Lavrov acusa EUA de estarem a proteger a Frente al-Nusra
Ofensiva aérea russa na Síria começou há um ano. Moscovo afirma que não está a usar" munições proibidas pela ONU" em Alepo.
Na guerra de trincheiras em que se transformaram os esforços diplomáticos para tentar ressuscitar o cessar-fogo na Síria, o ministro dos Negócios Estrangeiros russos disparou nesta sexta-feira uma nova salva, ao acusar os Estados Unidos de terem minado o acordo negociado entre os dois países no início do mês com o objectivo de poupar os jihadistas da Frente al-Nusra, até há pouco o braço da Al-Qaeda na Síria.
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Na guerra de trincheiras em que se transformaram os esforços diplomáticos para tentar ressuscitar o cessar-fogo na Síria, o ministro dos Negócios Estrangeiros russos disparou nesta sexta-feira uma nova salva, ao acusar os Estados Unidos de terem minado o acordo negociado entre os dois países no início do mês com o objectivo de poupar os jihadistas da Frente al-Nusra, até há pouco o braço da Al-Qaeda na Síria.
Em entrevista à BBC, no primeiro aniversário do início da ofensiva aérea russa na Síria, Sergei Lavrov repetiu que EUA não cumpriu a promessa de convencer os grupos rebeldes sírios que eles e os seus aliados apoiam a distanciar-se das facções jihadistas, mais bem armadas e treinadas. Levando mais longe as acusações, o chefe da diplomacia russa acusou Washington de “não ter sido capaz ou de ter querido” forçar esta separação. “Acreditamos que o plano era poupar a Al-Nusra. Eles nunca tocaram na Al-Nusra em nenhum lado”.
A separação era essencial para que se passasse à segunda fase do plano de cessar-fogo, que previa a criação de um centro conjunto entre russos e americanos para coordenar as suas operações militares na Síria – os ataques aéreos da coligação liderada pelos EUA têm por único objectivo os jihadistas do Estado Islâmico, a Rússia ataca em simultâneo os extremistas, concentrados no Nordeste do país, e a rebelião síria que o Presidente Bashar al-Assad classifica igualmente como “terroristas”.
Washington insistiu, no entanto, que só iria coordenar as suas operações com a Rússia quando Assad permitisse, tal como estava igualmente previsto no acordo, a entrada de ajuda humanitária em todas as zonas cercadas pelo Exército, incluindo os bairros do Leste de Alepo, o que não chegou a acontecer. E o cessar-fogo acabou por ruir ainda antes do fim do prazo, abalado primeiro por um ataque da coligação americana a uma base do Exército sírio em Deir Ezzor que Washington assumiu como um erro, e enterrado depois com o bombardeamento de uma coluna de camiões do Crescente Vermelho que se dirigiam para Alepo, num ataque que os ocidentais atribuíram à aviação russa.
Apesar das acusações, Lavrov insiste que a Rússia ainda não desistiu do plano de cessar-fogo, tema de uma nova conversa agendada para esta sexta-feira com o seu homólogo norte-americano, John Kerry para discutir.
Na entrevista, Lavrov defendeu os bombardeamentos contra os bairros do Leste de Alepo, em poder da rebelião, insistindo que a aviação russa continuará a apoiar as forças governamentais sírias “a lutar contra os terroristas”. Segundo a ONU, só na última semana os ataques terão feito 400 mortos.
Questionado sobre o uso de bombas de fragmentação e munições com fósforo, Lavrov assegurou que os aviões russos “não estão a usar munições que sejam proibidas pelas Nações Unidas”. Descartou a hipótese de investigações internacionais, assegurando que “não qualquer prova significativa” das acusações feitas pela oposição síria e, se em alguma ocasião foram lançadas munições indevidas, a “Rússia pede muita desculpa”.
No aniversário da intervenção russa, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, próximo da oposição e com uma rede de activistas no país, afirmou que em 12 meses os ataques da aviação de Moscovo mataram perto de 9400 pessoas, das quais 3800 eram civis. O grupo não revela como distingue os bombardeamentos russos dos conduzidos pelos aviões sírios, mas admite que o número de mortos “pode ser mais elevado”.