Cerca de 300 milhões de crianças correm risco de vida pelo ar que respiram
Relatório da Unicef apela aos líderes mundiais para que actuem para reduzir a poluição atmosférica, que mata mais crianças que a malária.
Cerca de 300 milhões de crianças em todo o mundo respiram um ar com níveis de poluição seis vezes ou mais acima dos limites recomendados internacionalmente. O ar é tão poluído que podem sofrer danos físicos, incluindo no cérebro em desenvolvimento, alerta um estudo da Unicef divulgado nesta segunda-feira.
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Cerca de 300 milhões de crianças em todo o mundo respiram um ar com níveis de poluição seis vezes ou mais acima dos limites recomendados internacionalmente. O ar é tão poluído que podem sofrer danos físicos, incluindo no cérebro em desenvolvimento, alerta um estudo da Unicef divulgado nesta segunda-feira.
“A poluição do ar é um dos principais factores que contribuem para a morte anual de cerca de 600.000 crianças menores de cinco anos – e uma ameaça para a vida e o futuro de milhões de crianças,” afirmou Anthony Lake, director-executivo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
São mais as mortes de crianças todos os anos devido à poluição atmosférica do que os números combinados das mortes de crianças devido à sida e à malária, sublinha Anthony Lake, no prefácio do relatório da Unicef. Estas mortes representam um custo de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial – e está a agravar-se.
Os pulmões das crianças estão ainda a desenvolver-se, tal como o seu sistema imunitário, em especial quando são mais jovens. Por isso, a poluição atmosférica, em especial em níveis tão elevados, têm efeitos especialmente maus e duradores. Alguns estudos, citados pelo relatório da Unicef, mostarm que a capacidade respiratória dos pulmões de crianças que viveram em ambientes poluídos ficou reduzida em 20%. Além disso, são famílias pobres, que têm pouco acesso a cuidados de saúde e alimentação adequada, que mais estão sujeitas a estas más condições ambientais, o que agrava a situação.
A Unicef publicou este estudo uma semana antes do início da conferência da ONU sobre o clima, a COP22, em Marraquexe, Marrocos, de 7 a 18 de Novembro, e antes da entrada em vigor do Acordo de Paris sobre o clima – que deverá acontecer já a 4 de Novembro, depois de o mínimo necessário de países terem ratificado o documento. É uma oportunidade para renovar o apelo aos líderes mundiais para que ajam imediatamente para reduzir a poluição atmosférica.
O relatório Clear the air for children utiliza imagens recolhidas via satélite para mostrar pela primeira vezonde vivem e quantas crianças estão expostas a poluição atmosférica que excede os níveis internacionais definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As imagens de satélite confirmam que cerca de 2000 milhões de crianças vivem em zonas onde a poluição atmosférica, causada por factores como as emissões de veículos, a utilização de combustíveis fósseis pesados, as poeiras e a queima de lixos, excede os limites de qualidade mínima do ar definidas pela OMS.
É na Ásia do Sul que se encontra o maior número de crianças, 620 milhões, a viver nestas circunstâncias. Segue-se África, com 520 milhões. Na região da Ásia Oriental e Pacífico 450 milhões vivem em zonas que excedem os limites estabelecidos.
O estudo analisa também os efeitos nefastos da poluição do ar em espaços fechados, causada sobretudo pelo uso de combustíveis como carvão e madeira para cozinhar e aquecimento, que afecta sobretudo as crianças de agregados familiares de baixo rendimento em zonas rurais.
Em conjunto, a poluição atmosférica e a poluição do ar em espaços fechados estão directamente relacionadas com doenças como a pneumonia e outras do foro respiratório, que são causa de morte de perto de uma em cada dez crianças menores de cinco anos, o que torna a poluição do ar num dos principais riscos para a saúde das crianças.