Gripe e frio: mortes acima do esperado pela segunda semana consecutiva
Na semana da passagem de ano (26 de Dezembro a 1 de Janeiro) verificou-se um número anormalmente elevado de óbitos.
A mortalidade por todas as causas disparou e está acima do que seria de esperar para esta altura do ano há já duas semanas consecutivas, apesar de a intensidade da epidemia de gripe ainda ser “moderada”. O boletim de vigilância epidemiológica divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa) mostra que na semana da passagem de ano (26 de Dezembro a 1 de Janeiro) se verificou um número anormalmente elevado de óbitos.
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A mortalidade por todas as causas disparou e está acima do que seria de esperar para esta altura do ano há já duas semanas consecutivas, apesar de a intensidade da epidemia de gripe ainda ser “moderada”. O boletim de vigilância epidemiológica divulgado nesta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (Insa) mostra que na semana da passagem de ano (26 de Dezembro a 1 de Janeiro) se verificou um número anormalmente elevado de óbitos.
Na semana anterior, já se tinha observado um excesso de mortalidade, um problema que os especialistas atribuem não apenas à epidemia de gripe e ao tipo de vírus que este Inverno está a predominar e é mais agressivo para os idosos, mas também ao frio que se tem feito sentir.
A culpa, de facto, não será apenas da epidemia de gripe: a taxa de incidência até baixou na última semana face à registada na anterior (foi de 63,8 casos por 100 mil habitantes contra 113,3 casos por 100 mil na semana do Natal). Os especialistas notam que o valor médio da temperatura mínima do ar ficou nos 2,2 ºC, um “valor muito inferior ao normal pela segunda semana consecutiva”.
A subdirectora-geral da Saúde, Graça Freitas, já tinha explicado ao PÚBLICO na semana passada que era "previsível que isto acontecesse", sublinhando que a epidemia de gripe está a ter padrões semelhantes aos observados no Inverno de 2014/2015, quando ocorreu um crescimento súbito da mortalidade em geral. O tipo de vírus da gripe que predomina este ano é de novo o A (H3N2), que afecta, sobretudo, idosos com doenças crónicas e que, por isso, tem um grande impacto na mortalidade.
O pico ainda não chegou
“O pico da gripe ainda não chegou, mas os principais afectados estão a ser os doentes mais idosos com co-morbilidades, este tipo de vírus está a revelar-se muito mais agressivo nos doentes mais velhos”, reforça Carlos Robalo Cordeiro, director do serviço de pneumologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
São, enumera, pessoas com doenças pulmonares, cardíacas, com diabetes. “Esta estirpe do vírus está claramente a comprometer os mais idosos. É por isso que os hospitais estão completamente sobrelotados”, lamenta o médico.
Voltando ao boletim do Insa, nas unidades de cuidados intensivos (UCI) que reportaram dados (22), a mortalidade aumentou. Desde o início da monitorização da época gripal, em Outubro, há agora registo de 11 mortes entre os 88 casos que obrigaram a internamento em unidades deste tipo nos hospitais.
Foi mesmo necessário acccionar a reserva estratégica do antivírico zanamivir para tratar dois doentes.
Mais de 86% dos doentes internados nas UCI com complicações decorrentes da gripe (como pneumonias) tinham patologias crónicas e mais de 70% tinha idade superior a 64 anos.
Em toda a região europeia, 21 países davam nota de uma actividade gripal de baixa intensidade, enquanto 15 já estavam numa fase moderada e dois registavam uma fase de actividade elevada. A Finlândia reportou uma actividade muito elevada, o que indica uma "tendência crescente na região europeia". A esmagadora maioria dos vírus identificados e caracterizados era do subtipo A(H3N2).,
Este tipo de vírus foi, justamente, o que predominou no Inverno de 2014/2015 e também no Inverno de 2011/2012, anos em que se verificaram picos de mortalidade acima do esperado.
No primeiro caso, como mais tarde foi possível contabilizar (relatório do Programa Nacional de Vigilância da Gripe 2014/2015), registaram-se 5591 mortes acima do esperado para essa época do ano. O fenómeno verificou-se em todo o continente, à excepção do Algarve. Esse foi o Inverno com mais mortalidade em excesso observada a seguir ao de 1998/1999, em que os especialistas estimaram ter havido 8514 mortes acima do esperado, de acordo com os registos disponíveis.