Os republicanos que eram anti-Trump antes de isso ser moda
Há meses que nomes como Mitt Romney e John Kasich vêm criticando o candidato. E muitos outros foram fechando os olhos por estratégia ou em nome da união do partido.
O vídeo revelado sexta-feira pelo jornal Washington Post foi a gota de água para muitos actuais e antigos líderes do Partido Republicano que já não estavam confortáveis na pele de apoiantes do candidato, mas não é verdade que a revolta só tenha surgido agora, por causa de declarações gravadas em 2005.
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O vídeo revelado sexta-feira pelo jornal Washington Post foi a gota de água para muitos actuais e antigos líderes do Partido Republicano que já não estavam confortáveis na pele de apoiantes do candidato, mas não é verdade que a revolta só tenha surgido agora, por causa de declarações gravadas em 2005.
Até à nomeação de Donald Trump como candidato oficial do partido, na convenção que decorreu na cidade de Cleveland, entre 17 e 21 de Julho, pelo menos 145 actuais e antigos líderes ou funcionários de outras Administrações republicanas manifestaram o seu repúdio em relação ao magnata.
Desde a noite da passada sexta-feira, mais 43 anunciaram que ou continuam a não apoiar o candidato, ou deixaram de apoiá-lo, incluindo nomes importantes como os do senador John McCain, a antiga secretária de Estado Condoleezza Rice, o governador John Kasich e o antigo governador da Califórnia e actor, Arnold Schwarzenneger.
Kasich, actual governador do Ohio, fez questão de não estar presente na convenção que consagrou Donald Trump, e que decorreu no seu estado – uma decisão que causou muita polémica e a que poucos nomeados se tinham sujeitado no passado, quer no Partido Republicano, quer no Partido Democrata.
A esta lista ainda não se juntaram (e não há nada que indique que venham a juntar-se) outros importantes líderes que sempre se mostraram desconfortáveis com a nomeação de Donald Trump, mas que, ainda assim, recomendaram o voto nele em nome da união do partido – ou porque têm importantes eleições para o Congresso em Novembro.
Neste grupo está Paul Ryan, o speaker da Câmara dos Representantes (a câmara baixa do Congresso norte-americano), que é, por inerência, o segundo na lista de sucessão do Presidente norte-americano, a seguir ao vice-presidente. Ryan, que concorreu a vice-presidente ao lado de Mitt Romney em 2012, é um conservador que tem conseguido construir pontes com o Partido Democrata no Congresso, e apresenta-se como um republicano na tradição de Ronald Reagan – o que hoje em dia é entendido como o oposto da campanha de Donald Trump no interior do Partido Republicano.
Apesar de não ter retirado o apoio ao nomeado, Ryan criticou duramente as palavras que se ouvem no vídeo revelado sexta-feira e já tinha feito o mesmo quando Donald Trump propôs a proibição da entrada de qualquer muçulmano nos EUA. No início de Maio, o republicano que ocupa actualmente o cargo mais elevado no país disse mesmo que ainda não estava preparado para apoiar Donald Trump – veio a fazê-lo um mês mais tarde, após negociações com a liderança do partido, mas essa indecisão foi inédita na história recente das campanhas presidenciais nos EUA.
Também Mitt Romney não esperou pela divulgação do plémico vídeo para atacar Donald Trump. Logo em Março, o candidato a Presidente pelo Partido Republicano em 2012 fez um violento discurso anti-Trump, em que o denunciou como sendo "uma fraude": "Deixem-me dizer-vos com clareza. Se nós, republicanos, escolhermos Donald Trump como nosso nomeado, as possibilidades de um futuro seguro e próspero ficarão muito diminuídas. As políticas internas dele levariam à recessão. As suas políticas externas fariam da América e do mundo lugares menos seguros. Ele não tem nem temperamento nem discernimento para ser Presidente."