Política de imigração de Merkel sob fogo
A menos de um ano das eleições federais, os adversários da chanceler alemã estão a aproveitar o ataque de Berlim para ganhar terreno na corrida eleitoral.
Ainda não eram conhecidos todos os pormenores acerca do ataque de segunda-feira à noite contra um mercado de Natal em Berlim que matou 12 pessoas e feriu 48, e já se perfilava o embate político que promete dominar a política alemã nos próximos meses na contagem decrescente até às eleições federais.
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Ainda não eram conhecidos todos os pormenores acerca do ataque de segunda-feira à noite contra um mercado de Natal em Berlim que matou 12 pessoas e feriu 48, e já se perfilava o embate político que promete dominar a política alemã nos próximos meses na contagem decrescente até às eleições federais.
A chanceler, Angela Merkel, decidiu falar em nome dos alemães que, respondendo à sua política de portas abertas, receberam os refugiados que nos últimos anos chegaram ao país, fugindo da fome e das guerras de África e do Médio Oriente. “Seria muito difícil para nós saber que o ser humano que cometeu este acto veio para a Alemanha pedir refúgio e asilo. Seria terrível para todos os alemães que foram muito activos todos os dias a ajudar os requerentes de asilo e refugiados.”
Merkel sabe que será pela questão dos refugiados e pela segurança interna que será julgada nas eleições do próximo Outono, nas quais pretende conquistar uma maioria que lhe permita liderar o Governo num quarto mandato.
A extrema-direita, representada politicamente pela Alternativa para a Alemanha (AfD), é a principal beneficiada por acontecimentos deste género. O medo é o seu principal combustível, ao qual acrescentam a inevitável amálgama entre refugiados e terroristas. “Não podemos ter ilusões. O meio onde este tipo de crimes tem condições para florescer tem sido importado para aqui sistematicamente durante o último ano e meio”, disse a líder da AfD, Frauke Petry.
Apesar de não ter a força de partidos como a Frente Nacional, em França, ou o Partido da Liberdade, na Holanda, a AfD tem conseguido resultados animadores para os seus apoiantes. Desde que foi fundado, em 2013, o partido conseguiu assegurar representação nos parlamentos de dez regiões, ficando até à frente da CDU no Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, conhecido por ser o bastião de Merkel.
O partido está longe de reunir condições para chegar ao poder – as sondagens mais recentes atribuem entre 10 e 12% das intenções de voto. Mas o potencial do medo como factor de decisão política existe. Em Julho, 73% dos alemães escolheram o terrorismo como a principal preocupação, numa sondagem que inquiriu 2400 pessoas. Porém, o mesmo estudo mostra que a segunda preocupação mais presente é o extremismo político. Ou seja, os alemães têm medo, mas não confiam na extrema-direita para tornar o país mais seguro.
O principal problema para Merkel pode estar mais próximo do que seria de esperar. “É possível que a ala dura dos conservadores alemães procure obter concessões [da parte da chanceler] sobre questões de segurança e imigração”, disse à AFP o analista do German Marshall Fund, Christian Moelling. O líder da CSU, o partido que representa os conservadores na Baviera, Horst Seehofer, já veio pedir mudanças nestas áreas.