados desde o início desta “confusão”, continua incapaz de resolver a situação e chegar a acordo com os polícias e com os seus familiares.
Espero bem que os responsáveis brasileiros abram os olhos e de uma vez por todas ouçam os policias, pois se não o fizerem o efeito de contágio a outros Estados brasileiros é uma realidade e de repente não há só um Estado, mas sim um país inteiro a arder.
Em tom de nota final, aos críticos que pensam ou possam afirmar que "a culpa da situação é da polícia que não faz nada e que devia ir trabalhar", só lhes digo isto: fosse a situação convosco ou com os vossos pais, filhos ou cônjuges, garantidamente tinham outra visão das coisas, pois falar e criticar de barriga cheia, no conforto de uma vida sem problemas, é muito fácil!
Alguém sabe quantos polícias são assassinados anualmente no Brasil? Morrem em média 490 polícias ano. Nove por semana.
Presidente do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL)