Trump demite procuradora-geral que desafiou bloqueio a refugiados

Presidente dos EUA dispensou Sally Yates, que tinha ordenado ao Departamento de Justiça para não defender o decreto que restringe entrada de refugiados e imigrantes.

Foto
EPA/ANDREW HARRER

Sally Yates, a procuradora-geral em funções, foi demitida do cargo por Donald Trump, depois de ter ordenado ao Departamento de Justiça que não defendesse o decreto do novo Presidente dos EUA que limita a entrada de refugiados e migrantes nos Estados Unidos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Sally Yates, a procuradora-geral em funções, foi demitida do cargo por Donald Trump, depois de ter ordenado ao Departamento de Justiça que não defendesse o decreto do novo Presidente dos EUA que limita a entrada de refugiados e migrantes nos Estados Unidos.

Yates ocupava interinamente o cargo enquanto se aguarda que o Senado confirme a nomeação de Jeff Sessions, o conservador escolhido por Trump para ser procurador-geral, equivalente a ministro da Justiça. Yates questionou a constitucionalidade do decreto presidencial e insistiu na obrigação de a instituição assumir responsabilidade pela "garantia de justiça e de lutar pelo que é certo", cita a Reuters.

Em comunicado, a Casa Branca anunciou que o “Presidente Trump libertou a senhora Yates das suas funções” e acusou-a de “ter traído o Departamento de Justiça ao recusar aplicar uma ordem legal feita para proteger os cidadãos dos EUA”.

No mesmo documento, a Casa Branca justifica a decisão, afirmando que Yates "é pouco firme nas fronteiras e muito pouco firme na imigração ilegal".

Trump nomeou Dana Boente, advogado no distrito Este da Virginia, para o lugar de procurador-geral interino. Horas depois de ser nomeado, Boente afirmou que o Departamento de Justiça deve "cumprir o seu dever" e aplicar o decreto de Donald Trump que limita a entrada de refugiados e migrantes nos Estados Unidos.

O Presidente acusa ainda os democratas de estarem a atrasar o seu processo de escolhas e nomeações, por "razões políticas".

A maioria das secretarias de Estado tomou conhecimento do decreto presidencial sobre refugiados e imigração através da imprensa. Esta segunda-feira, alguns responsáveis das Secretarias de Estado fizeram circular um documento que alertava para os perigos da decisão presidencial, nomeadamente na imagem dos EUA além-fronteiras e no agravamento de sentimentos anti-americanos. Sean Spicer, o porta-voz da Casa Branca, descartou o documento. "Têm um problema com ele [decreto presidencial]? Ou o seguem ou podem ir embora", afiançou.

O “massacre de sábado à noite”

As cisões públicas entre os altos funcionários do Departamento de Justiça e a Casa Branca não são comuns. A Reuters recorda ter havido “apenas uma mão-cheia” ao longo da história dos EUA. A mais famosa das quais, dá conta a agência noticiosa, aconteceu em 1973 no decurso da investigação ao caso Watergate.

Richard Nixon, o principal visado no caso, ordenou o afastamento do procurador especial designado para o investigar. O procurador-geral, Elliot Richardson, e o seu vice discordaram do Presidente e demitiram-se. O incidente, que ficou conhecido como “Massacre de Sábado à Noite”, foi um desastre de relações públicas e é visto como um ponto de viragem na Administração Nixon, sublinha a Reuters.