Chefe dos serviços secretos contraria Trump e mantém que Rússia interferiu nas eleições dos EUA

Na próxima semana vai ser apresentado um relatório público “não classificado” mas tanto Obama como Trump vão receber as conclusões já esta sexta-feira.

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James Clapper foi ouvido numa comissão no Senado dos EUA Reuters/KEVIN LAMARQUE

O director dos serviços de informação dos EUA, James Clapper, voltou a acusar o Governo russo de ter interferido nas eleições presidenciais norte-americanas, perante uma comissão do Senado encarregue de debater as ameaças informáticas. Um relatório com as conclusões da investigação das agências de informação vai ser revelado no início da próxima semana.

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O director dos serviços de informação dos EUA, James Clapper, voltou a acusar o Governo russo de ter interferido nas eleições presidenciais norte-americanas, perante uma comissão do Senado encarregue de debater as ameaças informáticas. Um relatório com as conclusões da investigação das agências de informação vai ser revelado no início da próxima semana.

Na audiência, ficou claro que muitos republicanos partilham desta tese, não concordando com as dúvidas que o Presidente eleito, Donald Trump, tem expressado sobre o papel da Rússia. Trump tem recusado apontar responsabilidade a Moscovo, criticando várias vezes os serviços de informação norte-americanos. Na véspera, o magnata citou Julian Assange, dizendo que “um miúdo de 14 anos poderia ter pirateado o DNC” [Congresso Nacional Democrata]. Acusado de apoiar as posições do fundador da Wikileaks – responsável pela divulgação de milhões de telegramas confidenciais diplomáticos – Trump esclareceu esta quinta-feira que isso está “errado”. “Apenas transmito o que ele diz e cabe às pessoas formarem uma opinião”, afirmou, através do Twitter.

Clapper referiu-se à declaração de 7 de Outubro – em que os principais dirigentes das agências de informação norte-americanas acusaram oficialmente Moscovo de promoverem uma campanha de interferência nas eleições presidenciais – para dizer que a defende “de forma ainda mais resoluta”. “A Rússia assumiu claramente uma postura mais agressiva”, disse o responsável, em resposta às perguntas dos senadores.

Num comunicado divulgado antes da sessão da comissão, Clapper definiu a Rússia como “um actor cibernético abrangente que representa uma grande ameaça ao Governo, exército, diplomacia, comércio e infraestruturas fundamentais dos EUA”. Clapper apresentou a interferência russa como uma operação “multifacetada”, que para além da entrada no servidor do Partido Democrata, incluiu “propaganda clássica, desinformação e notícias falsas”.

Foi com base nas conclusões a que a CIA, o FBI e a NSA chegaram que o Presidente, Barack Obama, anunciou na semana passada a expulsão de 35 agentes diplomáticos russos e um pacote de sanções a alguns dirigentes implicados na interferência sobre as eleições.

Durante a campanha presidencial norte-americana, piratas informáticos entraram nos servidores do Partido Democrata e entregaram à Wikileaks emails do director de campanha de Hillary Clinton, John Podesta. O Governo russo diz que nada teve a ver com os ataques cibernéticos, mas as agências de informação norte-americanas ligam os dois grupos de hackers (conhecidos como Cozy Bear e Fancy Bear) a cada uma das secretas russas, o GRU (militar) e o FSB (sucessor do KGB).

“Todos os americanos devem ficar alarmados com os ataques russos contra o nosso país”, afirmou o senador republicano, John McCain, que preside a comissão de assuntos de segurança. Porém, garantiu que o objectivo da comissão não é “questionar o desfecho das eleições presidenciais”.

Clapper disse não ser possível medir o “impacto” que a acção russa pode ter tido no resultado eleitoral. Muitos analistas, assim como responsáveis políticos norte-americanos, dizem que Moscovo terá agido para favorecer a vitória do candidato republicano, Donald Trump, por defender uma aproximação entre os EUA e a Rússia.

Por apresentar ficam, por enquanto, as provas do envolvimento do Kremlin nos ataques informáticos. Clapper disse aos senadores que na próxima semana vai ser apresentado um relatório público “não classificado” e que tanto Obama como Trump vão receber as conclusões esta sexta-feira.