O diplomata que adora o “terreno”

Antes de chegar ao topo da diplomacia mundial, António Guterres teve uma carreira internacional intensa, com destaque para os dez anos no ACNUR.

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Guterres durante uma visita a um centro de refugiados na Somália, em 2011 Thomas Mukoya/Reuters

O mais óbvio seria apontar a presidência do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 2005, como o ponto de partida da carreira diplomática de António Guterres. Mas, em 1983, torna-se presidente da Comissão Parlamentar de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, antevendo já a apetência para os temas relacionados com os direitos humanos e com o diálogo entre os povos.

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O mais óbvio seria apontar a presidência do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 2005, como o ponto de partida da carreira diplomática de António Guterres. Mas, em 1983, torna-se presidente da Comissão Parlamentar de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, antevendo já a apetência para os temas relacionados com os direitos humanos e com o diálogo entre os povos.

Entre 1995 e 2000, Guterres preside à Internacional Socialista, que reúne mais de 160 partidos social-democratas de todo o mundo, seguindo as pisadas do alemão Willy Brandt. Esta experiência veio pôr à prova a sua capacidade em promover o diálogo diplomático, ao sentar no mesmo fórum o Partido Trabalhista israelita e a Fatah palestiniana. Como primeiro-ministro, exerce influência diplomática para lançar as bases para a independência de Timor-Leste, conseguida em Maio de 2002, e encabeça o processo de transferência de soberania de Macau para a China, em 1999. É também durante a sua chefia do Governo que Portugal assume a presidência rotativa do Conselho da União Europeia.

Quando foi questionado sobre uma possível candidatura à Presidência da República, Guterres disse não querer ser “árbitro”. “Eu gosto da acção, do terreno, de coisas que me obriguem a intervir permanentemente.” Foi essa vontade que o levou a um dos palcos mais activos na política internacional e humanitária da última década.

A nomeação como presidente do ACNUR projectou definitivamente a vertente diplomática de Guterres. São dez anos em que o mundo vê estalar uma crise de refugiados sem precedentes desde a II Guerra Mundial. A guerra na Síria e a violência no Iraque e no Afeganistão levam milhões de pessoas a tentar chegar à Europa, arriscando, e muitas vezes perdendo, a vida na travessia do Mar Mediterrâneo. No ACNUR, Guterres torna-se bastante interventivo e raramente perde uma oportunidade para chamar à responsabilidade os países mais ricos que preferem fechar os olhos à crise humanitária às suas portas.

Durante a corrida a secretário-geral, o Wall Street Journal teceu fortes críticas aos mandatos de Guterres à frente do ACNUR, sobretudo do ponto de vista da gestão administrativa. Porém, na proposta de candidatura à liderança da ONU é dito que Guterres liderou uma “reforma estrutural profunda” da agência, conseguindo uma redução do número de funcionários e dos custos operacionais.