Trump entrega justiça e segurança à direita mais radical
Escolhas do Presidente eleito para procurador geral, director da CIA e conselheiro de segurança nacional são conhecidos por posições muito duras sobre imigração e combate ao terrorismo.
Os principais postos da próxima Administração norte-americana continuam por preencher – Donald Trump vai reunir-se no fim-de-semana com potenciais candidatos aos cargos de secretários de Estado e da Defesa –, mas o Presidente eleito entregou já posições-chave nas áreas da segurança nacional e justiça à ala mais à direita dos republicanos.
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Os principais postos da próxima Administração norte-americana continuam por preencher – Donald Trump vai reunir-se no fim-de-semana com potenciais candidatos aos cargos de secretários de Estado e da Defesa –, mas o Presidente eleito entregou já posições-chave nas áreas da segurança nacional e justiça à ala mais à direita dos republicanos.
Em comum, o senador Jeff Sessions (nomeado procurador-geral), o congressista Mike Pompeo (director da CIA) e o general Michael T. Flynn (conselheiro de Segurança Nacional) têm a experiência militar, a defesa de políticas duras para a imigração e o combate terrorismo, e afirmações que no passado cruzaram, por várias vezes, a fronteira do racismo.
O entra e sai frenético da última semana na Trump Tower em Nova Iorque, transformada em quartel-general do Presidente eleito tem sido intensamente escrutinado pelos jornalistas e diplomatas estrangeiros, na esperança de apurar quem fará parte do governo de Trump e, com isso, perceber quanto da retórica de campanha se vai transformar em política oficial.
E se as primeiras nomeações indicavam uma vontade de conciliar o pragmatismo do establishment republicano (Reince Priebus será chefe de gabinete) com o radicalismo da sua equipa mais próxima (Stephen Bannon vai ser conselheiro principal da Casa Branca) é a segunda facção que sai reforçada com as escolhas anunciadas nesta sexta-feira.
É o caso de Flynn, um general de três estrelas com um longo currículo nos serviços secretos militares, que se tornou um dos mais influentes conselheiros do candidato republicano e irá agora ocupar um posto crucial na definição da estratégica diplomática e militar do próximo Presidente. Um militar que, depois de em 2014 ter sido afastado pelo Presidente Barak Obama da direcção da Agência de Informação de Defesa (DIA) se tornou um crítico ácido da estratégia internacional da actual Administração, a quem acusa de não perceber que “o terrorismo radical islâmico” representa uma ameaça existencial para os EUA.
Percorreu o país em campanha com Trump – a imprensa americana recordou que nos comícios liderava o coro dos que exigiam a prisão de Hillary Clinton – e é visto como um dos promotores da ideia, várias vezes sugerida pelo candidato, de que Washington tem de encontrar aliados fortes – a Rússia, mas também o Egipto ou até mesmo o regime sírio de Bashar al-Assad – para derrotar o Daesh. Mas Flynn vai mais longe, afirmando que a ameaça não está apenas nos extremistas armados, mas no próprio islão, ao qual se referiu como “um cancro” e uma “ideologia política que se esconde atrás da noção de religião”.
Não é menos controversa a escolha de Sessions, para chefiar o Departamento de Justiça. Senador pelo Alabama há 20 anos, é um dos parlamentares com uma posição mais dura sobre a imigração – opôs-se às propostas de Obama para regularizar a situação de milhões de latino-americanos que vivem ilegalmente nos EUA e é um dos grandes defensores da promessa feita por Trump de construir um muro na fronteira com o México.
Nada contra o Klan
No comunicado em que confirma as nomeações, o Presidente eleito descreve Sessions como “uma mente jurídica de classe mundial”, recordando que foi procurador federal e procurador-geral do Alabama. Mas no currículo, o senador tem um feito muito menos louvável. Em 1986 a sua nomeação para juiz federal foi chumbada por uma comissão do Senado, então dominada pelos republicanos, por causa de acusações de racismo – terá chamado “boy” a um procurador negro e outros ex-colegas contaram que catalogou de “antiamericanas” várias associações de direitos cívicos e terá dito que não tinha nada contra o Ku Klux Klan “até descobrir que eles fumavam marijuana”.
Acusações que Sessions sempre repudiou, mas que voltarão a ser ouvidas durante as audições no Senado, que tem o poder de vetar os nomes propostos para a Administração, com excepção dos conselheiros do Presidente. “Enquanto principal responsável pelo sistema judicial da nação, o procurador-geral é o responsável pela protecção dos direitos de todos os americanos”, reagiu a associação de direitos cívicos ACLU, prometendo não deixar passar em claro as declarações de Sessions sobre as minorias e as organizações que a defendem.
O trio de nomeações completa-se com Pompeo, congressista do Kansas que integrou a primeira leva de membros do movimento ultraconservador Tea Party a serem eleitos para a Câmara dos Representantes em 2010.
Veterano do Exército como os outros três nomeados integrou a comissão que investigou o ataque de 2012 ao consulado norte-americano em Bengasi, quando Hillary Clinton era secretária de Estado, e é, tal como Flynn, um crítico do acordo nuclear com o Irão. “Estou ansioso por anular esse acordo desastroso com o principal patrocinador do terrorismo”, escreveu no Twitter ainda antes de se saber que era ele a escolha de Trump para chefiar a agência de serviços secretos.
Pompeo é ainda um apoiante do programa de vigilância e recolha de dados montados pela Agência de Segurança Nacional (NSA) e um opositor da promessa feita por Obama de encerrar a prisão de Guantánamo, em Cuba. Em 2013 seria acusado de islamofobia, quando, no rescaldo do atentado contra a maratona de Boston, acusou os líderes muçulmanos de serem “potencialmente cúmplices” por não se terem unido para repudiar os atentados cometidos em nome da religião.