Republicanos fartos de "surpresas de Outubro" todos os meses querem Trump fora da corrida

Vídeo em que o nomeado do Partido Republicano fala dos seus avanços sexuais foi a gota de água. A sua mulher, Melania Trump, diz que as declarações são "ofensivas e inaceitáveis", mas aceitou as desculpas.

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Líder da Câmara dos Representantes acusou Trump de se referir às mulheres como objectos Mike Segar/Reuters

Alguns dos principais líderes do Partido Republicano voltaram este fim-de-semana a sentir um calafrio na espinha por terem declarado o seu apoio a Donald Trump, depois de o jornal Washington Post ter revelado um vídeo em que o candidato descreve, em termos vulgares, a estratégia que usa para ter relações sexuais com qualquer mulher que aparece no seu radar. Até o seu parceiro na corrida à Casa Branca, o governador Mike Pence, disse ter ficado ofendido, mas deu-lhe uma palmada nas costas por ter pedido desculpa.

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Alguns dos principais líderes do Partido Republicano voltaram este fim-de-semana a sentir um calafrio na espinha por terem declarado o seu apoio a Donald Trump, depois de o jornal Washington Post ter revelado um vídeo em que o candidato descreve, em termos vulgares, a estratégia que usa para ter relações sexuais com qualquer mulher que aparece no seu radar. Até o seu parceiro na corrida à Casa Branca, o governador Mike Pence, disse ter ficado ofendido, mas deu-lhe uma palmada nas costas por ter pedido desculpa.

"Sinto-me automaticamente atraído pela beleza. Começo logo a beijá-las, é como um íman. Dou-lhes logo um beijo, nem espero. Quando se é uma estrela, elas deixam-te fazer isso. Podes fazer tudo. Agarrá-las pela rata. Podes fazer tudo", diz o candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano num vídeo gravado em 2005, poucos meses depois de se ter casado com a terceira e actual mulher, Melania Trump.

Numa conversa a bordo de um autocarro com Billy Bush, primo de Jeb e George W. Bush e então apresentador do programa de entretenimento Access Hollywood, Trump descreve também como tentou ter relações sexuais com uma mulher casada, cuja identidade não foi revelada: "Tentei fodê-la, e ela era casada. Atirei-me com tudo, levei-a às compras. Ela queria comprar móveis e eu disse-lhe que ia mostrar-lhe uns móveis bem bons. Atirei-me a ela com toda a força, mas não consegui nada. E ela era casada."

Não é surpresa para ninguém que Donald Trump descobriu a fórmula mágica para escapar sem um arranhão a qualquer escândalo entre a sua base de apoio – disse que o senador republicano John McCain não pode ser considerado um herói de guerra porque foi capturado na guerra do Vietname; propôs fechar a porta dos Estados Unidos a todos os muçulmanos e criar uma base de dados para controlar os que já lá estão; classificou como "brilhante" o facto de ter aproveitado os buracos na política fiscal norte-americana para escapar ao pagamento de impostos federais durante pelo menos 18 anos.

Na política norte-americana há uma expressão para uma notícia ou um acontecimento que surge no mês anterior às eleições para Casa Branca e que pode destroçar a campanha de um dos principais candidatos: é a "Surpresa de Outubro". Só este mês, Trump já teve duas dessas surpresas (a questão dos impostos, revelada pelo New York Times, e, agora, a conversa sobre os seus avanços sexuais, revelada pelo Washington Post), e os seus apoiantes mais fervorosos não arredam pé.

Para já, sabe-se que a candidatura de Trump sofreu um duro golpe com o próprio John McCain, candidato republicano à Casa Branca em 2008, a retirar-lhe formalmente o seu apoio. "Quis apoiar o candidato que o nosso partido nomeou", disse McCain. "Porém, o comportamento de Donald Trump nesta semana, com a divulgação dos seus comentários humilhantes sobre as mulheres e a sua gabarolice sobre as tentativas de avanços sexuais fazem com que seja impossível" continuar a apoiá-lo, afirmou o senador.

O problema do candidato não é só o risco de perder apoios – é o risco, cada vez maior, de não alargar essa base de apoio e convencer indecisos em número suficiente para ultrapassar Hillary Clinton na média das sondagens nacionais e manter-se por lá até ao dia 8 de Novembro.

Melania ofendida mas aceita desculpas

A reacção de muitos eleitores de Donald Trump ao vídeo resumiu-se numa mesma ideia repetida por palavras diferentes: era uma conversa privada entre homens, e quem diz que nunca falou assim sobre mulheres é hipócrita. Só que nem todos os que falam assim estão a candidatar-se a Presidente dos Estados Unidos da América, e o vídeo provocou reacções muito duras no topo do Partido Republicano contra o seu próprio nomeado – e também da mulher do candidato, Melania Trump: "As palavras do meu marido são ofensivas e inaceitáveis. Não representam o homem que eu conheço." Ainda assim, Melania Trump diz que aceitou o pedido de desculpa do marido e pediu aos eleitores "que se concentrem nos temas importantes que o país e o mundo enfrentam".

