Extrema-direita derrotada nas presidenciais austríacas
O ecologista Alexander Van der Bellen está à frente com 53,3% contra 46,7% de Norbert Hofer, da extrema-direita.
O candidato ecologista Alexander Van der Bellen venceu as presidenciais austríacas, segundo os primeiros resultados, derrotando Nobert Hofer, do Partido da Liberdade, de extrema-direita.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O candidato ecologista Alexander Van der Bellen venceu as presidenciais austríacas, segundo os primeiros resultados, derrotando Nobert Hofer, do Partido da Liberdade, de extrema-direita.
Os primeiros resultados davam a Van der Bellen 51,3% dos votos, contra 48,7% de Hofer. A Áustria será assim o primeiro país europeu com um Presidente de um partido ecologista – quando se temia que fosse o primeiro a ter um chefe de Estado de extrema-direita após a II Guerra Mundial.
Hofer reconheceu a derrota no Facebook, dando os parabéns a Van der Bellen e apelando à unidade dos austríacos.
Mas a diferença entre os dois candidatos e os dois campos notou-se logo nas primeiras declarações após os resultados. Enquanto Van der Bellen disse esperar que o actual Governo, uma coligação entre conservadores e sociais-democratas, durasse até às próximas legislativas, previstas para 2018, o candidato da extrema-direita afirmou não acreditar que “o Governo se mantenha muito tempo”, cita o diário austríaco Der Standard. E já anunciou que quer candidatar-se nas próximas presidenciais, em 2022.
As presidenciais, cuja segunda volta se repetiu hoje depois de uma novela de irregularidades, anulação do resultado, marcação da repetição e o seu adiamento, por problemas como atrasos na contagem de votos ou falta de cola em boletins dos votos por correspondência, foram completamente atípicas: a primeira volta terminou com o afastamento dos candidatos dos dois principais partidos, os conservadores e sociais-democratas, que normalmente dominam eleições com grandes percentagens. Por exemplo, o Presidente anterior, o social-democrata Heinz Fischer, foi eleito com 79% dos votos em 2010. Desta vez, ambos os candidatos apareciam com cerca de 50% nas sondagens e na eleição declarada nula Van der Bellen venceu com apenas 50,3% contra 49,7% de Hofer. A margem de Van der Bellen parece ter sido, desta vez, um pouco maior.
Ambos são os candidatos de partidos vistos como das franjas, a extrema-direita e os Verdes. Na verdade, a etiqueta de franja é mais difícil de colar neste momento ao Partido da Liberdade (FPÖ), que participou no Governo em 2000-2005 sob a liderança da Jörg Haider (que morreu num acidente de automóvel em 2008, já depois de ter deixado o partido), caiu depois num período menos popular, mas recuperou, e está à frente nas sondagens para as próximas legislativas (que não têm data marcada mas terão de se realizar antes de 2018).
Mas a posição de franja é definitivamente o caso dos Verdes, que nas últimas legislativas ficaram em quarto lugar com 12,5% dos votos, e antes disso tinham tido sempre menos de 10%.
Esta eleição, após a vitória do populista Donald Trump nos Estados Unidos e do voto dos britânicos para sair da União Europeia, deixou muitos na Europa a temer as consequências da vitória de um candidato de um partido anti-sistema para um dos mais altos cargos de um país da UE. Hofer começou por propor um referendo à permanência da Áustria na União Europeia mas recuou na ideia, já Van der Bellen é um europeísta convicto.
O político dos Verdes Werner Kogler falou de “uma pequena mudança global nestes tempos incertos, para não dizer histéricos e por vezes mesmo estúpidos”.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, esteve entre os primeiros a dar os parabéns a Van der Bellen pela vitória, "que mostram que o populismo não é uma fatalidade para a Europa", já Marine Le Pen, da Frente Nacional, deu os parabéns ao FPÖ com votos de que "as próximas legislativas sejam as da sua vitória" - o partido continua a ser o primeiro nas sondagens.
Olhando já para as legislativas, o director do jornal Die Presse, Rainer Nowak, afirmou que desta vez, "as forças da República usaram todos os seus recursos e uniram-se contra a extrema-direita" – mas avisou que isso não funcionará da próxima vez.