As palavras mais duras foram as do speaker da Câmara dos Representantes, Paul Ryan – o segundo na linha de sucessão do Presidente, depois do vice-presidente, e um dos líderes do Partido Republicano que mais sapos engoliu para anunciar o seu apoio a Donald Trump, depois de um período de reflexão de quase um mês, entre 4 de Maio e 2 de Junho.

"As mulheres devem ser defendidas e apoiadas, e não tratadas como objectos. Espero que o sr. Trump trate a sua questão com a seriedade que ela merece, e que trabalhe para mostrar ao país que tem mais respeito pelas mulheres do que aquilo que o vídeo sugere", disse Ryan.

O líder da câmara baixa do Congresso norte-americano não chegou a retirar o seu apoio a Trump, ao contrário do que aconteceu a outras figuras do partido, principalmente os representantes do estado do Utah, profundamente conservador devido ao peso do mormonismo – durante as eleições primárias, que acabou por dominar, Trump ficou em 3.º lugar no Utah, atrás do senador Ted Cruz e do governador John Kasich. O companheiro de Donald Trump na corrida à Casa Branca, Mike Pence, conhecido pelas suas posições ultraconservadoras, sentiu-se ofendido com as palavras do candidato do Partido Republicano, e disse que siplesmente não pode defendê-las. Ainda assim, Pence mostrou-se agradado com o facto de Trump se ter "mostrado arrependido" e por ter pedido desculpas.

Farto de um candidato que nunca apoiou e que vê como uma ameaça aos seus valores morais, o senador republicano Mike Lee, do Utah, pediu mesmo que Donald Trump se retire da campanha e que dê lugar a outro. "É você mesmo, sr. Trump, que tem declarado repetidamente que o objectivo é derrotar Hillary Clinton em Novembro. Não posso estar mais de acordo. Sr. Trump, peço-lhe com todo o respeito que se afaste. Desista. Permita que outra pessoa defenda estes princípios", disse o senador Mike Lee.

Ainda mais longe foram o actual governador do Utah, Gary Herbert, e o seu antecessor, John Huntsman, dois republicanos que tinham recomendado o voto em Donald Trump.

"As declarações de Donald Trump são mais do que ofensivas e desprezíveis. Apesar de não conseguir votar em Hillary Clinton, não vou votar em Donald Trump", disse Herbert. Em declarações ao jornal Salt Lake Tribune, Huntsman descreveu a actual campanha eleitoral como "uma corrida em direcção ao fundo", e disse que "chegou a hora de o governador Pence liderar a candidatura".

Mas as recriminações não se limitaram ao conservador Utah. Da Florida, o congressista republicano Carlos Curbelo disse que se sentiu "enojado". "Não quero ouvir ninguém a falar daquela forma sobre a minha mulher, as minhas filhas, ou qualquer outra mulher. É indesculpável."

E a lista continua, com muitos dos suspeitos do costume – os republicanos que sempre avisaram que a nomeação de Trump seria má para o partido, como Mitt Romney, John Kasich e George Pataki. Até o senador da Florida, Marco Rubio, que depois de umas primárias violentas acabou por aparecer nos ecrãs da convenção do Partido Republicano, em Julho, para apoiar Donald Trump, sentiu necessidade de repreender o candidato: "Os comentários do Donald foram vulgares, escandalosos e impossíveis de justificar. Ninguém deve falar daquela forma sobre nenhuma mulher, nem mesmo em privado."

O senador do Texas, Ted Cruz, também aproveitou para dar uma palmada nas mãos do candidato – ele que foi à convenção do Partido Republicano desafiar Trump ao dizer que os eleitores deveriam votar segundo a sua consciência, mas recentemente declarou o seu apoio a Donald Trump: "Estes comentários são perturbadores e impróprios, não têm nenhuma desculpa."

Em sua defesa, o apresentador Billy Bush disse que se sente "embaraçado e envergonhado", mas lembra que a conversa aconteceu há 11 anos: "Eu era mais novo, menos maduro, e cometi o erro de me deixar ir pela conversa", justificou Bush, que na altura da gravação tinha 33 anos.

O pedido de desculpa de Donald Trump foi mais solene, com direito a uma comunicação em vídeo partilhada nas redes sociais, mas também veio acompanhada por uma justificação – e com um bónus: um ataque ao casal Bill e Hillary Clinton.

"Eu nunca disse que sou uma pessoa perfeita, nem faço de conta que sou uma pessoa que não sou. Diz e fiz coisas de que me arrependo, e as palavras reveladas naquele vídeo com mais de uma década são uma delas", disse Trump. Depois de um pedido de desculpa e de prometer que será "um homem melhor" a cada dia que passa, veio o grande "mas": "Disse disparates, mas há uma grande diferença entre palavras e as acções de outras pessoas. Bill Clinton abusou de mulheres e a Hillary atacou, envergonhou e intimidou as vítimas dele. Vamos discutir mais este assunto nos próximos dias", avisouTrump, deixando antever um segundo debate muito quente com Hillary Clinton na noite deste domingo.